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Redação do ENEM — Exemplo 1

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Redação do ENEM — Exemplo 1

Índice | 📘 Frei Egídio | 📕 Messias Pedreiro

Texto

  • Tema: Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil
  • Autor: Luís Felipe Alves Paiva de Brito

O poeta modernista Oswald de Andrade relata, em “Erro de Português”, que, sob um dia de chuva, o índio foi vestido pelo português — uma denúncia à aculturação sofrida pelos povos indígenas com a chegada dos europeus ao território brasileiro. Paralelamente, no Brasil atual, há a manutenção de práticas prejudiciais não só aos silvícolas, mas também aos demais povos e comunidades tradicionais, como os pescadores. Com efeito, atuam como desafios para a valorização desses grupos a educação deficiente acerca do tema e a ausência do desenvolvimento sustentável.

Diante desse cenário, existe a falta da promoção de um ensino eficiente sobre as populações tradicionais. Sob esse viés, as escolas, ao abordarem tais povos por meio de um ponto de vista histórico eurocêntrico, enraízam no imaginário estudantil a imagem de aborígenes cujas vivências são marcadas pela defasagem tecnológica. A exemplo disso, há o senso comum de que os indígenas são selvagens, alheios aos benefícios do mundo moderno, o que, consequentemente, gera um preconceito, manifestado em indagações como “o índio tem ‘smartphone’ e está lutando pela demarcação de terras?” — ideia essa que deslegitima a luta dos silvícolas. Entretanto, de acordo com a Teoria do Indigenato, defendida pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, o direito dos povos originais à terra é inato, sendo anterior, até, à criação do Estado brasileiro. Dessa forma, por não ensinarem tal visão, os colégios fomentam a desvalorização das comunidades tradicionais, mediante o desenvolvimento de um pensamento discriminatório nos alunos.

Além disso, outro desafio para o reconhecimento desses indivíduos é a carência do progresso sustentável. Nesse contexto, as entidades mercadológicas que atuam nas áreas ocupadas pelas populações tradicionais não necessariamente se preocupam com a sua preservação, comportamento no qual se valoriza o lucro em detrimento da harmonia entre a natureza e as comunidades em questão. À luz disso, há o exemplo do que ocorre aos pescadores, cujos rios são contaminados devido ao garimpo ilegal, extremamente comum na Região Amazônica. Por conseguinte, o povo que sobrevive a partir dessa atividade é prejudicado pelo que a Biologia chama de magnificação trófica, quando metais pesados acumulam-se nos animais de uma cadeia alimentar — provocando a morte de peixes e a infecção de humanos por mercúrio. Assim, as indústrias que usam os recursos naturais de forma irresponsável não promovem o desenvolvimento sustentável e agem de maneira nociva às sociedades tradicionais.

Portanto, é essencial que o governo mitigue os desafios supracitados. Para isso, o Ministério da Educação — órgão responsável pelo estabelecimento da grade curricular das escolas — deve educar os alunos a respeito dos empecilhos à preservação dos indígenas, por meio da inserção da matéria “Estudos Indigenistas” no ensino básico, a fim de explicar o contexto dos silvícolas e desconstruir o preconceito. Ademais, o Ministério do Desenvolvimento —pasta instituidora da Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais — precisa fiscalizar as atividades econômicas danosas às sociedades vulneráveis, visando à valorização de tais pessoas, mediante canais de denúncias.

Comentário do INEP

Com excelente domínio das convenções da escrita e de estruturação sintática dos períodos, o texto do participante apresenta apenas um desvio no terceiro parágrafo: pronome “se” indevidamente colocado em posição enclítica no trecho “quando metais pesados acumulam-se nos animais de uma cadeia alimentar”.

Com repertório sociocultural produtivo e pertinente à discussão, o participante aborda de forma completa o tema, demonstrando, também, excelente domínio do texto dissertativo-argumentativo. No parágrafo introdutório, o participante já define o ponto de vista a ser defendido: são desafios para o tema da valorização dos grupos tradicionais no Brasil a educação deficiente acerca do tema e a ausência do desenvolvimento sustentável. O desenvolvimento do tema se dá no segundo parágrafo, abordando o ponto de vista eurocêntrico como gerador da imagem preconceituosa de um indígena selvagem e, no terceiro, focalizando o impacto irresponsável de entidades mercadológicas sobre as áreas ocupadas por essas comunidades. O texto fecha com as propostas para o Ministério da Educação, ao qual se atribui a responsabilidade de sanar o problema do preconceito, inserindo, na grade curricular do ensino básico, a matéria “Estudos Indigenistas”; e para o Ministério do Desenvolvimento, a tarefa de fiscalizar as atividades econômicas danosas às sociedades vulneráveis.

