Receptor Androgênico
Receptor Androgênico
Definição
O Receptor Androgênico (RA) é uma proteína intracelular pertencente à superfamília de receptores nucleares que funciona como fator de transcrição ativado por ligante. É o principal mediador da ação dos hormônios androgênicos como a testosterona e a di-hidrotestosterona (DHT) nos tecidos-alvo, regulando a expressão de genes específicos relacionados às características sexuais masculinas, desenvolvimento muscular, densidade óssea e diversos processos metabólicos.
Características
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Estrutura molecular: Composto por quatro domínios funcionais distintos:
- Domínio N-terminal (NTD): Contém função de ativação-1 (AF-1), responsável pela maior parte da atividade transcricional
- Domínio de Ligação ao DNA (DBD): Reconhece sequências específicas no DNA chamadas Elementos Responsivos a Andrógenos
- Região de dobradiça (hinge): Confere flexibilidade à proteína
- Domínio de Ligação (LBD): Contém o sítio de ligação para andrógenos e a função de ativação-2 (AF-2)
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Localização celular: Predominantemente citoplasmático quando inativo, translocando-se para o núcleo após ativação pelo ligante
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Expressão tecidual: Presente em diversos tecidos, com maior expressão em:
- Tecidos reprodutivos masculinos (próstata, testículos)
- Tecido muscular esquelético
- Tecido ósseo
- Folículos pilosos
- Glândulas sebáceas
- Fígado
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Polimorfismos genéticos: Variações no gene AR podem afetar a sensibilidade aos andrógenos e estão associadas a diferentes respostas aos EAA
Mecanismo de Ação
Via Clássica (Genômica)
- Ligação do hormônio: Testosterona ou DHT liga-se ao domínio LBD do receptor
- Mudança conformacional: Ocorre dissociação de proteínas chaperonas (HSP)
- Dimerização: Formação de homodímeros de RA
- Translocação nuclear: O complexo migra para o núcleo
- Ligação ao DNA: Os dímeros ligam-se aos Elementos Responsivos a Andrógenos no DNA
- Recrutamento de cofatores: Proteínas coativadoras ou correpressoras são recrutadas
- Regulação da transcrição: Ativação ou repressão da expressão gênica
Vias Não-Genômicas (Rápidas)
- Ativação de cascatas de sinalização intracelular como:
- Via MAPK/ERK
- Via PI3K/Akt
- Modulação de canais iônicos de membrana
- Estas Vias Rápidas produzem efeitos em segundos a minutos, sem necessidade de transcrição gênica
Regulação
- Autorregulação: O próprio receptor regula sua expressão
- Densidade de Receptores: Pode aumentar ou diminuir dependendo do estímulo hormonal
- Modificações pós-traducionais:
- Fosforilação
- Acetilação
- SUMOilação
- Ubiquitinação
- Splicing Alternativo do RA: Gera variantes com funções distintas
- Interação com outras vias de sinalização: Crosstalk com receptores de fatores de crescimento
Relevância no Contexto de EAA
- Mediador primário: Principal alvo molecular dos EAA
- Saturação de receptores: Questão controversa sobre se existe um "limite" de saturação dos RA que limitaria os efeitos anabólicos
- Upregulation: Evidências sugerem que o uso de EAA pode aumentar a expressão e densidade de RA em certos tecidos
- Seletividade tecidual: Diferentes EAA apresentam afinidades variáveis pelo RA e efeitos teciduais distintos
- Sensibilização: O treinamento de resistência aumenta a expressão e sensibilidade do RA no tecido muscular
- Modulação farmacológica: SARMs (Moduladores Seletivos do Receptor Androgênico) foram desenvolvidos para ativar o RA de forma seletiva em tecidos específicos
Implicações Clínicas e Práticas
- Hipogonadismo: Baixos níveis de andrógenos resultam em subativação do RA
- Resistência androgênica: Mutações no gene AR podem causar síndromes de insensibilidade aos andrógenos
- Resposta individual a EAA: Variações genéticas no RA influenciam a resposta individual aos esteroides
- Adaptação ao treinamento: O exercício físico regular aumenta a expressão e sensibilidade do RA
- Downregulation com uso crônico: Uso prolongado de altas doses de EAA pode potencialmente reduzir a expressão ou sensibilidade do receptor em alguns tecidos