EAA - Lucas Caseri (pt-br)
Capítulo 3
- Mecanismos de Ação da Testosterona e EAA –
A testosterona é a principal hormona androgênica circulante secretada pelas células testiculares de Leydig e é responsável pela função e crescimento do trato genital, diferenciação sexual masculina e potência sexual38. Chamamos ao mecanismo de ação da testosterona no organismo masculino um “mecanismo de feedback negativo” (figura 3.1)39. Os centros superiores do cérebro promovem estímulos para que o hipotálamo secrete GnRH (Hormona Libertadora de Gonadotrofina), estimulando a glândula hipófise a secretar suas gonadotrofinas (LH, hormona luteinizante; e FSH, hormona folículo-estimulante)40. A LH atuará sobre as células testiculares de Leydig, promovendo a secreção de testosterona e liberando-a na corrente sanguínea41.
Dessa maneira, e em linhas gerais, temos que, uma vez que a concentração de testosterona aumenta, o próprio corpo a identifica e, portanto, atua para reduzir ou inibir a secreção de diferentes substâncias que culminariam na produção de testosterona43. Por outro lado, quando as concentrações de testosterona são baixas, o organismo também dispõe de mecanismos para que possa ocorrer a secreção de diferentes substâncias que culminariam na produção de testosterona44.
Quando se administra um EAA exogenamente, independentemente de sua finalidade, ocorre um processo semelhante ao que ocorreria fisiologicamente quando a concentração de testosterona é elevada, ou seja, estímulos inibitórios para reduzir a produção endógena de testosterona45. Se essa concentração se mantém alta (pela administração exógena constante de um EAA), ocorre o que chamamos de "inibição do eixo hipotálamo-hipófise-gônada", e este pode permanecer sem estímulos para funcionar ("eixo inibido"), dependendo do tempo em que a concentração de testosterona circulante se mantém alta46.
Na circulação, a testosterona se apresenta em forma não ligada (livre para ação) entre 1% e 2%, 34% está fracamente ligada à albumina (o maior transportador sanguíneo), e a maioria (65%) encontra-se fortemente ligada à glicoproteína hepática SHBG (Globulina Ligadora de Hormonas Sexuais)47. Assim, fatores que possam aumentar a concentração de SHBG (por exemplo, os anticoncepcionais orais) podem reduzir a fração livre de testosterona (fração livre + ligada à albumina, aproximadamente 40%), deixando uma fração mais alta ligada à SHBG48. Mesmo com uma concentração normal de testosterona total, a biodisponibilidade (por estar fortemente ligada à SHBG) pode estar reduzida e promover sintomas no paciente49.
Segundo Anawalt e colaboradores (2012), nos homens, a concentração sérica total de testosterona estaria em um nível normal quando fosse superior a 346 ng/dl (ou 12 nmol/L), e baixa quando fosse inferior a 231 ng/dl (ou 8 nmol/L)50. Entre esses valores, caberia ao profissional acompanhante mapear os sintomas e sinais característicos do hipoandrogenismo51. No entanto, esses valores não são fixos e foram discutidos anteriormente em outras publicações52.
A testosterona circulante, pela ação da enzima 5-alfa redutase, pode se converter em DHT (di-hidrotestosterona), ou pela ação da enzima aromatase, pode se converter em estradiol53. Os três compostos (testosterona, di-hidrotestosterona, estradiol), ao aumentarem muito suas concentrações circulantes, podem atuar como fatores inibidores (cerebral, hipotalâmico e hipofisário) da secreção de GnRH e LH, e podem assim reduzir a concentração de testosterona e, consequentemente, de di-hidrotestosterona e estradiol circulantes54.
Existem dois tipos principais da enzima 5-alfa redutase: a TIPO 1, presente na pele não genital e no fígado, e a TIPO 2, presente na pele genital,55 na próstata e nos tecidos urogenitais56. A conversão da testosterona em di-hidrotestosterona ocorre de forma irreversível, e a força de ligação ao receptor androgênico é muito mais forte que a da própria testosterona57.
Falando do receptor androgênico, este pertence à superfamília de receptores nucleares, é um fator de transcrição dependente de ligante, codificado pelo gene do braço longo do cromossoma X. Apresenta 917 aminoácidos conectados, uma massa molecular de 110 kDA, e no carbono terminal 2 domínios de ligação diferentes (aDNA e a andrógeno) e um domínio de ativação (transcricional)58. Na figura 3.2, apresenta-se uma sequência de eventos relacionados ao mecanismo de ação da testosterona e sua interação com o receptor androgênico, que são listados a seguir59.
Figura 3.2: Mecanismo de ação da testosterona e sua interação com o receptor androgênico. 60
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A testosterona entra na célula por difusão passiva; 2) Liga-se ao receptor acoplado a HSP (Heat Shock Protein); 61
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Libera a HSP, e ocorre a dimerização do receptor androgênico; 4) O complexo hormona-receptor entra no núcleo celular; 62
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Ligação do complexo hormona-receptor ao DNA celular;
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Transcrição de genes sensíveis a andrógenos 7) Modulação da atividade por fatores coativadores ou correpressores; 63
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Formação de nova proteína / enzima (ação androgênica)
A enzima aromatase, já mencionada, faz parte do complexo enzimático P450 e também é conhecida como "estrogênio sintase"64. Como ação, converte (principalmente no fígado e tecido adiposo) andrógenos C-19 em estrogênios C-18 (30 mcg de estradiol por dia), e seus efeitos são mediados de acordo com a ligação com os receptores de estrogênio alfa e beta65.
Em resumo, a testosterona pode ser metabolizada em metabólitos ativos e inativos66. Entre os metabólitos ativos, mencionamos o estradiol e a di-hidrotestosterona (por meio da aromatase e da 5-alfa-redutase, respectivamente), que exercerão suas possíveis ações ao se unirem a receptores específicos67. A di-hidrotestosterona é posteriormente metabolizada em androsterona, androstenediona e androstenediol, e estes compostos passam por processos de glucuronidação e sulfatação para serem excretados do corpo pela via renal-urinária68. Outra enzima, a 17-beta-hidroxidesidrogenase, promove a metabolização da testosterona em metabólitos inativos, a androsterona e a etiocolanona69.
Como já mencionado, a hipófise também secreta FSH (gonadotrofina), que atua sobre uma população diferente de células nos testículos, as células de Sertoli, onde ocorre a maturação dos espermatozoides70. Quando ocorre um aumento da concentração espermática (ou dos níveis de testosterona), ocorre uma secreção de inibinas, que promovem a inibição da secreção de FSH a nível hipofisário (figura 3.1)71. É por este mecanismo que se entende que, quando se administra testosterona exógena por um período prolongado, a produção e maturação dos espermatozoides podem ser comprometidas, influenciando a capacidade fértil do homem72.
Referências
Anawalt BD, et al. Performance of total testosterone measurement to predict free testosterone for the biochemical evaluation of male hypogonadism73. J Urol. 2012 Apr;187(4):1369-73.
Martits AM, et al. Late Onset Hypogonadism or ADAM: diagnosis. Rev Assoc Med Bras. 2014,60(4):286-29474.
Srinivas-Shankar U, et al. Drug insight: testosterone preparations. Nat Clin Pract Urol. 2006 Dec;3(12):653-6575.
Capítulo 4
- Conceitos básicos sobre os ciclos de EAA -
Ao longo dos anos, desde a década de 1930, a medicina, aliada à indústria farmacêutica, empenhou-se em desenvolver EAA mais anabólicos, menos androgênicos e menos hepatotóxicos, ou seja, para fins clínicos, fármacos mais seguros. 1 Assim, os diferentes EAA com suas características específicas poderiam ser melhor prescritos para fins específicos (anabolismo e anticatabolismo, virilização, desempenho sexual), em populações específicas (homens, mulheres, idosos, crianças). 2
Um “ciclo”, como a própria definição da palavra sugere, seria um período de tempo com início, meio e fim. 3 No caso do uso não terapêutico, refere-se a um certo período de uso de EAA (geralmente entre 4 e 16 semanas), com o objetivo de obter ganhos estéticos ou melhorias no desempenho esportivo. 4 Esse tempo também se baseia na maioria dos estudos clínicos publicados na literatura científica, que utilizaram de 4 a 16 semanas para a avaliação pré e pós de alguma condição de saúde específica. 5 No entanto, este uso, além das indicações clínicas já estabelecidas, não é permitido por entidades esportivas e, no momento, não há recomendação de uso em casos de não deficiência hormonal (e outras indicações clínicas), como veremos mais adiante no posicionamento das entidades. 6
Tanto nos esportes de alto rendimento quanto no fisiculturismo, grande parte da informação sobre a modalidade de uso provém do empirismo, baseada em relatos de experiências pessoais e, como esses usuários não têm o hábito de acompanhamento clínico (médico) regular, a compreensão adequada da eficácia das intervenções, bem como a avaliação do estado de saúde geral (segurança de uso), fica muito comprometida. 7 Nas utilizações “não clássicas”, há uma grande variedade de usos, propósitos (objetivos) e protocolos, e é evidente que alguns EAA (e os protocolos utilizados) acabam sendo mais eficazes e/ou seguros que outros. 8
Segundo a evidência empírica, quase sempre baseada no conhecimento da farmacologia, existem vantagens e desvantagens de cada EAA, da combinação de tipos específicos, bem como variações no tipo de ganho (desempenho e estética) em qualidade e quantidade. 9 Por exemplo, os EAA chamados mais estrogênicos, ou seja, que acabam convertendo mais testosterona em estradiol, promovem grandes ganhos de peso e volume corporal, mas também aumentam a retenção de água, piorando a definição do corpo. 10 Nos esportes em que o volume ou o peso corporal são fatores associados ao desempenho, em geral, este tipo de EAA é mais utilizado. 11
Quanto aos EAA menos estrogênicos, em geral são utilizados quando não há necessariamente o desejo ou a necessidade de aumentar o peso e o volume corporal, mas sim um aumento qualitativo (chamado “ganho seco” entre os fisiculturistas e atletas). 12 Nos esportes em que a força muscular, assim como a musculatura, são fatores associados ao desempenho e ao resultado, a escolha deste tipo de EAA é mais frequente. 13
Segundo algumas publicações empíricas sobre o tema (e, por sinal, a maioria de origem estrangeira, especialmente as publicações em inglês), dois são os principais objetivos perseguidos ao pensar especialmente no uso estético dos EAA:
- Aumento de volume corporal, aumento de massa corporal (chamado “bulking”). 14
- Drogas comumente utilizadas: Metandrostenolona (Dianabol – oral); Oximetolona (Hemogenin – oral); Testosterona (Cipionato, Enantato, Propionato – injetável). 15
- Aumento da muscularidade aparente, melhora da definição corporal (chamado também “cutting”). 16
- Drogas comumente utilizadas: Undecilato de Boldenona (Equipoise – injetável); Enantato de Metenolona (Primobolan – injetável); Decanoato de Nandrolona (Deca-Durabolin – injetável); Oxandrolona (Anavar – oral); Estanozolol (Winstrol – oral e injetável). 17
Como as provas são empíricas e frequentemente baseadas em relatos de experiências pessoais ou em informações de amigos e colegas que utilizaram as drogas, elas podem variar conforme sua finalidade, ou seja, alguns consideram certas drogas excelentes para o bulking, enquanto outros as classificam como drogas de cutting. 18 Essa informação, que já é empírica e baseada, por exemplo, em livros de países onde o perfil das drogas em circulação é diferente das que circulam em nossa realidade no Brasil, às vezes acaba sendo confusa e/ou contraditória. 19
Os iniciantes tendem (ou pelo menos deveriam) a escolher ciclos de EAA utilizando uma única droga, e em geral a escolha é por drogas orais em vez de injetáveis, especialmente por conveniência de uso. 20 Assim, por exemplo, relata-se o uso de Dianabol (Metandrostenolona) como única droga de escolha para o aumento de volume/massa, enquanto Winstrol (Estanozolol) e Anavar (Oxandrolona) são drogas de escolha mais frequente para fins de definição corporal e muscular mais aparente. 21
Não só em um dos objetivos citados (bulking, cutting) se faz a escolha do tipo de EAA a ser utilizado, muitas vezes a escolha se baseia no medo, ou seja, no tipo de efeito potencialmente adverso que se deseja evitar com o uso. 22 Por exemplo, os fármacos orais em geral promovem um maior impacto no sistema cardiovascular (piora do perfil lipídico, por exemplo) e maior hepatotoxicidade (pelo chamado “efeito de primeira passagem” na metabolização da droga), o que pode tender a escolha para drogas injetáveis. 23 Aqueles mais preocupados com os efeitos cosméticos associados aos estrógenos (por exemplo, ginecomastia, retenção de água) tendem a escolher menos fármacos estrogênicos (Metenolona, Estanozolol, Oxandrolona), enquanto aqueles mais preocupados com a possível perda de cabelo tendem a escolher menos fármacos androgênicos (que promovem um maior aumento da DHT, que se liga aos receptores localizados no couro cabeludo), como a Nandrolona, a Metenolona e a Oxandrolona. 24 Veremos mais de perto o perfil das drogas mais adiante neste livro. 25
Pela própria lógica, podemos observar facilmente que a concentração total de testosterona sérica tem uma curva em “U”, ou seja, à medida que a concentração diminui, aumenta a possibilidade de perda de massa muscular, capacidade anabólica, bem como os sintomas clínicos relacionados à baixa hormonal (libido, ereção, fadiga, raciocínio, etc.). 26 Por outro lado, à medida que a concentração sérica aumenta, maior é a capacidade anabólica, de ganho de massa muscular e também maior é a possibilidade de frequência de efeitos adversos (androgênicos e estrogênicos) (figura 4.1). 27
Figura 4.1: Curva em “U” da concentração de testosterona relacionada ao aparecimento de sintomas clínicos e efeitos adversos, perda ou ganho de massa muscular. 28
No caso dos iniciantes, em que nunca se avaliou previamente a resposta aos fármacos a serem utilizados, uma ideia não aconselhável seria iniciar um primeiro ciclo já com doses altas (não que isso não ocorra frequentemente na prática). 29 Outra ideia que segue a mesma linha é querer aumentar a dose quando a progressão dos ganhos começar a diminuir, pois isso acaba apenas aumentando o risco de efeitos adversos (o correto seria revisar a estratégia completa, de treinamento, de dieta, de descanso e o que se está usando). 30
Os iniciantes, em geral, têm expectativas pouco realistas dos ganhos e acabam acreditando que os ganhos de 10 kg em 10-12 semanas serão mantidos completa e facilmente após o final do ciclo. 31 Ganhos menores, mais qualitativos que quantitativos, tendem a permanecer mais, e por assim dizer, em vez de utilizar grandes quantidades em um curto período de tempo, o mais aconselhável e interessante seria utilizar doses não tão agressivas, durante períodos intermitentes (uso e suspensão do uso) por um período de tempo mais longo (alguns anos, por exemplo). 32 A construção do corpo, com simetria, proporcionalidade, volume e definição, como se vê nos fisiculturistas, é construída ao longo de muitos anos de treinamento forte e dieta regrada, e não apenas com drogas, pois se assim fosse, em cada esquina veríamos indivíduos “gigantes” (e, de fato, não é o que acontece). 33
Outra possibilidade de não começar com doses altas de EAA seria a “titulação”, ou seja, o mapeamento individual da dose ou concentração mais baixa de testosterona que seria potencialmente já eficaz para promover os ganhos pretendidos. 34 Para facilitar a compreensão do que dissemos, a seguir são apresentadas duas figuras baseadas no livro Anabolics (William Llewellyn) que apresentam dados sobre a dose e o ganho de peso, e sobre a duração do ciclo e o ganho de peso (figuras 4.2 e 4.3). 35
Figura 4.2: Os EAA tendem a ser mais eficazes em doses moderadamente supraterapêuticas. 36 O benefício anabólico diminui em relação à quantidade de droga utilizada nas doses extremas (muito altas, muito baixas). 37
Figura 4.3: Os EAA tendem a ser mais eficazes em determinada dose por aproximadamente 6-8 semanas. 38 Depois disso, a taxa de ganho se reduz e é usualmente seguida de um platô. 39
Como observado, os ganhos de peso tendem a ter um certo volume de progressão, que é independente de a dose ser aumentada continuamente ou de o tempo de uso ser prolongado indefinidamente. 40 Assim, aumentar as doses ou o tempo de uso como certeza de maiores e melhores resultados é uma ideia que deve ser descartada. 41 Em 6-8 semanas com doses menos agressivas, há certamente menos risco de complicações, não que isso seja uma recomendação ou uma possível isenção dos riscos associados à prática. 42
Por essa razão, os usuários “mais conscientes” tendem a fazer uso durante um período, o ciclo (em inglês: “ON cycle”), e a cessação do uso durante um período similar ao tempo de uso, o pós-ciclo (em inglês: “OFF cycle”; em inglês, o termo utilizado nos estudos científicos para a cessação do uso de alguma droga durante um certo período de tempo é chamado “wash out”). 43 Essa cessação de uso, fazendo uso e não uso dos ciclos de EAA, tem como objetivo restabelecer os parâmetros de saúde potencialmente alterados durante o ciclo (perfil lipídico, inibição do eixo hipotálamo-hipófise-gonadal, etc.) e reduzir a sobrecarga dos órgãos envolvidos na metabolização e excreção das drogas (por exemplo, o fígado e os rins). 44 Neste período, é comum o uso de drogas como HCG (Gonadotrofina Coriônica Humana), Citrato de Clomifeno e Tamoxifeno (Moduladores Seletivos do Receptor de Andrógenos, do inglês: “SARM” – Selective Androgen Receptor Modulator) para restabelecer a produção endógena natural de testosterona, evitando assim a atrofia dos mecanismos de produção de testículos e de esperma. 45 Veremos essas drogas com mais detalhes em outro capítulo.