Percebe-se, também, ao longo da redação, a presença de um projeto de texto, com informações, fatos e opiniões relacionados ao tema proposto, desenvolvidos de forma consistente e bem-organizados em defesa do ponto de vista. No primeiro parágrafo, os componentes do tema já se apresentam, a partir do poeta modernista Oswald de Andrade, que denuncia, em “Erro de Português”, a aculturação dos povos indígenas pelo colonizador europeu, a exemplo de práticas prejudiciais atuais que se mantêm e que são sofridas por silvícolas e também a outros povos tradicionais, como os pescadores. A educação deficiente acerca do tema e a ausência do desenvolvimento sustentável são colocadas como desafios para a valorização desses grupos tradicionais. A educação deficiente é retomada, no segundo parágrafo, para abordar, como um viés da escola, o ponto de vista histórico eurocêntrico, que gera a imagem preconceituosa de um indígena selvagem, alheio aos “benefícios do mundo moderno”, imagem que “deslegitima a luta dos silvícolas”, cujo direito à terra é inato,” anterior, até, à criação do Estado brasileiro”, segundo o Ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, citado no parágrafo. Além disso, no terceiro parágrafo, outro desafio que se coloca para a valorização desses povos é a “carência do progresso sustentável”. Nesse contexto, o texto afirma que as entidades mercadológicas atuantes nas áreas ocupadas pelas populações tradicionais não se preocupam necessariamente com a sua preservação, comportamento no qual se valoriza o lucro em detrimento da harmonia entre a natureza e as comunidades em questão. À luz disso, há o exemplo do que ocorre com os pescadores, os quais são afetados quando os rios são contaminados, devido ao garimpo ilegal, extremamente comum na Região Amazônica. Por conseguinte, o povo que sobrevive a partir dessa atividade é prejudicado pelo que a Biologia chama de magnificação trófica, quando metais pesados se acumulam nos animais, como os peixes, provocando sua morte e a infecção de humanos por mercúrio. Assim, as indústrias que usam os recursos naturais de forma irresponsável não promovem o desenvolvimento sustentável e agem de maneira nociva às sociedades tradicionais. O texto finaliza, no quarto parágrafo, com duas propostas voltadas para o enfrentamento dos desafios apresentados. Cabe ao Ministério da Educação, com sua função educativa, inserir, na grade curricular do ensino básico, a matéria “Estudos Indigenistas”, a fim de sanar o problema do preconceito que gera a desvalorização. E ao Ministério do Desenvolvimento cabe a tarefa de fiscalizar, por meio de canais de denúncias, as atividades econômicas danosas às sociedades vulneráveis.

O texto apresenta continuidade temática e, além disso, o participante articula, sem inadequações, um repertório variado de recursos coesivos, que articulam os argumentos, as partes do textos e as informações apresentadas, tanto no plano nominal, com o emprego de pronomes (“cujos rios”, “ideia essa que”, “comportamento no qual se valoriza”, “desses grupos”) e palavras ou expressões sinônimas (“tais povos” por “populações tradicionais”, “tais pessoas” por “silvícolas”), como no sequencial (“paralelamente”, “não só …

mas também”, “Com efeito”, “Diante desse cenário”). Também utilizou, com pertinência e de modo correto, os sinais de pontuação ligando palavras, orações e períodos complexos.

Como a prova pede proposta de intervenção, esse texto é finalizado com duas propostas que respeitam os direitos humanos, ambas descritas acima. Elas, como se nota, permeiam o texto e são decorrentes do desenvolvimento da argumentação. Essas propostas são detalhadas, mostram o quê e como devem ser realizadas, quem vai realizar o que foi proposto e qual será o efeito dessas ações de intervenção.

Conclui-se que o participante contemplou, em seu texto, integralmente e com excelência, todas as partes da proposta de redação.

Disponível em: https://download.inep.gov.br/publicacoes/institucionais/avaliacoes_e_exames_da_educacao_basica/a_redacao_no_enem_2023_cartilha_do_participante.pdf. Acesso em: 03 de abr. 2025. (p. 33-35)

Análise do texto

Introdução

O poeta modernista Oswald de Andrade relata, em “Erro de Português”, que, sob um dia de chuva, o índio foi vestido pelo português — uma denúncia à aculturação sofrida pelos povos indígenas com a chegada dos europeus ao território brasileiro. Paralelamente, no Brasil atual, há a manutenção de práticas prejudiciais não só aos silvícolas, mas também aos demais povos e comunidades tradicionais, como os pescadores. Com efeito, atuam como desafios para a valorização desses grupos a educação deficiente acerca do tema e a ausência do desenvolvimento sustentável.

A seguir, veja como está estruturada a introdução do texto. Note que o parágrafo foi construído com 3 períodos, cada um deles apresentando os três tópicos que caracterizam uma introdução prototípica para este tipo de texto.

  1. Contextualização: "O poeta modernista Oswald de Andrade relata, em “Erro de Português”, que, sob um dia de chuva, o índio foi vestido pelo português — uma denúncia à aculturação sofrida pelos povos indígenas com a chegada dos europeus ao território brasileiro."
    1. O autor do texto cita uma obra da literatura modernista brasileira para introduzir o assunto.
  2. Tema: "Paralelamente, no Brasil atual, há a manutenção de práticas prejudiciais não só aos silvícolas, mas também aos demais povos e comunidades tradicionais, como os pescadores."
    1. O autor compara a ideia do primeiro período à realidade atual do país, ao fazer isso, ele mostra que o tema é relevante e que pode ser relacionado a produções culturais que fazem parte do mundo.
  3. Tese: "Com efeito, atuam como desafios para a valorização desses grupos a educação deficiente acerca do tema e a ausência do desenvolvimento sustentável."
    1. O autor constrói sua tese com base em dois argumentos: ele defende que a desvalorização de comunidades e povos tradicionais ocorre devido a:
      1. Educação ineficiente;
      2. Ausência de desenvolvimento sustentável.
    2. Uma vez que estes argumentos formam a tese do texto, é esperado que haja, em seguida, um parágrafo para detalhar cada um dos argumentos.

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