Como nem todos seguem pensamentos mais conservadores ou lógicos, muitos usuários, pensando em ganhos lineares contínuos, não conseguem fazer este período de “abstinência” e acabam optando pelo uso contínuo, o chamado “blast and cruise” (sendo o blast o ciclo, a dose mais alta, e o cruise a dose mais baixa, a conduta de cruzeiro para o próximo blast). 46 Seria o uso de altas doses durante um período e aliviá-las por um tempo. 47 O problema desta conduta é que temos um uso contínuo de uma droga que, independentemente de ser alta ou a chamada dose “baixa” (nos intervalos, ou seja, no cruise), sempre permanece com concentrações no sangue com níveis suprafisiológicos indeterminadamente, e como visto na curva “U” da testosterona, isso manteria o indivíduo em risco aumentado durante todo o tempo. 48 Veremos mais sobre este tipo de conduta mais adiante neste livro. 49
Os usuários mais experientes, ou seja, aqueles que já fizeram vários ciclos ao longo de alguns anos, geralmente tendem a não escolher uma única droga, fazendo assim uma combinação delas, chamada “stacking”. 50 Os objetivos desta prática são: 1) tentar quebrar a homeostase de ganho quando se utiliza um único fármaco; 51 2) poder utilizar doses maiores (combinadas), sem atingir a dose máxima de cada EAA individual; 52 e 3) evitar os efeitos adversos androgênicos e estrogênicos através da combinação de EAA mais ou menos anabólicos e mais ou menos androgênicos. 53
O stacking não é uma ideia nova, pois se popularizou na década de 1960, época em que os medicamentos antiestrogênicos ainda não estavam bem disponíveis. 54 Isso permitiu o uso de doses totais de EAA superiores às que seriam toleradas com um único fármaco, sem que ocorressem efeitos adversos (por exemplo, ginecomastia). 55 A evidência empírica aponta para as vantagens de utilizar drogas combinadas em vez de utilizar um único EAA, mesmo em doses equivalentes. 56 Assim, embora o mecanismo não seja totalmente compreendido (possível sinergia farmacológica, estímulo androgênico/estrogênico ao Sistema Nervoso Central), quase sempre se relata um “efeito aditivo”. 57 No entanto, atualmente, com a disponibilidade de medicamentos antiestrogênicos (por exemplo, o Tamoxifeno), o uso de EAA simples tornou-se mais viável (em comparação com as décadas anteriores), e os efeitos adversos como a retenção de água e a ginecomastia foram minimizados. 58 Assim, o stacking, embora não seja mais uma prática obrigatória, ainda é muito comum no fisiculturismo. 59 Se avaliarmos usando o raciocínio anterior, na maioria das vezes, um uso periódico de um único EAA seria suficiente para ganhar e/ou manter a força e/ou a massa muscular. 60
Referências
Clapp B. Anabolic Steroids: ultimate research guide (1 vol.). Anabolic Information LLL, 2005. 61
Complete Steroid Handbook, 1st ed., 2004. Disponível em: www.hardcorebodybuildingontheweb.com. Acesso em: 14 fev 2018.
Guimarães WM. Musculação anabolismo total. 9 ed. Editora Phorte, 2000. 62
Guimarães WM. Guerra Metabólica – Manual de Sobrevivência. 2 ed. Editora Phorte, 2005.
Guimarães WM. Musculação Além do Anabolismo. 2 ed. Editora Phorte, 2003. 63
Llewellyn W. Anabolics. 11th ed., Molecular Nutrition, 2017. 64
Capítulo 5
- Os diferentes tipos de EAA -
No presente capítulo, examinaremos conceitos gerais sobre os diferentes tipos de EAA. Embora nem todos os que serão descritos sejam encontrados no mercado lícito (provenientes da indústria farmacêutica e vendidos em farmácias legalizadas e/ou distribuidores de medicamentos fiscalizados), eles são facilmente encontrados no mercado paralelo. Portanto, é importante que o leitor (profissional ou leigo no assunto) entre em contato com esses agentes farmacológicos. 65
Vale mencionar que a informação a ser apresentada a seguir provém de fontes não apenas científicas (artigos publicados em bases de dados científicas), sendo extraída em sua maioria de livros de texto e sites relacionados aos EAA e ao fisiculturismo, que serão listados nas referências deste capítulo. 66 Apenas para fins educativos, dividiremos este capítulo em EAA orais e injetáveis. A seguir, uma breve descrição das principais características de cada um, conforme descrito nas fontes empíricas (veja as referências no final do capítulo, com grande parte da informação, com e sem referências científicas, de www.anabolic.org, que também é a fonte de informação na qual alguns dos livros citados se basearam). 67
I) EAA Orais
1) Oximetolona: conhecido pelos nomes comerciais de HEMOGENIN, ANADROL 50, ANDROYD e OXYMETHOLONE IH 50.
- Potencial androgênico: 45
- Potencial anabólico: 320
- Droga padrão: Metiltestosterona (oral)
- Nomes químicos:
- 2-hidroximetileno-17a-metil-di-hidrotestosterona
- 4,5-di-hidro-2-hidroximetileno-17-alfa-metiltestosterona
- 17alfa-metil-2-hidroximetileno-17-hidroxi-5alfa-androstan-3-ona
- Atividade estrogênica: alta. 68
- Atividade progestagênica: não significativa. 69
Descrição:
- Potente anabólico oral derivado da DHT.
- Similar à Mestanolona (Metildi-hidrotestosterona). 70
- Difere quimicamente desta pela adição do grupo 2-hidroximetileno. 71
- Considerado por muitos o EAA comercializado mais potente. 72
- Para iniciantes = EAA muito potente. 73
- Atividade anabólica maior que a testosterona/metiltestosterona. 74
- Baixa androgenicidade (1/4 a 1/7 da atividade anabólica – a experiência prática mostra que essa baixa androgenicidade pode ser questionável). 75
- Iniciantes: ganho de 10-15 kg em 6 semanas. 76
- Grande retenção de água (aumento do volume corporal/droga considerada de baixo risco/não é uma escolha para objetivos de qualidade física – definição corporal). 77
- Pela retenção de água, promove uma melhor hidratação dos tecidos contráteis e elásticos. 78
- Benefício: grandes ganhos e melhor hidratação dos tecidos podem reduzir a possibilidade de rupturas musculares, mais vistas em EAA que não promovem essa hidratação. 79
História:
- Descrito pela primeira vez em 1959.
- Anadrol-50 (fabricação pela Syntex)/Androyd (fabricado pela Parke Davis & Co.).
- Dose padrão: 2,5/5/10 mg em tabletes. 80
- Uso proposto: diversas condições que requerem anabolismo. 81
- Anos 1970: liberação da FDA apenas para tratamento de anemia (pelo efeito de elevação do hematócrito – produção de células da linhagem vermelha do sangue). 82
- Como era eficaz apenas em doses maiores (50 mg), o Androyd, por ser de doses mais baixas por tablete, acabou sendo descontinuado. 83
- Quando a EPO (eritropoietina) surgiu e foi utilizada, e com sua melhor eficácia no aumento dos glóbulos vermelhos, houve uma queda nas vendas e, portanto, por não ser um medicamento específico, também foi descontinuado em vários países. 84
- Na década de 1990, atletas temiam que a droga desaparecesse do mercado. 85
- 1997: Os direitos do Anadrol-50 foram vendidos para a Unimed Pharmaceuticals.
- 1998: foi reintroduzido no mercado (com estudos clínicos de Fase II/III e indicação para HIV, DPOC, Lipodistrofia). 86
- 2006: Ocorre a venda dos direitos para a empresa farmacêutica Alaven Pharmaceutical (sem informação sobre a continuação da produção e comercialização do agente farmacológico). 87
- FDA: Apesar dos estudos apresentados, libera o uso apenas para tratamento de anemia. 88
- Encontrado ainda em mercados menores e não tão bem regulados (mercado paralelo, produção ilegal). 89
Disponibilidade:
- Disponível em determinados mercados humanos (ilícitos). 90
- A composição e a dose podem variar por país e por fabricante. 91
- A maioria no mercado apresenta doses de 50 mg em tabletes. 92
Estrutura:
- Modificação da molécula de DHT (di-hidrotestosterona) por:
- Adição de grupo metil em C-17-alfa (confere propriedade oral). 93
- Adição de grupo hidroximetileno (inibe a ação da 3-HSD).* *Estas modificações conferem um grande aumento da atividade anabólica e biológica. 94
Administração: HOMENS
- Tratamento de anemia: 1-5 mg/dia (3-6 meses) (limite de 100 mg/dia)
- Fisiculturismo (hipertrofia): 25-150 mg/dia (6-8 semanas) (tempo mais curto para reduzir a potencial hepatotoxicidade) *Grandes/rápidos aumentos de força e massa muscular. 95 *Doses maiores raramente são usadas pela alta estrogenicidade. 96
Administração: MULHERES
- Uso clínico semelhante ao dos homens (EUA não fazem distinção de dose por sexo, considerando “adultos”).
- Tratamento de anemia: 1-5 mg/dia (3-6 meses) (limite de 100 mg/dia). 97 *Em geral, 1-2 mg é suficiente. 98
- Fisiculturismo (hipertrofia): droga não recomendada (alta capacidade androgênica, podendo ser altamente virilizante). 99
-x-
4) Metandrostenolona: conhecido como DIANABOL, ANABOL-10, METHANDROSTENOLONE. 1
- Potencial androgênico: 40-60 2
- Potencial anabólico: 90-120 3
- Droga padrão: Metiltestosterona (oral) 4
- Nomes químicos:
- 17-alpha-methyl-17-beta-hydroxy-1,4-androstadien-3-one 5
- 1-dehydro-17-alpha-methyltestosterone 6
- Atividade estrogênica: moderada. 7
- Atividade progestagênica: não significativa. 8
Descrição:
- O nome mais comum para Metandrostenolona/Metandienona é DIANABOL. 9
- É um derivado da testosterona com o objetivo de aumentar o potencial anabólico e reduzir a androgenicidade (menos androgênica que a testosterona). 10
- É uma droga oral, mas também é encontrada em forma injetável em medicamentos veterinários. 11
- Historicamente, foi o EAA mais utilizado para performance. 12
História:
- Descrito pela primeira vez em 1955 (1958 CIBA – desenvolvimento como medicamento). 13
- O Dr. John Ziegler, médico de várias equipes olímpicas americanas, após observar o uso por parte dos atletas do bloco soviético, ajudou empresas americanas a desenvolver o EAA mais eficaz até então. 14 Ele ficou impressionado com os resultados do uso da droga até o início da década de 1960 (a dose utilizada era de 5 a 15 mg/dia). 15 Após a década de 1960, houve um grande aumento do uso indevido, o que gerou um grande desgosto por ter participado de seu desenvolvimento e também uma grande preocupação com os efeitos adversos gerados pelo uso indevido. 16
- Em 1965, a FDA começou a examinar e pressionar a empresa CIBA, reavaliando a qualidade dos estudos sobre as indicações clínicas. 17
- Foi aceita pela FDA como uma droga "provavelmente eficaz" na osteoporose e no nanismo pituitário. 18
- Após 1970, a empresa CIBA perdeu a patente da droga. 19
- Novamente nos anos 1980, houve pressão da FDA sobre a CIBA. 20
- Em 1983, não há dados sobre a possível descontinuação (desinteresse financeiro?) da produção do medicamento. 21
- Em 1985, a FDA retirou todas as formas genéricas da droga do mercado. 22
- No Ocidente, houve uma diminuição do uso/consumo, mas ainda é produzida em mercados menos regulados e mercados paralelos. 23
Disponibilidade:
- Disponível em mercados para uso humano e veterinário. 24
- As doses variam por país e fabricante. 25
- Dianabol: 2,5 – 5 mg/tableta. 26
- Atualmente (outras marcas): 5-10 mg/tableta. 27
- Encontrado também em preparações veterinárias injetáveis (25 mg/mL – solução oleosa). 28
Estrutura:
- Droga modificada da testosterona, diferindo em:
- Adição de grupo metilo em C-17-alfa (oral). 29
- Adição de dupla ligação entre C1-2 (reduz a androgenicidade). 30
- Apresenta menor afinidade pelo receptor estrogênico (comparativamente à testosterona). 31
- Apresenta maior vida média (comparativamente à testosterona). 32
- Menor força de ligação às proteínas de ligação séricas (SHBG, albumina). 33
- Considerado um potente anabólico por uma boa interação com o receptor celular androgênico. 34
Administração: HOMENS
- Uso geralmente fora das refeições (lipossolubilidade). 35
- Uso clínico: 5 mg por dia por até 6 semanas, com whashout (cessar o uso) durante 2-4 semanas. 36
- Fisiculturismo/Esporte: Uma dose de 5 mg é eficaz, mas o uso mais comum é entre 15-30 mg/dia, durante 6-8 semanas, seguido de um whashout de 6-8 semanas. 37
- Em doses maiores, o risco de efeitos adversos aumenta sobremaneira. 38
- Relatos de resultados rápidos e expressivos. 39
- Uso associado frequente com Nandrolona ou ésteres de testosterona. 40
- A vida média da droga é de 3-5 horas. 41
- Se tomada como uma dose única, pode haver uma importante variação/flutuação da concentração sérica. 42
- O ideal é dividir as doses para obter uma concentração sérica mais estável da droga (por exemplo, 2x por dia ou 12/12h; 3x por dia ou 8/8h). 43
- No entanto, há provas empíricas (relatos) sobre o uso de uma dose única pela manhã, e a melhora do metabolismo associado ao estrogênio através do aumento da capacidade de absorção de nutrientes. 44
Administração: MULHERES
- Droga de uso muito mais popular em homens. 45
- Doses de 2,5-5 mg já são bastante eficazes. 46
- Efeitos virilizantes são possíveis. 47
- Estudos prévios (terapêuticos) apresentam:
- acne: mulheres com 10 mg/dia; 48
- virilização: crianças com 2,5 mg/dia. 49
-x-
5) Metiltestosterona: conhecido como TESTON 25, METESTO, TESTRED, METHYLTESTOSTERONE, METANDREN. 50
- Potencial androgênico: 94-130 51
- Potencial anabólico: 115-150 52
- Droga padrão: Testosterona 53
- Nomes químicos:
- 17-beta-hydroxy-17-alpha-methyl-4-androsten-3-one 54
- 17-alpha-methylandrost-4-en-3-one-17-beta-ol 55
- Atividade estrogênica: alta. 56
- Atividade progestagênica: não significativa. 57
Descrição:
- Forma oral da testosterona. 58
- Estrutura básica idêntica associada à adição de grupo metilo em C-17-alfa (17-alfa-alquilado) para propriedade oral. 59
- Está entre os primeiros EAA produzidos. 60
- Atualmente é considerada uma forma bruta e/ou antiga. 61
- Efeito moderado anabólico e androgênico. 62
- Alta conversão para estrógenos (aromatização para 17-alfa-metilestradiol). 63
- Apresenta um maior nível de risco de efeitos adversos dos estrógenos em fisiculturistas e/ou atletas. 64
História:
- Descrito pela primeira vez em 1935, foi o primeiro EAA desenvolvido/aplicado para uso clínico. 65
- Indicações para:
- reposição de testosterona (andropausa/hipogonadismo); 66
- criptorquidia/CA de mama em mulheres pós-menopausa; 67
- lactação excessiva/dor de mama pós-natal (não lactantes); 68
- menopausa (perda de energia e desejo sexual). 69
- Comercializado em formato de cápsulas/tabletas/sublingual. 70
- "Metandren" (empresa CIBA) foi o EAA mais popular dos anos 1950 aos anos 1990. 71
- A forma de apresentação SUBLINGUAL oferece dupla biodisponibilidade da metiltestosterona, pois a absorção pela mucosa reduz o efeito de primeira passagem hepática e atinge picos de concentração sérica mais rápidos (1h). 72
- Em 1981, a Sociedade Alemã de Endocrinologia considerou esta droga "obsoleta", afirmando que, apesar de sua longa história e relativa segurança clínica, não era mais uma droga de uso generalizado e, a partir de então, sua produção foi descontinuada em diversos mercados. 73
- A maioria das outras nações europeias seguiu o mesmo pensamento; no entanto, ainda é produzida em muitos mercados (lícitos e ilícitos). 74
- Nos EUA, ainda é uma droga comercializada, mas pouco prescrita como forma de tratamento clínico. 75 Recentemente, há interesse no uso do fármaco no tratamento dos sintomas da menopausa pela empresa Solvay, com o fármaco sob o nome de Estratest. 76
Disponibilidade:
- Disponível em mercados para uso humano. 77
- A dose e a composição variam por país/fabricante. 78
- Atualmente (legal), é fabricada em pequena quantidade (uso clínico pequeno) e também é pouco procurada/encontrada no mercado paralelo. 79
Estrutura:
- Forma modificada da testosterona, pela adição de um grupo metilo no C-17-alfa. 80
- Tem propriedades orais que conferem um menor metabolismo hepático. 81
- Atividade anabólica comparativamente menor que a testosterona. 82
Administração: HOMENS
- Uso: longe das refeições, já que é uma droga solúvel em gordura (a gordura não digerida da dieta impede que a droga seja absorvida adequadamente). 83
- Uso clínico: 10-40 mg/dia (redução da dose em 50% se usado sublingual/bucal). 84
- Fisiculturismo/Esporte: 10-50 mg/dia (por período de 6-8 semanas). 85
- Droga utilizada para aumentar a agressividade (lutas/treinamento). 86
- A relação ganho/risco dos efeitos colaterais é pobre. 87
- Pode ocorrer grande perda de peso e volume corporal após o ciclo, devido à alta retenção de água acumulada durante o ciclo. 88
Administração: MULHERES
- Uso clínico: muito pouco usado como terapia. 89
- O uso máximo é como droga adjuvante no tratamento quando outras terapias falharam (por exemplo, Câncer de Mama inoperável, onde a dose pode chegar a 200 mg/dia). 90
- Recentemente, aumentou o uso para o tratamento dos sintomas da menopausa: dose de 2,5 mg/dia (aumento da energia/libido/massa óssea). 91
- Fisiculturismo/Esporte: não recomendado (potencial androgênico alto, podendo ter efeito virilizante). 92
-x-
6) Mesterolona: conhecido como PROVIRON.
- Potencial androgênico: 30-40 1
- Potencial anabólico: 100-150 2
- Droga padrão: Propionato de Testosterona 3
- Nomes químicos:
- 17-beta-hidroxi-1-alfa-metil-5-alfa-androstan-3-ona 4
- 1-metil-5-alfa-di-hidrotestosterona 5
- Atividade estrogênica: nenhuma. 6
- Atividade progestagênica: não significativa. 7
Descrição:
- Nome de 1-metil-DHT (fabricado pela Schering, agora Bayer). 8
- Efeito androgênico potente, mas pouco anabólico. 9
- Os músculos apresentam alta concentração da enzima 3-hidroxiesteroide-desidrogenase, que confere metabolização rápida da droga e conversão a metabólitos inativos. 10
- Como apresenta uma forte ligação com a SHBG, o uso em geral é associado a outras drogas para aumentar a potência anabólica de outros compostos (aumentando a testosterona em forma livre). 11
- Uso em atletas: para o aumento androgênico (cutting) e como efeito antiestrogênico (antagonista da aromatase). 12
História:
- Fabricado pela empresa Schering (Proviron), em 1934. 13
- Primeiro medicamento utilizado para tratamento clínico do hipoandrogenismo. 14
- Droga considerada eficaz e com boa segurança clínica, que continua sendo utilizada hoje. 15
- Utilizado principalmente para deficiência androgênica/hipogonadismo/infertilidade. 16
- A droga causa uma supressão mínima de gonadotrofinas (LH/FSH). 17
- Em alguns casos, o aumento androgênico (pelo aumento da forma livre de testosterona promovido pela droga) aumenta a espermatogênese (qualidade e quantidade). 18
- Vendido atualmente em mais de 30 países diferentes. 19
- O nome mais comum encontrado é “Proviron” (em outros países, nomes diferentes). 20
- Nunca foi aprovado (FDA) para uso clínico nos EUA. 21
- A empresa Bayer é a maior fabricante atual (quase exclusivo). 22
Disponibilidade:
- A maior parte dos medicamentos comercializados tem seu registro pela empresa BAYER. 23
- Encontrado em mercados para uso humano. 24
- Droga amplamente comercializada. 25
- Dose: varia por país/fabricante. 26
- Em geral: tabletes de 25 mg – 50 mg. 27
Estrutura:
- Forma modificada da DHT pela adição de um grupo metilo em C-1 (reduz o metabolismo hepático, menos em comparação com a alquilação do C-17). 28
- Biodisponibilidade mais baixa que os C-17-alfa-alquilados. 29
- Grande afinidade pela SHBG. 30
- Uso combinado com outras drogas para efeito potencializador (aumenta a forma livre de outros EAA). 31
Administração: HOMENS.
- Uso clínico: para deficiência androgênica e infertilidade (25 mg/3x ao dia inicialmente, e depois 25-50 mg para manutenção). 32
- Fisiculturismo/Esporte: 50 mg – 150 mg/dia (por período de 6-12 semanas). 33
- Uso entre atletas: droga de cutting (menos estrogênio/mais testosterona). 34
- Uso combinado frequente com: Winstrol (Estanozolol)/Anavar (oxandrolona)/Primobolan (metenolona). 35
- Benefícios: melhora da razão testosterona/estrogênio (aumento de libido/bem-estar/redução % de gordura). 36
- Utilizado também para prevenção de ginecomastia (junto com 10-20 mg de Tamoxifeno). 37
Administração: MULHERES
- Uso clínico não aprovado em mulheres. 38
- Não recomendado para fisiculturistas/atletas (alto potencial androgênico, pode ter efeito virilizante). 39
- Em geral: 25 mg (por período de 4-5 semanas). 40
- É suficiente para melhorar a razão hormonal T/E. 41
- Mantém a massa muscular durante o cutting, associado ao aumento da lipólise. 42
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7) Estanozolol: conhecido como WINSTROL, WINSTROL-V.
- Potencial androgênico: 30 43
- Potencial anabólico: 320 44
- Droga padrão: Metiltestosterona 45
- Nome químico:
- 17-beta-hidroxi-17-metil-5-alfa-androstano [3,2-c] pirazol 46
- Atividade estrogênica: nenhuma. 47
- Atividade progestagênica: não significativa. 48
Descrição:
- “Winstrol” é o nome mais comumente encontrado da droga estanozolol. 49
- É um composto derivado da DHT modificado para promover seu grande efeito anabólico com mínima androgenicidade. 50
- É um dos compostos com maior dissociação dos efeitos anabólicos e androgênicos. 51
- Droga que não é aromatizável em estrógenos. 52
- É o segundo EAA oral mais utilizado (o primeiro é o Dianabol – Metandrostenolona). 53
- Uso: “Grandes ganhos musculares sem retenção hídrica”. 54
História:
- Descrito pela primeira vez em 1959 (Winthrop Laboratories). 55
- Em 1961, a patente americana passa para a empresa Sterling e, em 1962, é lançado como medicamento no mercado. 56
- O uso clínico era principalmente para: orexígeno/catabolismo muscular por doenças (associadas ou não ao câncer)/osteoporose/déficit de crescimento/uso de corticoterapia prolongada/pós-operatório/pós-traumas (queimaduras/fraturas)/síndrome de fragilidade (idosos). 57
- Outros usos clínicos menos frequentes incluem anemia, câncer de mama e angioedema. 58
- Na década de 1970, houve maior controle e fiscalização por parte da FDA, com consequente redução das indicações terapêuticas. Foi classificada como “provavelmente eficaz” apenas como droga adjuvante no tratamento da osteoporose e para déficit de crescimento hipofisário. 59
- A empresa fabricante Winthrop elaborou mais estudos e pesquisas de acordo com a solicitação da FDA e, por isso, nos anos 1980-90 (enquanto muitos EAA foram descontinuados), o estanozolol se manteve como agente farmacológico terapêutico. 60
- Em 1991, a Winthrop se fundiu com a Elf Sanofi (com uma patente para outros 10 anos de produção da droga). 61
- Em 2003, os direitos e as patentes foram transferidos para a Ovation Pharmaceuticals. 62
- Atualmente não está disponível (legalmente) nos Estados Unidos; na Espanha, encontra-se nas farmácias legalizadas. 63
Disponibilidade:
- Encontrado no mercado para uso humano e veterinário. 64
- A composição e a dose variam por país/fabricante. 65
- Originalmente é uma droga oral: 2 mg/tableta (Winstrol). 66
- Medicamentos genéricos: 5-10 mg/tableta. 67
- Encontrado também em forma injetável: suspensão de 50 mg/mL. 68
- É uma droga com uma progressiva diminuição do uso clínico/terapêutico, mas com uma grande demanda por parte de fisiculturistas/esportistas, que acabam recorrendo principalmente ao comércio através dos mercados paralelos. 69
Estrutura:
- Modificado a partir de DHT, adicionando um grupo metilo em C-17-alfa e um grupo pirazol no anel A (substituindo o grupo normal 3-ceto, o que o classifica como um EAA heterocíclico). 70
- As modificações foram realizadas para obtenção de um grande poder anabólico associado a um baixo poder androgênico. 71
- A afinidade do receptor hormonal do Estanozolol é mais fraca que a da testosterona e da DHT. 72
- Possui uma vida média mais longa e uma menor afinidade pelas proteínas de ligação séricas. 73
- Apresenta uma possível interação com o receptor celular androgênico, atuando como antagonista do receptor de progesterona (em doses terapêuticas, isso não apresenta atividade progestagênica). 74
- Também tem uma ação redutora da SHBG (aumento do potencial anabólico ao aumentar a fração livre de testosterona). 75
- Um estudo que utilizou 2 mg/kg de Estanozolol observou uma redução de 48,4% da SHBG. 76
- Costuma ser utilizado em combinação com a testosterona (como tem o potencial de reduzir a SHBG, potencializaria o efeito através de um aumento da fração livre de testosterona). 77
Administração: GERAL
- Uso fora das refeições (quando ricas em gordura, aumentam a dissolução da droga, potenciando a falta de uma absorção adequada). 78
- Existem discrepâncias no tamanho das partículas em diferentes apresentações: Winstrol® (Zambon, Espanha) para uso humano tem um pó refinado que permite o uso de agulhas mais finas 79; as partículas de Winstrol®-V (EUA/Canadá) são maiores e podem causar mais dor devido à necessidade de agulhas mais grossas. 80
- Em caso de intolerância aos produtos injetáveis (ou qualquer impedimento para seu uso), pode-se utilizar a forma oral da droga. 81
Administração: HOMENS
- Uso clínico: Oral: 6 mg/dia (3 doses de 2 mg); Injetável: 50 mg a cada 2-3 semanas. 82
- Fisiculturismo/Esporte: 15-25 mg/dia (3 a 5 doses de 5 mg). 83
- Ciclos de EAA por período de 6-8 semanas. 84
- Forma Injetável (humano): 50 mg em dias alternados; Forma Veterinária: 75 mg a cada 3 dias. 85
- Comparação mg/mg: a potência anabólica da forma injetável é maior que a da forma oral. 86
- Para grandes ganhos de massa muscular, combina-se com 200-400 mg por semana de um éster de testosterona. 87
- Para melhora da muscularidade e definição, adiciona-se 150 mg de Trembolona ou 200-300 mg de Primobolan. 88
- Para ganho de massa magra moderada, adiciona-se 200-400 mg de Deca-Durabolin ou Equipoise. 89
Administração: MULHERES
- Uso clínico: forma oral de 4-6 mg/dia (potencialmente androgênico); forma injetável de 50 mg a cada 2-3 semanas. 90
- Fisiculturismo/Esporte: oral de 5-10 mg/dia por 4-6 semanas; injetável de 25 mg a cada 3-4 dias (maior risco de androgenicidade). 91
A seguir, na Tabela 5.1, de forma resumida, as características gerais dos EAA orais apresentados anteriormente:
Tabela 5.1- Características EAA – ORAIS (fonte: www.anabolics.org) 92
Droga | Anabólico | Androgênico | Estrogênico | Hepatotóxico |
---|---|---|---|---|
Oximetolona | +++++ | ++ | +++ | ++++ |
Oxandrolona | ++++ | + | — | + |
Metandrostenolona | +++ | ++ | ++ | +++ |
Metiltestosterona | ++ | +++ | ++++ | ++++ |
Mesterolona | + | ++ | — | + |
Estanozolol | +++ | ++ | — | +++ |
Undecanoato de Testosterona | ++ | ++ | ++ | — |
II) EAA Injetáveis
1) Isobutirato de Testosterona: conhecido com nomes comerciais de AGOVIRIN DEPOT.
- Potencial androgênico: 100 93
- Potencial anabólico: 100 94
- Droga padrão: Isobutirato de testosterona 95
- Nomes Químicos:
- 4-androsten-3-ona-17-beta-ol 96
- 17-beta-hidroxi-androst-4-en-3-ona 97
- Atividade estrogênica: moderada. 98
- Atividade progestagênica: baixa. 99
Descrição:
- Preparação injetável (base aquosa). 100
- Considerado por fisiculturistas como análogo da testosterona em suspensão. 101
- No entanto, apresentam farmacologias diferentes: a Testosterona em suspensão tem ação rápida e aplicações mais frequentes; já o Isobutirato de testosterona é de liberação lenta (1 aplicação a cada 15 dias no uso clínico). 102
- Uso: “ganhos rápidos de massa magra e força”. 103
História:
- Sintetizado em suspensão de microcristais de Isobutirato de Testosterona, em 1952. 104
- Na época, ocorreu a introdução concomitante de novos ésteres de testosterona (ex. Enantato) e, por isso, teve pouco sucesso comercial. 105
- Atualmente, somente a empresa Biotika (República Checa) é fabricante. 106
- É uma droga europeia popular de comercialização no mercado paralelo. 107
Disponibilidade:
- Disponível para uso em humanos. 108
- Nome comercial: Agovirin Depot (Biotika – República Checa). 109
- Dose: 25 mg/mL – base aquosa. 110
- Caixas com 5 ampolas (2 mL). 111
- A baixa solubilidade em água e a separação óleo-água são visíveis. 112
- Agitar o frasco temporariamente devolve a droga à suspensão. 113
Estrutura:
- Forma modificada da testosterona. 114
- Composto de éster de ácido carboxílico (ácido 2-metilpropiônico) unido ao grupo 17-beta-hidroxil. 115
- A forma menos polar dos ésteres promove uma absorção mais lenta do local de aplicação. 116
- Após a absorção, o éster é eliminado do sangue e a testosterona livre (forma ativa) é liberada. 117
- O propósito deste composto é tentar manter os níveis fisiológicos das concentrações de testosterona por aproximadamente 2 semanas. 118
Administração: HOMENS
- Uso clínico: tratamento de deficiência androgênica, 50-100 mg a cada 14 dias. 119
- Fisiculturismo/Esporte: 200-400 mL/semana (4-8 mL). 120
- Injeções semanais são recomendadas. 121
- Efeitos indesejáveis: dor no local (devido ao volume injetado). 122
- Ciclos por período de 6-12 semanas. 123
- Em geral, é combinado com outras drogas (EAA). 124
Administração: MULHERES
- Uso clínico inusitado. 125
- Os tratamentos (quando recomendados) geralmente usam 25-50 mg a cada 14 dias. 126
- Fisiculturismo/Esporte: uso não recomendado (alta potência androgênica, grande potencial virilizante). 127
-x-
2) Decanoato de Nandrolona: conhecido com nomes comerciais de NANDROLONE DECANOATE, DECA-DURABOLIN, DURABOLIN.
- Potencial androgênico: 37 128
- Potencial anabólico: 125 129
- Droga padrão: Testosterona 130
- Nomes químicos:
- 19-norandrost-4-en-3-ona-17-beta-ol 131
- 17-beta-hidroxi-estr-4-en-3-ona 132
- Atividade estrogênica: baixa. 133
- Atividade progestagênica: moderada. 134
Descrição:
- Forma injetável da Nandrolona. 135
- Promove liberação lenta (aproximadamente 3 semanas). 136
- Similar à testosterona, mas com um carbono a menos na posição 19 (19-nortestosterona). 137
- Considerado um anabólico potente, com baixa androgenicidade. 138
- Ocorre a redução da Nandrolona em Diidronandrolona (atuando nos mesmos tecidos-alvo que a testosterona). 139
- É o EAA mais popular entre atletas no mundo. 140
- Uso: ganho de força e massa magra, sem grandes efeitos colaterais androgênicos ou estrogênicos. 141
História:
- Descrita pela primeira vez em 1960 (lançada comercialmente como medicamento em 1962). 142
- Fabricante: Organon (nome comercial: Deca-Durabolin). 143
- É o EAA de maior distribuição mundial. 144
- Inicialmente aprovado para uso pela FDA para: pré/pós-operatório, osteoporose, câncer de mama avançado, perda de peso devido a doenças, fragilidade, queimaduras, traumas severos, úlcera por pressão, anemia, e atraso no crescimento infantil. 145
- No início, foram fabricadas doses de 50 mg/mL, passando depois para até 200 mg/mL. 146
- Após reavaliação da FDA na década de 1970 (1975), as indicações clínicas foram reduzidas para "provavelmente eficaz" para osteoporose e déficit de crescimento infantil, e "possivelmente eficaz" para anemia e câncer de mama. 147
- Atualmente, a liberação da FDA é para anemia (com uso off label em doenças catabólicas). 148
- Em outros locais, o uso clínico é para osteoporose, anemia e câncer de mama avançado. 149
- Outros países apresentam nomes comerciais diferentes e medicamentos genéricos (uso humano/veterinário). 150
Disponibilidade:
- Frequentemente encontrado no mercado para uso humano e veterinário. 151
- Forma: ampolas contendo um veículo oleoso. 152
- Doses: 25 mg, 50 mg, 100 mg, 200 mg por 1 mL (variam dependendo do país/fabricante). 153
Estrutura:
- Forma modificada da Nandrolona pela adição de ácido decanoico no grupo 17-beta-hidroxil. 154
- A forma menos polar dos ésteres promove uma absorção mais lenta do local de aplicação. 155
- Após a absorção, o éster é eliminado do sangue e a Nandrolona livre (forma ativa) é liberada. 156
- Pico de concentração: 24-48 h, com uma diminuição constante ao longo de duas semanas. 157
- Vida média: 7-12 dias (EAA esterificados possuem maior vida média). 158
Administração: HOMENS
- Uso clínico (geral): 50-100 mg a cada 3-4 semanas, por um período de 12 semanas. 159
- Anemia (renal): 100-200 mg/semana. 160
- Fisiculturismo/Esporte: 200-600 mg/semana, por um período de 8-12 semanas. 161
- Evidência empírica: melhor relação ganho/efeitos colaterais é de 4,4 mg/kg/semana (mas também depende da individualidade). 162
- Não é considerada uma droga “fast builder”, promove um ganho comparativo à testosterona de 0,5 (na mesma dose, metade do ganho). 163
- Geralmente, o Decanoato de Nandrolona é associado a outros EAA, como, por exemplo, 200-400 mg de DECA/sem. + 10-20 mg/dia de Winstrol (para "muscularidade e definição no cutting") ou 200-400 mg de DECA/sem. + 15-25 mg/dia de Dianabol (ciclo básico de hipertrofia comumente utilizado por décadas). 164
Administração: MULHERES
- Uso clínico (geral): 50-100 mg a cada 3-4 semanas, por um período de 12 semanas. 165
- Anemia (renal): 50 mg/semana, por um período de 4-6 semanas. 166
- Fisiculturismo/Esporte: 50 mg/semana, por um período de 4-6 semanas. 167
- Droga considerada de baixa androgenicidade, permitindo seu uso em mulheres com maior segurança em relação à virilização. 168
- Um estudo que utilizou 100 mg de DECA em semanas alternadas, por 12 semanas, observou "pequenos efeitos de virilização". 169
- Um estudo que utilizou 50 mg a cada 2-3 semanas, por um ano, observou "efeitos virilizantes mais pronunciados". 170
-x-
3) Undecilato de Boldenona: conhecido com nomes comerciais de EQUIPOISE, BOLDENONA 50, PARENABOL.
- Potencial androgênico: 50 1
- Potencial anabólico: 100 2
- Droga padrão: Testosterona 3
- Nome químico:
- 1,4-androstadiene-3-ona,17-beta-ol, 1-deidrotestosterona 4
- Atividade estrogênica: baixa. 5
- Atividade progestagênica: sem dados (baixa). 6
Descrição:
- “Equipoise”: nome mais comum do Undecilato de Boldenona. 7
- EAA veterinário: considerado anabólico forte, androgênico moderado. 8
- Possui um carbono a mais que o Decanoato. 9
- Vida média mais longa: cada 3-4 semanas de aplicação. 10
- Considerada por atletas como: “mais forte e um pouco mais androgênico que o Deca-Durabolin; mais barato que o Deca-Durabolin”. 11
História:
- Patentado em 1949 pela empresa farmacêutica CIBA. 12
- Décadas de 1950-60: desenvolvimento de fórmula com vida média longa. 13
- Vendido inicialmente como PARENABOL (Parenteral/Boldenona). 14
- Décadas de 1960-70: usos clínicos para doenças catabólicas e osteoporose. 15
- Foi descontinuado para humanos nos anos 1970. 16
- Squibb (empresa farmacêutica): introdução no mercado veterinário (uso mais comum em cavalos: aumento de massa magra, apetite, humor do animal). 17
- Até 1985 a patente era da Squibb, passando posteriormente para a empresa Solvay, e atualmente fabricado pela Wyeth. 18
- Atual: ainda se comercializa nos EUA e outros mercados. 19
- Diferentes nomes genéricos em diferentes países (a patente expirou). 20
Disponibilidade:
- Disponível amplamente em mercados veterinários. 21
- Dose varia segundo país/fabricante. 22
- Em geral vem em frascos multidose. 23
- Dose: 25-50 mg/mL (mercados menos regulados – Ásia – 200 mg/mL). 24
Estrutura:
- Forma modificada da testosterona por adição de uma dupla ligação entre C1-C2 (conferindo menor androgenicidade/estrogenicidade). 25
- Equipoise®: adição de um Ácido Undecilênico no grupo 17-beta-hidroxil. 26
- A forma menos polar dos ésteres promove absorção mais lenta do local de aplicação. 27
- Após a absorção, o éster é eliminado do sangue e se libera Boldenona livre (forma ativa). 28
- Pico de concentração em alguns dias. 29
- Manutenção da concentração sanguínea da droga durante aproximadamente 21-28 dias. 30
- Boldenona e Metandrostenolona: quase idênticos (mas com ações diferentes no organismo), diferem em: Boldenona apresenta um 17-beta-éster; e Metandrostenolona um 17-alfa-alquil (facilita administração). 31
Administração: HOMENS
- Uso clínico: sem uso em humanos. 32
- Fisiculturismo/Esporte: 200-400 mg/semana (4-8 mL, 50 mg). 33
- Uso: “ganhos mais lentos/progressivos”; “ganhos mais sólidos/definidos”; “menos retenção, quando se para o uso, mantém o ganho observado no ciclo (efeitos observados com pelo menos 8 semanas de ciclo). 34
- Considerado também como droga versátil, e é frequente o uso associado (ex. Boldenona + Enantato de Testosterona, ou Cipionato de Testosterona). 35
- Droga mais utilizada em bulking (fase de grandes ganhos). 36
- Quando se utiliza na fase de corte, geralmente se associa com o Acetato de Trembolona ou o Enantato de Metenolona. 37
Administração: MULHERES
- Doses utilizadas são muito menores que em homens. 38
- Usual: 50-75 mg/semana. 39
- É preciso ter cautela ao administrar drogas com um longo período de vida média, porque quando os efeitos adversos começam, a droga ainda permanecerá por algum tempo com uma concentração mais alta até a diminuição progressiva por metabolização, potencializando os efeitos (por exemplo, a virilização). 40 As drogas de vida média curta (por exemplo, a oxandrolona), ao início dos efeitos, se a ingestão for interrompida, as concentrações diminuem, detendo a progressão dos efeitos indesejáveis. 41
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4) Propionato de Drostanolona: conhecido com nomes comerciais de DROMOSTAN, MASTERON.
- Potencial androgênico: 25-40 42
- Potencial anabólico: 62-130 43
- Droga padrão: Testosterona 44
- Nomes químicos:
- 2-alfa-metil-androstan-3-ona-17-beta-ol 45
- 2-alfa-metil-di-hidrotestosterona 46
- Atividade estrogênica: nenhuma. 47
- Atividade progestacional: sem dados (baixa). 48
Descrição:
- Nome comercial mais comum: MASTERON. 49
- Derivado pela modificação da DHT por adição de um grupo 2-metil (aumento da propriedade anabólica). 50
- Descrito pelos usuários como: “Esteroide anabólico potente, com atividade antiestrogênica” (droga “moderada” quando se compara com outros agentes). 51
- Fisiculturismo/Esporte: “ganhos sólidos/ganhos secos/redução do % de gordura corporal/efeitos adversos mínimos”. 52
História:
- Descrito pela primeira vez em 1959 (empresa Syntex). 53
- Somente 10 anos depois foi introduzido no mercado como medicamento. 54
- Houve um acordo de pesquisa, desenvolvimento e comercialização entre a empresa americana Lilly e a Syntex: Lilly operando no mercado estadounidense, Syntex operando em outros mercados. 55
- Nomes comerciais em diferentes locais: EUA: Drolban; Bélgica/Portugal: Masteron; Reino Unido/Bulgária: Masteril; Espanha: Montormon; França: Permastril; Japão: Mastisol; Alemanha: Masterid. 56
- Aprovação da FDA (e nos mercados internacionais) para uso clínico como uma forma de tratamento para o câncer de mama inoperável. 57
- 1980 – retirada do mercado (terapias mais efetivas para o tratamento do câncer de mama). 58
- Continua figurando na farmacopeia estadounidense, mas não há nenhuma indicação de uso clínico e, portanto, de venda. 59
- Muito popular, droga de uso entre os atletas nos anos 70 e 80. 60
- Considerado como menos virilizante (se comparado com o propionato de testosterona), mas, quando utilizado em doses elevadas (300 mg/semana) e por longo prazo, pode ter efeito virilizante. 61
Disponibilidade:
- Não disponível no mercado de medicamentos para uso humano. 62
- Apresentação em ampolas de 1-2 mL e frascos de 10 mL. 63
- 50-100 mg/mL de EAA em veículo oleoso. 64
- Modificado da DHT: + grupo metil no C-2-alfa, que aumenta a potência anabólica e aumenta a resistência à metabolização no músculo (3-hidroxiesteroide desidrogenase). 65
Estrutura:
- Modificado da DHT pela adição de um grupo metilo no C-2-alfa que confere maior propriedade anabólica e aumenta a resistência à metabolização no músculo pela enzima 3-HSD. 66
- Propionato de Drostanolona: forma modificada da Drostanolona pela adição de um ácido propiônico no grupo 17-beta-hidroxilo. 67
- A forma menos polar dos ésteres promove absorção mais lenta do local de aplicação. 68
- Após a absorção, o éster é eliminado do sangue e se libera a Drostanolona livre (forma ativa). 69
- Vida media de aproximadamente dois dias. 70
Administração: HOMENS
- Uso clínico: não aprovado pela FDA. 71
- Fisiculturismo/Esporte: 200-400 mg/semana (injetados 3x/semana), usado em ciclos de 6-12 semanas. 72
- Uso: “ganhos de massa e força muscular consideráveis (seco)”. 73
- Em geral tem seu uso combinado, para melhor efeito, com: Deca-Durabolin (Decanoato de Nandrolona); ou Equipoise (Undecilato de Boldenona); ou ésteres de testosterona. 74
- Droga de uso mais comum na fase de cutting (em geral combinado com: Winstrol/Primobolan/Parabolan/Anavar). 75
Administração: MULHERES
- Uso clínico: 100 mg/3x semana por período de 8-12 semanas. 76
- Efeitos virilizantes são comuns nesta dose (< 100 mg: efeito virilizante incomum). 77
- Fisiculturismo/Esporte: 50 mg/semana (divididos em 2-3 aplicações), usado em ciclos de 4-6 semanas. 78
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5) Enantato de Metenolona: conhecido com nomes comerciais de PRIMOBOLAN DEPOT.
- Potencial androgênico: 44-57 79
- Potencial anabólico: 88 80
- Droga padrão: Testosterona 81
- Nomes químicos:
- 17-beta-hidroxi-1-metil-5-alfa-androst-1-en-3-ona 82
- 1-metil-1(5-alfa)-androsten-3-ona-17-beta-ol 83
- Atividade estrogênica: nenhuma. 84
- Atividade progestagênica: sem dados (baixa). 85
Descrição:
- Primobolan: nome comercial mais comum de Enantato de Metenolona. 86
- Éster de Enantato apresenta liberação mais lenta e é semelhante ao Enantato de Testosterona. 87
- Níveis de concentração são mantidos por aproximadamente 2 semanas. 88
- Droga considerada como de efeito “anabólico moderado/forte e androgênico muito baixo”. 89
- Tem um efeito anabólico mais fraco em comparação com o Deca-Durabolin (comparação mg/mg). 90
- Droga mais utilizada na fase de cutting (manutenção de massa magra). 91
História:
- Descrito pela primeira vez em 1960 (empresa farmacêutica Squibb). 92
- Em 1962, foi introduzido no mercado como medicamento. 93
- Nos EUA, foi comercializado durante um curto tempo (Nibal® Depot). 94
- Os direitos do fármaco foram transferidos para a empresa farmacêutica Schering e posteriormente para a Bayer. 95
- Nos anos 1960-70, passou a ser comercializado como Primobolan® Depot (também em diversos países europeus). 96
- A patente permaneceu até o final dos anos 70. 97
- Apesar de não ter sido comercializado por décadas, é um medicamento aprovado pela FDA para uso clínico em: catabolismo secundário a cirurgias/infecções prolongadas/doenças consuntivas/altas doses de corticoterapia/osteoporose por convalescença/sarcopenia/hepatite crônica/adjuvante no tratamento do câncer de mama/ganho de peso em lactentes e crianças prematuras. 98
- Uso em atletas: “muscularidade, poucos efeitos colaterais”. 99
- Nos anos 1990, a empresa Schering fez reavaliar suas indicações de uso clínico pela FDA, e a companhia não quis que seu nome fosse relacionado com o uso da droga com fins não terapêuticos (estética, doping). 100
- Assim, houve uma parada comercial na maioria dos países. 101
- Atualmente permanece comercializado nos países: Espanha, Turquia, Japão, Paraguai, Equador. 102
- A empresa Bayer é o produtor quase exclusivo (Enantato de Metenolona). 103
- Encontrado frequentemente em preparações do mercado paralelo. 104
Disponibilidade:
- Ampolas (1 mL) contendo 100 mg de Enantato de Metenolona. 105
- Composição/dose: varia segundo país/fabricante. 106
Estrutura:
- Derivado da DHT, modificado por adição de uma dupla ligação entre C1-C2 (confere maior estabilidade do grupo 3-ceto + maior anabolismo) e por adição de um grupo 1-metilo (confere maior proteção à metabolização hepática). 107
- Primobolan Depot: Metenolona + ácido enantoico no grupo 17-beta-hidroxilo. 108
- A forma menos polar dos ésteres promove absorção mais lenta do local de aplicação. 109
- Após a absorção, o éster é eliminado do sangue e se libera a forma livre (forma ativa). 110
Administração: HOMENS
- Uso clínico: dose inicial de 200 mg por semana e, depois disso, 100 mg por semana. 111
- Uso prolongado: dose de 100 mg a cada 1-2 semanas ou 200 mg a cada 2-3 semanas. 112
- Fisiculturismo/Esporte: 200-400 mg/semana em ciclos por um período de 6-12 semanas. 113
- Em geral, o uso é feito em combinação com outros EAA: fase de cutting combinada com Halotestin/Trembolona/Estanozolol; e fase de bulking combinada com ésteres de testosterona ou boldenona. 114
Administração: MULHERES
- Uso clínico: dose inicial de 200 mg por semana e, depois, 100 mg por semana. 115
- Fisiculturismo/Esporte: 50-100 mg/semana, em ciclos por um período de 4-8 semanas. 116
- Em geral, o uso é feito em combinação com outros EAA com o objetivo de obter o maior ganho e o menor risco de efeitos adversos: 1) com Winstrol® Depot (25 mg/2x por semana); ou com Oxandrolona (7,5-10 mg/dia). 117
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6) Cipionato de Testosterona: conhecido com nomes comerciais de DEPOSTERON, TESTOSTERONE CYPIONATE, TESTOLAND DEPOT. 1
- Potencial androgênico: 100 2
- Potencial anabólico: 100 3
- Droga padrão: Testosterona 4
- Nomes químicos:
- 4-androsten-3-ona-17-beta-ol 5
- 17-beta-hidroxi-androst-4-en-3-ona 6
- Atividade estrogênica: moderada. 7
- Atividade progestagênica: baixa. 8
Descrição:
- Éster injetável de ação lenta. 9
- Uso: “grandes ganhos de massa e força”. 10
- Droga de eleição na fase de bulking (fisiculturismo). 11
- Entre as drogas mais potentes para ganho de massa. 12
História:
- Surgiu em 1950 como medicamento no mercado americano (Depo-Testosterone) através da empresa Pharmacia & Upjohn. 13
- É uma droga de oferta mundial limitada, mais reservada ao mercado americano. 14
- Historicamente, foi mais utilizado que o Enantato de Testosterona por atletas americanos. 15
- A vantagem/viabilidade de uso se deve à história (americana) e à disponibilidade de mercado. 16 O Ácido Cipiónico é menos irritante que o Ácido Enantoico (Enantato), causando menos dor. 17
- A liberação e ação são bastante semelhantes ao Enantato de Testosterona e ao Propionato de Testosterona. 18
- Uso clínico: na década de 1960, foi aprovado para déficit androgênico, aumento da maturidade óssea, menorragia (sangramento menstrual abundante), lactação excessiva, doenças catabólicas e osteoporose. 19 Nos anos 1970, houve uma maior inspeção e reavaliação das indicações clínicas pela FDA, e começou a ser utilizado principalmente para o tratamento da deficiência androgênica. 20 Atualmente, a FDA o libera para uso como reposição hormonal em condições associadas à deficiência androgênica. 21
- Disponível em mercados de diferentes países, como Canadá, Austrália, Espanha, Brasil, África do Sul. 22
Disponibilidade:
- Composição/dose: varia segundo país/fabricante. 23
- Em geral, as apresentações são em ampolas de 50 mg/mL, 100 mg/mL, 125 mg/mL, 200 mg/mL. 24
- Preparação dissolvida em óleo. 25
Estrutura:
- Modificado da testosterona pela adição de um ácido ciclopentilpropiônico no grupo 17-beta-hidroxilo. 26
- A forma menos polar dos ésteres promove absorção mais lenta do local de aplicação. 27
- Após a absorção, o éster é eliminado do sangue e se libera a forma livre (forma ativa). 28
- Vida média de aproximadamente 8 dias. 29
- Esta droga tem um maior potencial de conversão para estrógeno (através da enzima aromatase), podendo promover maior efeito adverso devido ao aumento de estrógeno (por exemplo, ginecomastia). 30 Alguns usuários usam em combinação drogas antiestrógeno ou inibidores da aromatasa. 31
Administração: HOMENS
- Uso clínico: de 50-400 mg, a cada 2-4 semanas. 32
- Fisiculturismo/Esporte: de 200-600 mg/semana em ciclos por um período de 6-12 semanas. 33
- Droga utilizada principalmente na fase de bulking pela retenção associada ao aumento de estrógeno (e consequente perda da definição corporal). 34
- Quando utilizada na fase de cutting, em geral o uso é com menor dose (100-200 mg/sem.) e associado a inibidores de aromatasa. 35
- Relatos mostram que o uso isolado “já promove boas ganhos de massa/força”. 36
- Quando utilizado em stacking (combinação): Cipionato + 200-400 mg de Undecilato de Boldenona, ou Enantato de Metenolona, ou Decanoato de Nandrolona. 37
- Nos anos 1990, foi considerado um EAA barato e com alta disponibilidade de compra no mercado, o que levou ao uso de megadoses (1000 mg/sem.), que sabidamente são ineficientes em promover mais ganhos que doses moderadas, aumentando o risco de efeitos adversos. 38
Administração: MULHERES
- Uso clínico: raro/não comum (câncer de mama inoperável, quando falham outras terapias). 39
- Fisiculturismo/Esporte: Uso não recomendado (alto potencial de androgenização e, também, é uma medicação de ação prolongada, e uma vez que se iniciam os sinais e sintomas indesejáveis, podem continuar ocorrendo devido à longa vida média da droga). 40
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7) Enantato de Testosterona: conhecido com nomes comerciais de TESTOSTERONA ENENTHATE, DELASTERYL. 41
- Potencial androgênico: 100 42
- Potencial anabólico: 100 43
- Droga padrão: Testosterona 44
- Nomes Químicos:
- 4-androsten-3-ona-17-beta-ol 45
- 17-beta-hidroxi-androst-4-en-3-ona 46
- Atividade estrogênica: moderada. 47
- Atividade progestagênica: baixa. 48
Descrição:
- Forma de ação lenta modificada da testosterona. 49
- Liberação prolongada: aplicação a cada 2-3 semanas. 50 O uso clínico pode chegar a 1x/semana. 51
- Uso: “grandes ganhos de massa e força”. 52
História:
- Primeiro EAA em mercados orientais (1950). 53
- Primeiro éster injetável utilizado de ação prolongada. 54
- Substituto efetivo do Propionato (para a maior parte dos usos clínicos). 55
- Delatestryl® (empresa farmacêutica Squibb) foi o primeiro nome comercial no mercado americano. 56
- Na Alemanha (empresa farmacêutica Schering), o Testoviron® por 50 anos foi o EAA injetável mais utilizado. 57
- Atualmente é o EAA mais prescrito no mundo. 58
- Uso clínico aprovado historicamente principalmente para reposição hormonal associada ao déficit androgênico. 59
- Outras indicações clínicas são: atraso da puberdade/câncer de mama inoperável (como adjuvante, droga considerada de segunda linha). 60
Disponibilidade:
- Encontrado no mercado para uso humano e veterinário. 61
- Composição/dose: varia por país/fabricante. 62
- Em geral a apresentação é em ampolas de vidro que contêm 50 mg/mL, 100 mg/mL, 200 mg/mL, 250 mg/mL. 63
- Preparação dissolvida em óleo. 64
Estrutura:
- Forma modificada da testosterona pela adição de um ácido enantoico no grupo 17-beta-hidroxilo. 65
- A forma menos polar dos ésteres promove absorção mais lenta no local de aplicação. 66
- Após a absorção, o éster é eliminado do sangue e se libera a forma livre (forma ativa). 67
- Vida média de aproximadamente 8 dias (maior janela terapêutica/aplicação menos frequente). 68
Administração: HOMENS
- Uso clínico (principalmente relacionado ao déficit androgênico): 50-400 mg cada 2-4 semanas. 69
- Fisiculturismo/Esporte: 200-600 mg/semana, em ciclos por período de 6-12 semanas. 70
- Droga principalmente utilizada na fase de bulking devido à perda de qualidade física (definição corporal) promovida pelo aumento do estrógeno e a consequente retenção de água. 71
- Quando se utiliza na fase de cutting, usa-se uma dose menor (100-200 mg/sem.) e se associa ao uso de inibidores de aromatasa. 72
- Os relatos dizem que o uso isolado “já promove boas ganhos de massa/força”. 73
- Quando utilizado em stacking (combinação): Enantato + 200-400 mg de Undecilato de Boldenona, ou Enantato de Metenolona, ou Decanoato de Nandrolona. 74
Administração: MULHERES
- Uso clínico: raro/não comum (câncer de mama inoperável, quando falham outras terapias). 75
- Fisiculturismo/Esporte: Uso NÃO recomendado (alto potencial de androgenização e, além disso, é um medicamento de ação prolongada, e uma vez que se iniciam os sinais e sintomas indesejáveis, podem continuar ocorrendo devido à longa vida média). 76
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8) Propionato de Testosterona: conhecido com nomes comerciais de TESTOSTERONE PROPIONATE, TESTOGAN, TESTOSTERON. 77
- Potencial androgênico: 100 78
- Potencial anabólico: 100 79
- Droga padrão: Testosterona 80
- Nomes Químicos:
- 4-androsten-3-ona-17-beta-ol 81
- 17-beta-hidroxi-androst-4-en-3-ona 82
- Atividade estrogênica: moderada. 83
- Atividade progestagênica: baixa. 84
Descrição:
- Forma injetável de testosterona modificada pela adição de um éster de propionato que confere ação mais lenta que a testosterona (mas é mais rápida que o Enantato e o Cipionato, requerendo mais aplicações por semana). 85
- Droga mais antiga, considerada por alguns como obsoleta (atualmente existem ésteres mais cômodos para administração menos frequente). 86
- Uso: “Ganhos grandes e rápidos de força/massa”. 87
História:
- Descrito pela primeira vez em 1935. 88
- Em 1937, foi introduzido no mercado para uso clínico como Testoviron® (Schering/Alemanha). 89
- Primeiro éster de testosterona que foi comercializado nos EUA. 90
- Dominou o mercado até 1960. 91
- Em 1950, atletas utilizavam principalmente a metiltestosterona, ou propionato e as testosteronas em suspensão. 92
- Esteve disponível também em forma oral/bucal (até 1980). 93
- Uso clínico proposto principalmente para: déficit androgênico, menopausa, menorragia (sangramento menstrual abundante), TPM, mamas fibrocísticas, endometriose e lactação excessiva. 94
- Até 1980, tinha um amplo espectro de indicações clínicas; depois disso, a liberação da FDA foi para seu uso somente em homens. 95
- Apresenta uma longa história de utilização, pois foi o primeiro éster adequadamente projetado para uso clínico. 96
- Continua sendo popular, mas mais por sua história do que por sua utilidade, porque Cipionato e Enantato são mais cômodos (ação mais longa, menos necessidade de mais aplicações). 97
- Aprovado pela FDA, mas com futuro questionável. 98
- Fisiculturismo/Esporte: uso para “físico mais denso”. 99
- No entanto, a escolha exclusiva não tem muito sentido, já que a diferença entre ésteres (Cipionato e Enantato) é mínima, pois o efeito está mais relacionado com a dose utilizada do que com a qualidade/tipo da droga. 100
Disponibilidade:
- Disponível no mercado para uso humano/veterinário. 101
- Composição/dose: varia por país/fabricante. 102
- Em geral, apresentações em ampolas que contêm: 25, 50, 100 mg/mL. 103
- Preparação dissolvida em óleo. 104
- Droga que vem tendo um progressivo desuso. 105
- O mercado paralelo (principalmente na Ásia) ainda produz em grandes quantidades. 106
Estrutura:
- Forma modificada da testosterona pela adição de um Ácido propiônico no grupo 17-beta-hidroxilo. 107
- A forma menos polar dos ésteres promove absorção mais lenta no local de aplicação. 108
- Após a absorção, o éster é eliminado do sangue e se libera a forma livre (forma ativa). 109
- Vida média: de aproximadamente dois dias. 110
Administração: GERAL
- Aplicação dolorosa (o Ácido propiônico é um éster de cadeia curta, o que o torna mais irritante para os tecidos). 111
- Em alguns casos, pode apresentar dor intensa/febre baixa. 112
- Requer múltiplas aplicações semanais, e por isso a adesão ao uso diminui. 113
Administração: HOMENS
- Uso clínico: de 25-50 mg, aplicados 2-3x/semana. 114
- Fisiculturismo/Esporte: 200-400 mg/semana (50-100 mg/aplicação). 115
- Uso: “grandes ganhos de volume muscular e força”. 116
- Relatos dizem que o uso isolado “já promove boas ganhos de massa/força”. 117
- Quando utilizado em stacking (combinação): Propionato + 200-400 mg de Undecilato de Boldenona; ou Enantato de Metenolona; ou Decanoato de Nandrolona. 118
Administração: MULHERES
- Fisiculturismo/Esporte: droga mais utilizada que o Enantato e o Cipionato (justamente pela vida média mais curta, possui maior rapidez de redução das concentrações sanguíneas se for necessário interromper o uso devido a efeitos adversos). 119
- Dose: 25 mg a cada 5-7 dias, em ciclos por período de 6-8 semanas. 120
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9) Blend de Testosterona (mix de ésteres): conhecido com nomes comerciais de DURATESTON, SUSTANON 250. 121
- Potencial androgênico: 100 122
- Potencial anabólico: 100 123
- Droga padrão: Testosterona 124
- Nomes químicos:
- 4-androsten-3-ona-17-beta-ol 125
- 17-beta-hidroxi-androst-4-en-3-ona 126
- Atividade estrogênica: moderada. 127
- Atividade progestagênica: Baixa. 128
Descrição:
- Blend oleoso de testosterona (4 ésteres). 129
- Propionato de testosterona (30 mg). 130
- Fenilpropionato de testosterona (60 mg). 131
- Isocaproato de testosterona (60 mg). 132
- Decanoato de testosterona (100 mg). 133
- Tempo de absorção prolongado (3-4 semanas/aplicação). 134
- EAA considerado de grande capacidade anabólica/androgênica. 135
- Fisiculturismo: mais utilizado na fase bulking para grandes ganhos de massa/volume corporal/força. 136
História:
- Surgimento nos anos 1970, na farmacêutica Organon, que passou posteriormente a ser Merck MSD. 137
- O objetivo do medicamento era ser uma alternativa a ésteres mais curtos. 138
- Nunca foi aprovado para uso pela FDA dos EUA (custos de aprovação da FDA, quando havia outros ésteres comparáveis no mercado como Cipionato/Enantato). 139
- Ainda hoje é uma das marcas de testosterona mais populares do mundo, sendo o EAA mais procurado entre os atletas. 140
- Valor agregado ao stacking (uso combinado) para aumentar a potência de outros EAA utilizados conjuntamente. 141
- A vantagem principal do uso clínico é o maior intervalo de aplicações (vida média mais larga). 142
- Fisiculturismo/Esporte: quando a quantidade é maior, sobretudo se as aplicações são semanais, aumenta o custo (mais caro que o Cipionato, por exemplo), piora a comodidade (dor na aplicação), e com a mesma potência que outros EAA. 143
Disponibilidade:
- Disponível no mercado para uso humano/veterinário. 144
- Unidades por caixa variam por país/fabricante. 145
- Apresentação em ampolas de 1 mL. 146
- Possui ampla distribuição mundial (maioria Merck MSD). 147
- Encontrado no mercado paralelo (principalmente Ásia). 148
Estrutura:
- Mistura de quatro compostos de testosterona, adicionados de ésteres de ácido carboxílico no grupo 17-beta-hidroxilo (propiônico/Fenil propiônico/Isocaproico/Decanoico). 149
- A forma menos polar dos ésteres promove absorção mais lenta do local de aplicação. 150
- Após a absorção, o éster é eliminado do sangue e se libera a forma livre (forma ativa). 151
- Pico rápido de ação (24-48 h após a aplicação intramuscular). 152
- Manutenção da concentração por aproximadamente 21 dias. 153
- Cada ampola (250 mg) contém 176 mg de testosterona. 154
Administração: GERAL
- A aplicação costuma ser dolorosa e pode formar endurecimentos localizados no local onde se aplicou a droga, porque o ácido propiônico é um éster de cadeia curta e proporciona uma maior irritação dos tecidos. 155 Em alguns casos pode associar-se dor intensa e febre baixa. 156
Administração: HOMENS
- Uso clínico: 250 mg cada 3 semanas. 157
- Fisiculturismo/Esporte: de 250-750 mg cada 7-10 dias, em ciclos por períodos de 6-12 semanas. 158
- Uso: “ganhos excepcionais de força/massa”. 159
- Droga utilizada principalmente na fase de bulking, pelo aumento potencial de estrógeno, e assim, maior retenção de água, com perda da definição corporal. 160
- Quando utilizada em cutting, as doses variam de 125-250 mg cada 7-10 dias, associado a inibidores de aromatasa. 161
- A utilização de megadoses (> 750 mg/semana) torna-se ineficiente, pois não aumenta muito mais os ganhos enquanto potencia o aparecimento de efeitos adversos. 162
- Relatos dizem que o uso isolado “já promove boas ganhos de massa e força”. 163
- Quando utilizado em stacking (combinação): Blend de Testosterona + 200-400 mg de Undecilato de Boldenona, ou Enantato de Metenolona, ou Decanoato de Nandrolona. 164
Administração: MULHERES
- Uso clínico: RARO (utilizado para indução de masculinização em transexuais). 165
- Fisiculturismo/Esporte: uso NÃO recomendado (alto potencial de androgenização e droga de ação prolongada, tornando difícil o controle de níveis sanguíneos, assim como, se houver efeitos adversos, não há possibilidade de redução mais rápida das concentrações séricas para evitar progressão ou a regressão dos sinais e sintomas não desejados). 166
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10) a) Acetato de Trembolona: conhecido com nomes comerciais de TREMBOLONA ACETATO, FINAPLIX-H, TREMBOLONE ACETATE. 167
b) Enantato de Trembolona: conhecido com nomes comerciais de TRENBOL DEPOT, TRENANT, TREMBOLONE ENANTHATE, TREMBOLONE 200. 168
c) Hexahidrobenzilcarbonato de Trembolona: conhecido com nomes comerciais de PARABOLAN, DANABOLAN, TRENAPLEX D. 169
- Potencial androgênico: 500 170
- Potencial anabólico: 500 171
- Droga padrão: Acetato de NANDROLONA 172
- Nome químico:
- 17-beta-hidroxiestra-4,9,11-trien-3-ona 173
- Atividade estrogênica: nenhuma. 174
- Atividade progestagênica: moderada. 175
Descrição (Acetato de Trembolona):
- Sintetizado em 1963 por Velluz et al. 176
- Um projeto anterior de síntese da droga foi da Roussel – UCLAF. 177
- Iniciou as vendas nos anos 1970 (Acetato de Trembolona), na Inglaterra pela empresa Hoesch, e na França pela Roussel (nome comercial em ambos os lugares: Finajet). 178
- Droga de uso veterinário, mas já havia sido comercializada para uso em humanos (Parabolan – éster de longa duração). 179
- Uso veterinário – em gado quase exclusivamente, para aumento da taxa de ganho de peso e da eficiência da alimentação (logo antes do abate), visando o aumento da rentabilidade. 180
Descrição (Enantato de Trembolona):
- Farmacocinética semelhante ao Enantato de Testosterona. 181
- Droga intercambiável com Parabolan (hexahidrobenzilcarbonato de trembolona). 182
- Pico de concentração rápido (até 48 h), manutenção por aproximadamente 2 semanas. 183
- Introduzido no mercado em 2004 (empresa British Dragon) sob o nome comercial de Trenabol (200 mg/mL). 184
- Droga não aprovada (FDA) para uso humano/veterinário. 185
Descrição (Hexahidrobenzilcarbonato de Trembolona):
- Composto mais longo que o acetato, o que lhe confere um aumento da vida média de pelo menos 2 semanas, e com isso as aplicações podem ser menos frequentes. 186
- Produzido por Negma Laboratories (França) sob os nomes comerciais de Parabolan/Hexabolan. 187
- Única forma de Trembolona conhecida e produzida como medicamento para uso humano. 188
- Uso clínico para: caquexia, osteoporose, má nutrição. 189
- Em 1997, ocorre o fim da produção pela Negma Laboratories. 190
- Ainda produzido (pequena quantidade) no mercado paralelo. 191
História:
- A droga foi popular nos anos 1980, com grande quantidade de contrabando de medicamentos da Europa para o mundo. 192
- Conhecido entre os usuários por seu grande poder anabólico e androgênico. 193
- Tornou-se droga de eleição por fisiculturistas americanos, e assim ganhou rápida fama no mundo. 194
- Nos anos 1990, a empresa Hoechst-Roussel suspendeu as vendas de trembolona injetável, por não querer ter seu nome ligado a escândalos de dopagem ou uso não terapêutico. 195
- Após o fim da produção de Finajet/Finaject, a Hoechst-Roussel introduziu no mercado americano o Finaplix (apresentação em pellets) para uso veterinário. 196
- Há relatos de que atletas dissolvem os pellets em um veículo oleoso para preparações injetáveis ou os trituram para inalar/aspirar. 197
- Nos anos 1990, surgiram kits para a preparação injetável da trembolona. 198
- Nenhum medicamento atual do mercado lícito para uso humano contém Acetato de Trembolona; no entanto, continua sendo produzido em mercados paralelos para uso humano. 199
Disponibilidade:
- Encontrado em mercados para uso humano e veterinário. 200
- Apresentação em pellets de 20 mg que contêm Acetato de trembolona (Finaplix). 201
- Injetáveis: apresentação contém 30-100 mg/mL em preparação oleosa (UNDG). 202
- A empresa Alpha-Pharma (Índia) produz/comercializa TrenaRapid 100 mg/mL. 203
- A empresa Asia Pharma (Malásia) produz/comercializa Trenabolic 80 mg/mL. 204
Estrutura (Acetato de Trembolona):
- Forma modificada da Nandrolona pela adição de uma dupla ligação C-9 e C-11 (inibe a aromatização/aumenta a afinidade pelo receptor androgênico/reduz a metabolização hepática); e pela adição de um Ácido acético no grupo 17-beta-hidroxilo (promove a liberação mais lenta do local injetado). 205
- Considerado como droga mais potente (efeito anabólico e efeito androgênico) que a Nandrolona. 206
Estrutura (Enantato de Trembolona):
- Forma modificada da Nandrolona pela adição de uma dupla ligação C-9 e C-11 e pela adição de um Éster de Enantato no grupo 17-beta-hidroxilo. 207
Estrutura (Hexahidrobenzilcarbonato de Trembolona):
- Forma modificada da Nandrolona pela adição de uma dupla ligação C-9 e C-11 e pela adição de um Éster de Hexahidrobenzilcarbonato no grupo 17-beta-hidroxilo. 208
Administração: GERAL
- Embora o uso humano não esteja aprovado pela FDA, encontramos várias companhias que fabricam o produto. 209
- Fisiculturismo/Esporte: 100-300 mg por semana, divididas em 2-3 doses semanais, em ciclos por período de 6-8 semanas. 210
- Uso: “droga que não aromatiza, promovendo menos retenção. Potencial androgênico alto, promovendo aumento da densidade muscular”. 211
- A potência da droga é comparada à da Testosterona e do Dianabol. 212
- Na comparação de mg/mg, é uma droga mais potente que a maioria das drogas anabólicas não aromatizáveis. 213
Administração: HOMENS
- Quando utilizado em stacking, “ajuda em ganhos”, e quando utilizado de forma isolada, “poucas ganhos”. 214
- Uso associado na fase de cutting: adição de Winstrol® ou Primobolan®. 215
- Uso associado na fase de bulking: adição de Deca-Durabolin® ou Equipoise®. 216
- Fisiculturismo/Esporte: para objetivos de “ganho magro”, em geral com adição de testosterona ou dianabol (considerado o “stacking mais potente para massa magra”). 217
- Como possui uma atividade progestagênica moderada, pode ocorrer ginecomastia e, além disso, a possibilidade de uma maior inibição do eixo HHG. 218
Administração: MULHERES
- Uso clínico: não aprovado. 219
- Fisiculturismo/Esporte: não recomendado (efeito androgênico forte, com grande potencial de efeito virilizante indesejado). 220
-x-
A seguir, na tabela 5.2, de forma resumida, se mostram as características gerais dos EAA injetáveis mencionados anteriormente. 221
Tabela 5.2 – Características EAA – INJETÁVEIS (fonte: www.anabolics.org) 222
Droga | Anabólico | Androgênico | Estrogênico | Hepatotóxico |
---|---|---|---|---|
Undecilato de Boldenona | ++ | ++ | + | — |
Propionato de Drostanolona | ++ | ++ | — | — |
Enantato de Metenolona | ++ | + | — | — |
Decanoato de Nandrolona | +++ | + | + | — |
Cipionato de Testosterona | +++ | +++ | +++ | — |
Enantato de Testosterona | +++ | +++ | +++ | — |
Propionato de Testosterona | +++ | +++ | +++ | — |
Blend de Testosterona | +++ | +++ | +++ | — |
Trembolona | +++++ | +++++ | — | ++ |
Isobutirato de Testosterona | +++ | +++ | +++ | — |
Referências 223
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Clapp B. Anabolic Steroids: ultimate research guide (1st vol.). 226 Anabolic Information LLL, 2005. 227
Complete Steroid Handbook, 1st ed., 2004. Disponível em: www.hardcorebodybuildingontheweb.com. 228 Acesso em: 14 mai 2018. 229
Guimarães WM. 230 Musculação anabolismo total, 9. ed. 231 Editora Phorte, 2000. 232
Haluch D. Hormônios no fisiculturismo (história, fisiologia e farmacologia. 233 Editora Letras Contemporâneas: Florianópolis, Brasil, 2017. 234
King J. The Big Book of Steroids: An unbiased look at the world of Performance Enhancing Drugs. 235 1st ed. 236 Amazon Digital Services LLC, 2016. 237
Kochakian CD. Anabolic-Androgenic Steroids – Handbook of Experimental Pharmacology. 238 Springer Ed. New York, 1976. 239
Krüskemper HL. Anabolic Steroids, Academic Press Ed., New York and London, 1968. 240
Llewellyn W. Anabolics 11th ed. 241 Molecular Nutrition, United States, 2017. 242
Capítulo 6
- Ciclos e a relação com hipertrofia e definição -
Após o breve conhecimento sobre os diferentes tipos de EAA que foi abordado no capítulo anterior, neste capítulo trataremos de exemplos de diferentes tipos de ciclos de EAA comumente utilizados no campo da estética e do esporte1. Portanto, para notificação formal aos leitores, aqui estão alguns pontos de atenção:
- Os exemplos de ciclos utilizados com fins estéticos e esportivos não foram avaliados clinicamente (especialmente em publicações científicas de bom desenho metodológico) no que diz respeito à máxima eficácia, à segurança de uso nas doses recomendadas, bem como aos efeitos da combinação de diferentes tipos de EAA2.
- Os exemplos dos ciclos de EAA são ilustrativos, pois a maioria deles foi retirada de fontes de informação empírica (livros de texto, com informação da prática) e, como tal, não são nem devem servir de guia para recomendar o uso de EAA3.
- Aqueles que optam por utilizar os EAA devem ser responsáveis pelo seu conhecimento do estado de saúde atual, dos objetivos de uso pretendidos, dos riscos e dos possíveis efeitos adversos para a saúde4.
- Sempre se recomenda um acompanhamento profissional, assim como a atenção daqueles que optaram pelo uso, para tentar restringir o mais possível as doses a fim de alcançar o objetivo previsto5.
- Nunca se deve pensar em ciclos mais agressivos de EAA (doses mais altas e maior tempo de uso) antes de certificar que os ciclos mais curtos e moderados também são eficientes e mais seguros para os objetivos pretendidos6.
Anterior à decisão de escolher o tipo, a dose e o tempo de uso do ciclo de EAA, está o objetivo pretendido com isso7. Assim, o processo de hipertrofia ou ganho de massa (volume corporal), também chamado “bulking”, e o processo de definição corporal ou redução do percentual de gordura, também chamado “cutting”, apresentam alguns pontos diferentes que merecem atenção:
1) Bulking:
Nesta fase, o objetivo principal é o ganho máximo de hipertrofia muscular, quase sempre acompanhado de um aumento do volume corporal8. Como a dieta, em geral, é hipercalórica, frequentemente se associa um certo aumento de gordura, o que faz com que o volume corporal aumente ainda mais9. Os atletas mais experientes, ou os que são melhor orientados, costumam tentar compor a dieta hipercalórica de “alimentos limpos”, ou seja, não utilizar o excesso de calorias à custa de alimentos de baixo valor nutritivo, com excesso de gorduras saturadas e carboidratos simples10. A justificativa da conduta é que não se deseja um grande aumento de volume de gordura durante esta fase, o que poderia gerar uma enorme quantidade de trabalho ao buscar uma melhor definição do corpo11. A maioria dos fisiculturistas acaba optando por reduzir temporariamente as atividades aeróbicas associadas ao treinamento de força12. A justificativa é que, se ocorrer um aumento do gasto calórico total do dia, para manter a dieta hipercalórica destinada a aumentar a massa muscular, será necessário aumentar o valor calórico que se ingere e, em muitos casos, como a dieta já tem um grande volume de alimentos, isso pode ser um problema13. No entanto, longe de ser uma regra, alguns também optam por manter esta atividade em um volume moderado para que não haja um grande ganho de gordura associado a uma dieta hipercalórica, e para manter um adequado condicionamento cardiorrespiratório e metabólico a fim de facilitar a oxidação da gordura durante e após as sessões de treinamento14. A escolha dos EAA nesta etapa não costuma se limitar aos medicamentos que potencialmente promovem uma menor retenção, como os que promovem o aumento dos estrogênios ou aumentam a reabsorção de sódio no rim, porque neste momento a preocupação não é a perda de definição corporal15. O volume (tempo e quantidade) de EAA utilizado varia enormemente, segundo a experiência do usuário, a finalidade prevista ou a necessidade de uma certa quantidade de ganho (volume e massa)16.
2) Cutting:
Diferente da fase anterior, nesta o objetivo é que a definição do corpo se torne evidente, e para isso é necessário ganhar ou manter a massa muscular ganha na fase anterior, ao mesmo tempo que se reduz o percentual de gordura17. Às vezes, o cutting faz parte de um objetivo competitivo, no qual nas semanas mais próximas da competição se torna necessária a manipulação mais extrema da dieta, como, por exemplo, a redução de líquidos, sódio, carboidratos, para que no “dia D” apareça a melhor forma possível (no fisiculturismo, critérios como volume muscular, definição, simetria, proporcionalidade fazem parte do julgamento do esporte)18. A dieta em geral é hipocalórica e, em relação a isso, é comum aumentar o gasto calórico (visando o déficit calórico) através do aumento das sessões de treinamento aeróbico19. Muitos acabam fazendo inclusive duas sessões por dia, normalmente em jejum pela manhã, e outra sessão no final da tarde ou à noite20. A escolha dos EAA é feita preferencialmente por aqueles que não sofrem aromatização, elevando assim os níveis de estrogênio e potencializando as perdas visuais na composição corporal devido à retenção de água21. Os EAA são utilizados nesta fase principalmente como um potencializador da manutenção da massa muscular, através dos efeitos anticatabólicos desta classe de agentes farmacológicos22. O volume (tempo e quantidade) de EAA utilizado varia enormemente, desde a experiência do usuário, até o propósito previsto, ou a necessidade de uma certa quantidade de perda de peso (especificamente a redução da gordura corporal)23.
Tipos e doses comumente utilizadas durante um ciclo de EAA:
- Undecilato de Boldenona (Equipoise): 200-400 mg/semana
- Metandrostenolona (Dianabol): 10-30 mg/semana
- Enantato de Metenolona (Primobolan): 200-400 mg/semana
- Decanoato de Nandrolona (Deca-Durabolin): 200-400 mg/semana
- Oxandrolona (Anavar): 10-30 mg/dia
- Oximetolona (Hemogenin): 50-100 mg/dia
- Estanozolol (Winstrol): 10-30 mg/dia
- Testosterona (Cipionato/Enantato/Propionato): 200-600 mg/semana 24
A seguir, são apresentados exemplos de ciclos de EAA, utilizados de forma isolada ou em combinação (stacking) para os objetivos de ganho de volume – massa corporal (bulking) e para definição corporal (cutting).
a) Ciclos de EAA únicos:
1) #1: Ciclo Dianabol – VOLUME/MASSA (Metandrostenolona)
- Produtos: 100 tabletes de 5 mg de Metandrostenolona25.
- Todas as semanas: protetores hepáticos, Fitoterápicos + Ômega 3 (4g/dia) para o colesterol, e Tamoxifeno (10-20 mg/dia) para o estrogênio26.
- Comentários: Ciclo simples para ganho de volume/massa27. Grandes ganhos em usuários iniciantes (4-5 kg)28. Em geral, sem efeitos adversos como ginecomastia ou retenção29. Sendo um 17-alfa-alquilado, apresenta toxicidade hepática e cardiovascular30. O uso repetido deste EAA deve ser limitado31.
2) #2 Ciclo Dianabol – VOLUME/MASSA (Metandrostenolona)
- Produtos: 200 tabletes de 5 mg de Metandrostenolona32.
- Todas as semanas: protetores hepáticos, Fitoterápicos + Ômega 3 (4g/dia) para o colesterol, e Tamoxifeno (20-40 mg/dia) para o estrogênio.
- Comentários: Comum após o primeiro ciclo, com dose e duração ligeiramente maiores. Geralmente usado para fins de fisiculturismo. Efeitos adversos são mais comuns.
3) #1: Ciclo Testosterona – VOLUME/MASSA
- Produtos: 10mL (200 mg/mL) de Enantato/Cipionato33.
- Todas as semanas: protetores hepáticos, Fitoterápicos + Ômega 3 (4g/dia) para o colesterol, e Tamoxifeno (20-40 mg/dia) ou Anastrozol (0,5 mg/dia) para o estrogênio34.
- Comentários: Similar ao ciclo inicial de Dianabol, mas com menor toxicidade cardiovascular e hepática por ser injetável35. Considerado um dos ciclos com menos eventos adversos36.
4) #2: Ciclo Testosterona – VOLUME/MASSA
- Produtos: 20mL (200 mg/mL) de Enantato/Cipionato37.
- Todas as semanas: protetores hepáticos, Fitoterápicos + Ômega 3 (4g/dia) para o colesterol, e Tamoxifeno (20-40 mg/dia) ou Anastrozol (0,5-1 mg/dia) para o estrogênio38.
- Comentários: Comum após o primeiro ciclo de testosterona, com duração de mais 3 semanas e o dobro da dose39. Efeitos adversos estrogênicos e androgênicos são mais comuns40. Menor sobrecarga cardiovascular em comparação com EAA orais41. A testosterona é considerada mais segura e muito mais eficaz como EAA, sendo este ciclo mais recomendado do que doses altas ou stacking42.
5) #1 Ciclo Sustanon/Durateston – VOLUME/MASSA
- Produtos: 15 mL (250 mg/mL) de Testosterona Blend43.
- Todas as semanas: protetores hepáticos, Fitoterápicos + Ômega 3 (4g/dia) para o colesterol, e Tamoxifeno (20-40 mg/dia) ou Anastrozol (0,5-1 mg/dia) para o estrogênio44.
- Comentários: Similar a outros ciclos de testosterona, comum na Europa e nos Estados Unidos45. A dose total de testosterona é de 3750 mg, semelhante ao ciclo #2 de testosterona46. Apresenta mais efeitos adversos estrogênicos e androgênicos, mas menor sobrecarga cardiovascular que EAA orais47. É um ciclo mais recomendado que altas doses ou stacking48.
6) #1: Ciclo Oximetolona (Hemogenin) – VOLUME/MASSA
- Produtos: 50 tabletes de Oximetolona49.
- Todas as semanas: protetores hepáticos, Fitoterápicos + Ômega 3 (4g/dia) para o colesterol, e Tamoxifeno (20-40 mg/dia) para o estrogênio50.
- Comentários: Conhecido como o EAA mais potente para ganho de massa, mas com mais efeitos adversos51. Iniciantes podem ganhar de 7,5 a 10 kg, mas com grande retenção hídrica e perda significativa pós-ciclo52. Apresenta alta sobrecarga cardiovascular e hepática53. Embora mais conveniente (oral) que a testosterona, é menos recomendável devido à segurança e efeitos adversos54. O uso repetido de 17-alfa-alquilados deve ser limitado55.
7) #2: Ciclo Oximetolona (Hemogenin) – VOLUME/MASSA
- Produtos: 100 tabletes de Oximetolona56.
- Todas as semanas: protetores hepáticos, Fitoterápicos + Ômega 3 (4g/dia) para o colesterol, e Tamoxifeno (20-40 mg/dia) para o estrogênio.
- Comentários: Versão mais popular de uso como EAA isolado, geralmente por fisiculturistas mais experientes57. A dose é mais que suficiente para promover ganho de massa e força, mas os efeitos adversos são mais comuns que em doses mais baixas58.
8) #1: Ciclo Estanozolol (Winstrol) – Massa Muscular/Cutting
- Produtos: 200 tabletes (2 mg) de Estanozolol59.
- Todas as semanas: protetores hepáticos e Fitoterápicos + Ômega 3 (4g/dia) para o colesterol60. Sem necessidade de antiestrogênicos61.
- Comentários: Ciclo comum para fisiculturistas em cutting e atletas de performance, mais popular nos anos 1970-8062. As doses são consideradas muito baixas para os padrões do fisiculturismo atual63. Efeitos adversos são infrequentes nessas doses64.
9) #2: Ciclo Estanozolol (Winstrol) – Massa Muscular/Cutting
- Produtos: 200 tabletes (5 mg) de Estanozolol65.
- Todas as semanas: protetores hepáticos e Fitoterápicos + Ômega 3 (4g/dia) para o colesterol66. Sem necessidade de antiestrogênicos67.
- Comentários: Versão mais forte do ciclo anterior, usada para objetivos de fisiculturismo e performance68. Efeitos adversos são mais frequentes, e as doses são mais próximas do mundo real do fisiculturismo69.
10) #1: Ciclo Oxandrolona (Anavar) – Massa Muscular/Cutting
- Produtos: 70 cápsulas (5 mg) de oxandrolona70.
- Todas as semanas: protetores hepáticos e Fitoterápicos + Ômega 3 (4g/dia) para o colesterol71. Sem necessidade de antiestrogênicos72.
- Comentários: Ciclo comum para fisiculturistas em cutting e atletas de performance, sendo de uso mais frequente em mulheres73. As doses são baixas para os padrões do fisiculturismo, e os efeitos adversos são infrequentes74.
b) Ciclos de EAA combinados (stacking):
1) #1: Ciclo Deca/Dianabol – Volume/Masa
- Produtos: 100-200 mg/mL de decanoato de nandrolona, 100 tabletes de 5 mg de metandrostenolona75.
- Todas as semanas: protetores hepáticos, Fitoterápicos + Ômega 3 (4g/dia) para o colesterol, e Tamoxifeno (10-20 mg/dia) para o estrogênio76.
- Comentários: Ciclo antigo e muito utilizado, com Nandrolona como base anabólica e Metandrostenolona como base androgênica77. A Metandrostenolona é introduzida na 3ª semana para compensar a redução androgênica do Decanoato de Nandrolona78. A dose é suficiente para ganhos de massa muscular e força79.
2) #2: Ciclo Deca/Dianabol – Volume/Masa
- Produtos: 20-200 mg/mL de decanoato de nandrolona, 200 tabletes de 5 mg de metandrostenolona80.
- Todas as semanas: protetores hepáticos, Fitoterápicos + Ômega 3 (4g/dia) para o colesterol, e Tamoxifeno (10-20 mg/dia) para o estrogênio81.
- Comentários: Combinação mais popular de Deca/Dianabol, com doses utilizadas por fisiculturistas mais experientes82. Efeitos adversos são mais frequentes, mas menores que a combinação Testosterona/Oximetolona83.
3) Ciclo Testosterona/Anadrol – Volume/Masa
- Produtos: 20-200 mg/mL de Enantato ou Cipionato, 100 tabletes de 50 mg de oximetolona84.
- Todas as semanas: protetores hepáticos, Fitoterápicos + Ômega 3 (4g/dia) para o colesterol, e Tamoxifeno (10-20 mg/dia) para o estrogênio.
- Comentários: Considerado o stacking de duas drogas mais potente para ganho de massa85. Ambas as drogas têm estrogenicidade significativa e podem induzir ginecomastia rapidamente, exigindo o uso de antiestrogênicos86. Iniciantes relatam ganhos de 12,5 a 15 kg, com grande retenção hídrica e perda significativa pós-ciclo87.
4) Ciclo Testosterona/Deca – Volume/Masa
- Produtos: 10-200 mg/mL de Enantato ou Cipionato, 20-200 mg/mL de Decanoato de Nandrolona88.
- Todas as semanas: protetores hepáticos, Fitoterápicos + Ômega 3 (4g/dia) para o colesterol, e Tamoxifeno (10-20 mg/dia) ou Anastrozol (0,5-1 mg/dia) para o estrogênio89.
- Comentários: Considerada uma das combinações mais fundamentais. A Nandrolona aumenta a base androgênica da testosterona sem grande estrogenicidade90. Similar ao uso de testosterona em dose alta, mas menos estrogênico, embora ainda exija o uso de antiestrogênicos91. Uso mais comum para ganho de massa/volume92.
5) Ciclo Andriol/Anavar – Masa Muscular/Cutting
- Produtos: 360 cápsulas de Andriol 40 mg; 400 tabletes de oxandrolona 2,5 mg93.
- Todas as semanas: protetores hepáticos, Fitoterápicos + Ômega 3 (4g/dia) para o colesterol, e Tamoxifeno (10-20 mg/dia) para o estrogênio (opcional dependendo da dose)94.
- Comentários: Eficaz para ganho de massa magra, mas com efeito moderado por ser um stacking oral95. O Andriol serve como base androgênica e a Oxandrolona não aromatiza96. Ciclo popular entre pessoas mais velhas que não utilizam injetáveis, mas é uma combinação menos custo-efetiva (cara) e com maior sobrecarga cardiovascular e hepática97.
6) Ciclo Anabólico Androgênico Bifásico – Masa Muscular/Cutting
- Produtos: 18 mL de Enantato de Metenolona (100 mg/mL), 50 mL de Undecilato de Boldenona (50 mg/mL), 20 mL de Testosterona (Enantato/Cipionato) (200 mg/mL)98.
- Todas as semanas: protetores hepáticos, Fitoterápicos + Ômega 3 (4g/dia) para o colesterol, e Tamoxifeno (20-40 mg/dia) ou Anastrozol (0,5-1 mg/dia) para o estrogênio99.
- Comentários: Ciclo de 3 meses com duas fases. Fase 1 (6 semanas): treinamento e dieta para ganho de massa (bulking), com alta estrogenicidade, exigindo antiestrogênicos100. Fase 2: redução da testosterona para dose de manutenção, visando solidificar os ganhos de massa magra ao aumentar a relação andrógeno/estrógeno101.
7) Ciclo Testosterona/Anadrol/Trembolona– Masa/Volumen
- Produtos: 30 mL de 200 mg/mL de testosterona (enantato/cipionato), 20-75 mg/mL de acetato de trembolona, 100 tabletes de 50 mg de oximetolona102.
- Todas as semanas: protetores hepáticos, Fitoterápicos + Ômega 3 (4g/dia) para o colesterol, e Tamoxifeno (20-40 mg/dia) ou Anastrozol (0,5-1 mg/dia) para o estrogênio103.
- Comentários: Um dos ciclos atuais mais extremos para ganho de massa, com ganhos rápidos de força e massa corporal104. Apresenta efeitos adversos androgênicos e estrogênicos, podendo necessitar de inibidor de aromatase e tamoxifeno105. É um ciclo de maior risco, não recomendado para iniciantes106.
8) Ciclo Masteron/Primobolan – Masa Muscular/Cutting
- Produtos: 20 mL de 100 mg/mL de Propionato de Drostanolona, 20 mL de 100 mg/mL de Enantato de Metenolona107.
- Todas as semanas: Fitoterápicos + Ômega 3 (4g/dia) para o colesterol108.
- Comentários: Combinação de EAA para densidade, massa magra e cutting109. Nenhum dos componentes se converte em estrogênio110. A alta razão andrógeno/estrógeno aumenta a lipólise e a definição111. Não é muito hepatotóxico, mas os lipídios sanguíneos podem ser bastante alterados112.
9) Ciclo Winstrol/Proviron/Trembolona – Masa Muscular/Cutting
- Produtos: 250 tabletes de Estanozolol 5 mg, 100 tabletes de Mesterolona, 20 mL de Acetato de Trembolona 75 mg/mL113.
- Todas as semanas: protetores hepáticos e Fitoterápicos + Ômega 3 (4g/dia) para o colesterol114.
- Comentários: Estanozolol + Trembolona é um ciclo popular em cutting, combinando um anabólico forte, androgênico moderado e não estrogênico115. Visa densidade, massa magra e definição116. A Mesterolona é adicionada para manutenção da libido117. Em fisiculturismo competitivo, geralmente é associado a HGH, Clenbuterol e hormônios tireoidianos118. Doses mais altas não são recomendadas devido à maior sobrecarga cardiovascular e hepática119.
10) Ciclo Deca/Dianabol/Primobolan/Winstrol – Masa/Volumen – Femenino
- Todas as semanas: protetores hepáticos, Fitoterápicos + Ômega 3 (4g/dia) para o colesterol, e Tamoxifeno (10-20 mg/dia) para o estrogênio120.
11) Ciclo Deca/Propionato/Primobolan/Winstrol – Masa/Volumen – Femenino
- Todas as semanas: protetores hepáticos, Fitoterápicos + Ômega 3 (4g/dia) para o colesterol, e Tamoxifeno (10-20 mg/dia) para o estrogênio121.
c) Ciclos de EAA com medicamentos lícitos:
De forma lícita, como prescrição médica, não se encontram as mesmas drogas que as do mercado paralelo122. Além disso, as concentrações das drogas lícitas costumam ser inferiores, o que contribui para a demanda do mercado paralelo123. No entanto, alguns optam por usar drogas de farmácias convencionais, distribuidoras ou de manipulação124.
Os medicamentos mais utilizados são:
- Injetáveis (farmácias): Deca-Durabolin (50 mg/mL), Deposteron (200 mg/mL), Durateston (250 mg/mL).
- Orais (manipulados): Oxandrolona (até 40 mg/dia), Estanozolol (até 40 mg/dia).
Os homens geralmente usam testosterona sozinha (Deposteron ou Durateston) ou combinada com Deca-Durabolin ou orais (Oxandrolona ou Estanozolol)125.
Exemplos de ciclos lícitos masculinos:
- #Ciclo Básico 1 (moderado): 1 ampola de Deca-Durabolin (50 mg/mL) + 1 ampola de Durateston (250 mg/mL) ou Deposteron (200 mg/mL), 1x por semana, por 6-12 semanas126.
- #Ciclo Básico 2 (moderado): 1 ampola de Durateston ou Deposteron, 1x por semana, + 20-40 mg de Oxandrolona ou Estanozolol (divididos em 2-3 tomas ao dia), por 6-12 semanas127.
- #Ciclo Básico 3 (forte): 1 ampola de Deca-Durabolin + 1 ampola de Durateston ou Deposteron, 2x por semana, por 6-12 semanas128.
- #Ciclo Básico 4 (forte): 1 ampola de Deca-Durabolin + 1 ampola de Durateston ou Deposteron, 2x por semana, + 20-40 mg de Oxandrolona ou Estanozolol, por 6-12 semanas129.
Para um aumento discreto, alguns optam por ciclos de EAA “mais leves”, como 10-15% de testosterona base transdérmica associada a 10-30 mg de oxandrolona por dia, durante 6-12 semanas130.
As mulheres quase nunca deveriam usar medicamentos muito androgênicos como Durateston ou Deposteron, devido ao risco de virilização131. As drogas mais utilizadas são orais (oxandrolona, estanozolol) e decanoato de nandrolona como único injetável132. É importante lembrar que a aceleração do processo de construção de um físico diferenciado em mulheres com doses androgênicas ou muito grandes pode causar efeitos adversos com maior frequência133.
Exemplos de ciclos lícitos femininos:
- #Ciclo 1 (leve): Oxandrolona, 3-10 mg/dia, por 8-12 semanas134.
- #Ciclo 2 (leve): Estanozolol, 3-10 mg/dia, por 8-12 semanas135.
- #Ciclo 3 (moderado): Oxandrolona, 15-20 mg/dia, por 8-12 semanas136.
- #Ciclo 4 (moderado): Estanozolol, 15-20 mg/dia, por 8-12 semanas137.
- #Ciclo 5 (moderado): Oxandrolona (5-10 mg/dia) + 1 aplicação de Deca-Durabolin (25 mg/mL) a cada 15-20 dias, por 8-12 semanas138.
- #Ciclo 6 (moderado): Estanozolol (5-10 mg/dia) + 1 aplicação de Deca-Durabolin (25 mg/mL) a cada 15-20 dias, por 8-12 semanas139.
- #Ciclo 7 (forte): Oxandrolona (10-20 mg/dia) + 1 aplicação de Deca-Durabolin (25 mg/mL) a cada 10-15 dias, por 8-12 semanas140.
- #Ciclo 8 (forte): Oxandrolona (15-20 mg/dia) + 1 aplicação de Deca-Durabolin (25 mg/mL) a cada 7-10 dias, por 8-12 semanas141.
Considerações Finais:
A informação proporcionada é uma ilustração do que se observa comumente na prática do uso de EAA para estética e/ou performance esportiva142. Embora existam ciclos aparentemente “mais seguros”, eles não devem servir como guia prático para uso143. A maior parte da informação provém de fontes sem escrutínio científico, e muitos dos usos e combinações apresentados nunca foram testados em estudos com bom desenho metodológico144.
Referências
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Clapp B. Anabolic Steroids: ultimate research guide (1st vol.). Anabolic Information LLL, 2005. 145
Complete Steroid Handbook, 1st ed., 2004. Disponível em: www.hardcorebodybuildingontheweb.com. Acesso em: 14 abr 2018.
Guimarães WM. Musculação anabolismo total. 9. ed. Editora Phorte, 2000. 146
Haluch D. Hormônios no fisiculturismo (história, fisiologia e farmacologia. Editora Letras Contemporâneas, Florianópolis, Brasil, 2017.
King J. The Big Book of Steroids: An unbiased look at the world of Performance Enhancing Drugs. 1st ed. Amazon Digital Services LLC, 2016.
Llewellyn W. Anabolics. 11th ed. Molecular Nutrition, 2017.
Capítulo 7
- TPC – Terapia pós-ciclo -
Após utilizar EAA por certo tempo (ou seja, um “ciclo”), é prática comum utilizar certas substâncias e/ou medicamentos como ajuda para restabelecer os parâmetros fisiológicos, reduzindo ou detendo os possíveis efeitos adversos que ocorreram. 1 Embora os EAA não sejam medicamentos considerados aditivos, o uso contínuo em doses suprafisiológicas suprime (mecanismo de feedback negativo) a síntese endógena de testosterona (ver figura 3.1). 2
O objetivo principal da TPC, como indicado anteriormente, é restabelecer a produção de testosterona endógena a níveis fisiológicos e evitar o chamado “crash” (choque) pós-ciclo. 3 O “crash” é um estado semelhante ao estado hipogonádico, sendo os sinais e sintomas comuns: 1) perda de massa muscular; 4 2) perda de energia e disposição física; 5 3) depressão; 6 4) perda da libido; 7 5) perda da função sexual (piora do padrão e latência das ereções). 8 Parece que a supressão da produção de testosterona endógena é um fenômeno tipicamente temporal e, portanto, mesmo sem nenhuma ajuda após um ciclo, em semanas ou meses ela se restabelece de forma natural. 9 No entanto, um problema a ser pontuado é que o tempo de recuperação da produção de testosterona endógena a níveis adequados (fisiológicos) é variável e pode ser bastante longo. 10 Portanto, historicamente, muitos atletas e fisiculturistas adotam a TPC para uma restauração mais rápida do funcionamento normal do eixo hipotálamo-hipófise-gônada. 11
A recuperação assistida (TPC) pode ter um tempo variável, e isso depende em grande medida da duração do ciclo anterior de EAA, bem como da quantidade utilizada, além das drogas escolhidas como ajudas para a recuperação. 12 Segundo Moretti E. e cols. cite_start, a tendência à recuperação mais rápida ocorre principalmente: 1) em indivíduos mais jovens (em geral com maior reserva funcional e plasticidade testicular); 13 2) quanto maior for o nível de testosterona anterior ao ciclo; 14 3) quanto menor for a duração e a quantidade de drogas utilizadas no ciclo anterior. 15
Um estudo de Mauss J. e cols. cite_start, realizado com sete jovens saudáveis (20 a 27 anos) durante 21 semanas consecutivas de aplicação de 250 mg de Enantato de Testosterona (Testoviron), avaliou posteriormente as doses totais de testosterona e gonadotrofina (LH). 16 Como resultados (a partir de uma semana após a última aplicação de 250 mg de Testoviron), os autores observaram que da semana 1 à 5, devido à interrupção das aplicações, a concentração de testosterona total diminuiu progressivamente. 17 Esses níveis se mantiveram estáveis (com um ligeiro aumento) da semana 5 à 10, e após a décima semana os níveis subiram progressivamente para níveis fisiológicos. 18 Com respeito à LH (hormônio luteinizante), que promove os estímulos testiculares para a produção endógena de testosterona quando estes diminuem (ver figura 3.1), seus níveis aumentaram progressivamente da semana 1 à semana 10, mantendo a partir de então uma maior estabilidade (momento em que ocorreu uma normalização parcial da concentração total de testosterona no sangue). 19 Ou seja, neste estudo, pela quantidade e tempo empregado, e por se tratar de pacientes jovens, em aproximadamente 10 semanas o funcionamento do eixo hipotálamo-hipófise-gônada foi corrigido. 20
Para compreender melhor o raciocínio em que se baseia a TPC e sua possível eficácia, é necessário compreender um esboço da dinâmica hormonal durante o ciclo de EAA e também após o ciclo (figura 7.1). 21 A concentração de testosterona no soro varia ao longo do dia e ao longo dos dias, mantendo em média uma constante dentro de faixas, e certamente entre os níveis fisiológicos superiores (a partir dos quais ocorreria a inibição do eixo HHG) e os níveis fisiológicos inferiores (a partir dos quais apareceriam os sinais e sintomas clínicos). 22 Desde o momento em que um indivíduo começa um ciclo de EAA, especialmente com drogas injetáveis, progressivamente (até atingir uma concentração sérica mais estável da ação da droga) os níveis de testosterona se elevam e o corpo detecta níveis suprafisiológicos, com a consequente inibição do eixo HHG. 23 Assim, a produção endógena de testosterona cai progressivamente. 24 Como este estímulo inibitório se mantém de acordo com o tempo de utilização do ciclo de EAA, a produção endógena de testosterona também se mantém em níveis muitas vezes inferiores ao nível infrafisiológico, mantendo-se assim até que um estímulo de produção ocorra novamente (geralmente dado pela detecção de níveis muito baixos de testosterona sérica). 25
Figura 7.1 – TPC (Terapia pós-ciclo) e a dinâmica hormonal durante e depois de um ciclo de EAA. 26
Ao final do ciclo de EAA, dependendo da concentração utilizada e dos níveis em que estava a concentração sérica de testosterona pela metabolização da droga e pela interrupção do uso externo, é apenas uma questão de tempo (geralmente de 3 a 4 semanas) para que a concentração no soro desça até o ponto em que seja detectada como infrafisiológica, e a partir de então gere estímulos para a produção de gonadotrofinas e testosterona. 27 Alguns estudos (apresentados anteriormente) e a prática clínica nos mostram que, desde o começo dos sintomas associados a uma baixa concentração de testosterona, o tempo necessário para a restauração das concentrações séricas fisiológicas de testosterona devido à produção endógena pode ser muito longo (2 a 4 meses, e possivelmente mais). 28 Devido aos sintomas da baixa de testosterona, muitos usuários acabam voltando a utilizar EAA (que melhora rapidamente os sintomas) e, lamentavelmente, terminam utilizando EAA de maneira contínua a partir de então. 29 Costumo dizer que, nesses casos, o indivíduo faz um único ciclo de EAA por ano, durante todo o ano (365 dias em um ciclo). 30
Assim, a partir da primeira semana, em geral, inicia-se a TPC (relatos de provas empíricas mostram o uso de medicamentos para “estimular” o eixo HHG já nas últimas semanas antes do final do ciclo de EAA) para acelerar o processo de produção de testosterona endógena, suprimindo ou reduzindo o tempo e a magnitude dos sintomas de baixa testosterona. 31 Um fato que deve ser observado é que, desde o momento da detecção da “baixa testosterona”, a concentração é geralmente infrafisiológica, e o começo da produção endógena não ocorre de imediato, ocorrendo um “delay” (atraso), o que pode aumentar ainda mais o tempo dos sintomas da recuperação sem assistência. 32 Em seguida, entre a primeira e a quarta semana, algumas drogas, como HCG, Citrato de Clomifeno, Tamoxifeno, Anastrozol (veremos alguns detalhes mais adiante neste capítulo) são utilizadas como adjuvantes estimulantes para a restauração do eixo HHG. 33 Neste momento, também se utiliza com frequência a reposição transdérmica da base de testosterona (em gel alcoólico - Androgel® ou em veículo oleoso - geralmente Pentravan® ou Inderm®). 34 Com isso, o objetivo, como já mencionado, é que o eixo HHG volte ao seu funcionamento normal o mais rápido possível para evitar os sintomas do “crash” pós-ciclo de EAA. 35
Segundo Moretti E. e cols. cite_start, para verificar o que realmente está acontecendo com os hormônios (testosterona, estrogênio), e como está o funcionamento atual do eixo HHG, é necessário realizar uma dosagem bioquímica do soro através de exames laboratoriais. 36 Geralmente, devem incluir um perfil hormonal básico (LH, FSH, testosterona total e livre, SHBG, estradiol, prolactina), e um perfil metabólico associado (avaliação do perfil glicêmico e lipídico, função renal e hepática, e perfil hematológico). 37 Para o diagnóstico laboratorial de testosterona baixa, pode-se utilizar o que foi proposto sobre a DAEM (Deficiência Androgênica por Envelhecimento Masculino - Anawalt B. D., 2012), além disso, recomenda-se a dosagem de sangue, que é considerada “normal” quando está acima de 12 nmol/L (346 ng/dL), e “baixa” quando está abaixo de 8 nmol/L (231ng/dL). 38 Para a DAEM, os valores entre 8 e 12 nmol/L seguem o critério clínico de sinais e sintomas para recorrer ou não à opção TRT (Terapia de Reposição de Testosterona). 39 O objetivo de uma TRT, que equivaleria a um estado hipogonádico pós-ciclo de EAA, é fazer com que os níveis de testosterona sejam iguais aos de indivíduos jovens, em torno do valor médio dos limites superior e inferior da normalidade (normalmente ao redor de 500-600 ng/dL) (figura 7.2). 40 No entanto, é evidente que a capacidade anabólica com níveis normais de testosterona é menor do que no momento de seu uso durante o ciclo. 41
Figura 7.2 – Objetivos pretendidos de concentração de testosterona com a TPC/TRT. 42
Drogas comumente utilizadas em TPC:
- HCG: Gonadotrofina Coriônica Humana
É uma droga amplamente utilizada para tratamentos de fertilidade, sendo um mimético da ação da LH, considerada por alguns como fundamental para o restabelecimento do eixo hormonal. 43 Após um ciclo de EAA, o testículo pode sofrer uma redução de volume das células de Leydig, que ocupam apenas cerca de 10% do volume testicular (por isso, a avaliação visual e palpatória realizada de forma isolada pode não ser tão confiável, pois a redução testicular é mínima em alguns casos). 44 Assim, a HCG é geralmente utilizada nas primeiras 2 ou 3 semanas, em doses altas, ou como medicação de “resgate” após o fracasso da intervenção inicial (uso de Citrato de Clomifeno, Tamoxifeno, etc.), em ambos os casos o objetivo é a manutenção do trofismo testicular e o retorno mais rápido do bom funcionamento do eixo hormonal. 45 O uso como medicação de resgate tem como objetivo evitar o uso excessivo da HCG (dose alta, período longo) e assim evitar a alteração do fino mecanismo de regulação da sensibilidade testicular ao hormônio. 46 - SARM (Selective Androgen Receptor Modulator – Modulador Seletivo do Receptor Androgênico):
São drogas de uso comum na TPC, que têm o propósito de eliminar o feedback negativo do estrogênio no hipotálamo, atuando para promover o aumento da liberação de GnRH (hormônio liberador de gonadotrofina) e, assim, estimular a glândula pituitária a liberar LH, que, por sua vez, atuará a nível testicular (células de Leydig) para promover a produção e secreção de testosterona. 47 Neste sentido, o uso isolado e prolongado (mais de 30 dias) de Tamoxifeno (Nolvadex/Tecnotax) (em geral 10-20 mg) pode não ser uma estratégia eficaz na TPC para a restauração do eixo hormonal, já que não estimula diretamente o aumento da LH, da testosterona e do trofismo testicular, atuando apenas como um adjuvante na ação de outros medicamentos (por exemplo, HCG, Citrato de Clomifeno- CC). 48 Como o estrogênio contribui para o comportamento sexual (libido), o uso de altas doses de Tamoxifeno pode gerar uma redução exagerada deste hormônio e, assim, contribuir para o aparecimento e/ou manutenção dos sintomas clínicos durante a TPC. 49
Liel Y. e cols. cite_start publicaram um estudo de uma série de casos (18 homens, com idade média de 44,3 anos; entre 21 e 67 anos) de hipogonadismo hipogonadotrófico no qual foi utilizado CC (doses entre 25 mg 3x/semana até 50 mg/diários) com o objetivo de aumentar a testosterona e reduzir os sintomas. 50 Os autores descrevem que, após 6-8 semanas de tratamento com CC, todos os pacientes tiveram um aumento estatisticamente significativo nos níveis de LH e testosterona total, com 67% dos pacientes relatando melhora dos sintomas. 51 Com apenas um caso de sensibilidade mamária após o uso, concluíram que o uso de CC em casos de hipogonadismo, onde ainda há reserva de função testicular, é uma alternativa conveniente e eficiente à TRT. 52
Pesquisadores brasileiros liderados por Marconi M. (https://www.google.com/search?q=2016) realizaram um estudo utilizando o CC como forma de tratamento para o hipogonadismo de início tardio em 27 pacientes. 53 O objetivo principal do estudo era descobrir se o uso de CC durante um período de tempo seria suficiente para manter os níveis de testosterona a longo prazo após a interrupção do uso. 54 O protocolo de tratamento foi a administração oral de 50 mg de CC diariamente durante 50 dias, e após 3 meses (90 dias) de interrupção do uso, avaliar os níveis totais de testosterona em laboratório. 55 Segundo os resultados, houve um aumento significativo dos níveis de testosterona após 50 dias de uso, e em 90 dias, os níveis de 78% dos pacientes voltaram aos valores de referência. 56 Em 22% dos pacientes, mesmo após 3 meses sem uso de CC, os níveis totais de testosterona se mantiveram dentro dos limites recomendados (acima de 11 nmol/L). 57
Chandrapal J.C. e cols. cite_start avaliaram a segurança do uso prolongado de CC (tempo médio de 358 dias), utilizado para o tratamento do hipogonadismo, da infertilidade ou ambos, por 77 homens com idade média de 34 anos (22 a 51 anos). 58 Os pacientes foram acompanhados no período descrito, com uma média de 4 visitas ao médico por ano, utilizando CC 50 mg diários, ou CC 50 mg em dias alternos. 59 Os parâmetros laboratoriais foram medidos antes e depois do período de utilização da CC. 60 Houve um aumento significativo dos níveis de testosterona total e livre, com a consequente redução dos sintomas (avaliados por meio de um questionário), mas mantendo os níveis de estradiol, PSA (antígeno prostático específico) e hematócrito dentro dos limites considerados normais. 61 Como o número e a intensidade dos efeitos adversos não foram importantes, os autores concluíram que o uso da CC é um tratamento seguro, mesmo em tempo prolongado, e eficaz para aumentar os níveis de testosterona sem incrementar outros parâmetros indesejáveis. 62 Por fim, sugerem nos jovens que usam CC uma visita médica a cada 3-6 meses para verificar os possíveis sintomas e avaliação anual de laboratório. 63
Em https://www.google.com/search?q=2016, McBride J. A. e Coward R. M. publicaram um artigo de revisão no Asian Journal of Andrology sobre a recuperação da espermatogênese após o uso de TRT ou de EAA. 64 Vários estudos foram realizados utilizando HCG e FSH em indivíduos hipogonádicos, medindo a recuperação da espermatogênese e a taxa de gravidez como resultado. 65 Na Tabela abaixo (Tabela 7.1) são resumidos vários estudos sobre a variação das doses encontradas pelos autores como protocolo de tratamento (recuperação da espermatogênese) no hipogonadismo. 66
Tabela 7.1 – Amplitude da variação das doses e frequência semanal da HCG e da FSH, utilizadas em pacientes hipogonádicos para a restauração da espermatogênese. 67
HCG (UI/semana) | FSH (UI/semana) | |
---|---|---|
Dose (amplitude) | 1.500 - 10.000 | 75 - 450 |
Frequência (por semana) | 2 - 3 | 2 - 3 |
No mesmo sentido, para o restabelecimento da espermatogênese após o uso de EAA ou testosterona exógena, as doses que os autores determinaram como comuns na prática são apresentadas a seguir na Tabela 7.2. 68
Tabela 7.2 – Agentes farmacológicos utilizados comumente para a manutenção e/ou a restauração da espermatogênese depois do uso de EAA ou testosterona exógena. 69
Agente | Dose | Frequência |
---|---|---|
HCG | 3.000 UI | Em dias alternados |
SERM | Clomifeno 25-50mg / Tamoxifeno 20mg | Diariamente |
IA | Anastrozol 1mg / Letrozol 2,5mg | Diariamente |
Na última versão de Anabolics (11ª ed., 2017) é apresentada uma modificação do protocolo do Dr. Michael Scally, autor de vários trabalhos científicos que envolvem o uso de EAA, e que é apresentada na Tabela 7.3. 70
Tabela 7.3 – Protocolo modificado de Scally M. C. (Anabolics, 11th ed., 2017) para restauração do eixo hipotálamo-hipófise-gonadal, depois do uso de EAA. 71
Semana 1 | Semana 2 | Semanas 3-4 | Semanas 5-6 | |
---|---|---|---|---|
HCG (UI) | 2000 (dias 1-20) | 2000 (dias 1-20) | — | — |
Tamoxifeno (mg) | 20 (2x/dia) | 20 (2x/dia) | 20 (1x/dia) | 20 (1x/dia) |
Clomifeno (mg) | 50 (2x/dia) | 50 (2x/dia) | 50 (1x/dia) | 50 (1x/dia) |
O Protocolo de Scally modificado também se refere ao momento em que a TPC deve começar após a finalização do ciclo de EAA, e nele se leva em conta a dose utilizada durante o ciclo, como mostrado a seguir na Tabela 7.4. 72
Tabela 7.4 – Protocolo modificado de Scally M. C. (Anabolics, 11th ed., 2017) para o início da TPC com o objetivo de restaurar o eixo hipotálamo-hipófise-gonadal, depois do uso de EAA. 73
Momento de Início | Uso Total de EAA no Ciclo |
---|---|
1-3 semanas após a última injeção | < 8 semanas de EAA / < 1.000 mg por semana |
4 semanas após a última injeção | 8-12 semanas de EAA / 1.000-1.500 mg por semana |
5 semanas após a última injeção | > 12 semanas de EAA / > 1.500 mg por semana |
Como não há consenso sobre como deve ser o uso dos diferentes agentes farmacológicos, assim como sua combinação de doses e tempo, especialmente após o uso de EAA, também se observa certa informação empírica (procedente da prática, da experimentação, feita por fisiculturistas) como possíveis usos terapêuticos eficazes para este fim. 74 A seguir, um exemplo do ciclo de EAA (12 semanas) seguido da TPC (4 semanas), realizado por um fisiculturista e publicado em 2014 na revista científica Fertility and Sterility, por Rahnema C. D. e outros. 75 Como se observa, a TPC tem 8 semanas de duração e começa na 9ª semana (faltando ainda 4 semanas para o final do ciclo de EAA) continuando até a 16ª semana. 76
No estudo de Rahnema C. D. e outros, os autores apresentam um algoritmo de tratamento da falha androgênica sintomática (baixa testosterona) como indicado a seguir:
- Após a interrupção do uso de EAA, realizar as dosagens laboratoriais hormonais para estabelecer os níveis hormonais. 77 Iniciar TRT (base de testosterona, gel ou creme) associada a um SERM (por exemplo, Citrato de Clomifeno), durante 4 semanas. 78
- Revisar os exames laboratoriais (4ª semana) e continuar com o SERM. 79 Se a resposta do aumento dos níveis de testosterona for baixa, adicionar HCG 1000-3000 UI, 3x/semana. 80
- Revisar os exames laboratoriais (8ª semana), e na 10ª semana reduzir a dose de SERM em 50% (metade da dose), mantendo-a até a 12ª semana. 81
- Da semana 12 à 16, manter a dose de SERM (50% da dose inicial) até que se alcancem os níveis de testosterona desejados. 82
Considerações Finais:
O tratamento do hipogonadismo e a restauração da espermatogênese já foram bem descritos em vários ensaios clínicos publicados sobre a eficácia do uso da HCG, SERM, FSH recombinante e IA. 83 Assim, por meio de provas indiretas que permitem uma validade externa, também foi documentado o uso desses agentes farmacológicos no tratamento do estado hipogonádico após um ciclo de EAA. 84 No entanto, no caso dos EAA utilizados com fins estéticos e de performance (não recomendados pelas entidades esportivas e sanitárias), grande parte da informação para restabelecer o eixo hormonal após um ciclo de EAA procede de fontes empíricas, ou seja, da autoexperimentação (ensaio e erro), carecendo de estudos bem desenhados para esclarecer melhor a eficácia das condutas adotadas. 85
Referências:
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Chandrapal JC, Nielson S, Patel DP, e cols. 87 Characterising the safety of clomiphene citrate in male patients through prostate-specific antigen, haematocrit, and testosterone levels. BJU Int. https://www.google.com/search?q=2016 Dec;118(6):994-1000.
Liel Y. Clomiphene citrate in the treatment, of idiopatic or functional hypogonadptrophic Hypogonadism, in men: a case series and review of literature. 88 Endocr Pract. 2017 Mar;23(3):279-287.
Llewellyn W. Anabolics 11th ed. Editor Molecular Nutrition, 2017.
Marconi M, Souper R, Hartmann J, e cols. 89 Clomiphene citrate treatment for late onset hypogonadism: rise and fall. Int Braz J Urol. https://www.google.com/search?q=2016 Nov-Dec;42(6):1190-1194.
Mauss J, Borsch G, Richter E, et al. Effect of long-term testosterone oenanthate administration on male reproductive function: Clinical evaluation, serum FSH, LH, Testosterone and seminal fluid analysis in normal men. 90 Acta Endocrinol 78(https://www.google.com/search?q=1975)373-84.
McBride JA, Coward RM. 91 Recovery of spermatogenesis following testosterone replacement therapy or anabolic-androgenic steroid use. Asian J Androl. https://www.google.com/search?q=2016 May-Jun;18(3):373-80.
Moretti E, Collodel G, La Marca A, Piomboni P, Scapigliati G, Baccetti B. Structural sperm and aneuploidies studies in a case of spermatogenesis re-covery after the use of androgenic anabolic steroids. 92 J Assist Reprod Genet. https://www.google.com/search?q=2007;24:195–8.
Rahnema CD, Lipshultz LI, Crosnoe LE, e cols. Anabolic steroid-induced hypogonadism: diagnosis and treatment. 93 Fertil Steril. 2014 May;101(5):1271-9.
Capítulo 8
- O Blast and Cruise -
Como já vimos em outro capítulo, o Blast and Cruise se caracteriza pelo uso contínuo de EAA, alternando entre períodos de doses “baixas” (OFF cycle, período de potencial perda de massa muscular - MM) e doses altas (ON cycle, período destinado ao ganho de massa muscular - MM). 1 No entanto, tanto as doses altas como as baixas utilizadas se mantêm em níveis suprafisiológicos durante todo o período, tanto no Blast quanto no Cruise. 2
Figura 8.1 – Doses de testosterona (suprafisiológicas) durante o BLAST and CRUISE. 3
Assim, os estímulos inibitórios gerados pela testosterona administrada exogenamente permanecem ativos a nível cerebral, hipotalâmico e hipofisário, o que faz com que o eixo hipotálamo-hipófise-gônada permaneça constantemente inibido, impedindo assim a produção natural de testosterona endógena (ver capítulo 3, figura 1). 4
Dos objetivos deste uso continuado da testosterona, podemos destacar: 1) manter os ganhos do ciclo (blast); 2) manutenção e regulação da saúde; 3) evitar o platô (estabilidade dos ganhos em torno das 10-12 semanas, como visto no capítulo 4, figuras 4 e 5); 4) evitar a perda da relação custo-benefício (financeira; de poucas ganhos; de saúde). 5 Veremos mais abaixo cada um separadamente:
1) Manter os ganhos do ciclo (blast):
Vale a pena recordar que o blast é diferente de uma TRT (terapia de reposição hormonal), que tem como objetivo regular o bem-estar e a função sexual em pessoas com hipogonadismo, seja devido ao envelhecimento ou quando estão em uma TPC. 6 O atrativo, a justificativa, para o uso da testosterona nos níveis suprafisiológicos do blast é que não seria possível manter os ganhos de grande volume de massa muscular adquiridos e ao mesmo tempo manter um percentual de gordura mais baixo. 7 A testosterona isolada é comumente utilizada como base (por exemplo, o Cipionato ou o Enantato - 200 a 300 mg por semana), e tende-se a evitar os medicamentos mais hepatotóxicos ou que alteram os lípidos plasmáticos, como o 17-alfa-alquilato, já que esta é também uma fase de regulação e restauração da saúde. 8 As doses utilizadas variam muito de um usuário para outro, segundo sua experiência e a dose utilizada no blast (em geral, de 1/4 a 1/5 da dose total utilizada). 9
2) Manutenção e regulação da saúde:
Durante o cruise é frequente encontrar alterações clínicas e/ou de provas bioquímicas de laboratório, devido ao tempo de uso da EAA durante algum período. 10 Por exemplo, dada a aromatização (conversão da testosterona em estradiol) devida ao uso de alguns EAA específicos, durante o blast os níveis de estrogênio podem ser altos, e portanto seguir sendo altos durante o cruise. 11 Mas estes níveis também podem ser normais (os mais baixos, com menor frequência) devido à redução de aromatização pela redução das doses de testosterona utilizadas no blast. 12 Por isso se utilizam os inibidores da enzima aromatasa durante o blast e se mantêm em doses mais baixas durante o cruise. 13 Poderíamos mencionar várias outras possíveis alterações e, por isso, seria aconselhável comprovar alguns parâmetros de avaliação da saúde como o perfil lipídico (excesso de calorias e em geral de todos os macronutrientes, além do uso de EAA com menor conversão estrogênica), o perfil hematológico (devido à capacidade hematopoiética, ou seja, a formação de glóbulos vermelhos, de alguns EAA e o risco de poliglobulia) e o perfil hormonal (eixo hipotálamo-hipófise-gonadal, função tireoidiana, etc.). 14
3) Evitar o platô (estabilidade das ganhos no blast):
A este respeito, é importante ajustar as doses para que não sejam demasiado altas na fase de “manutenção”, de modo que não prejudique o seguinte blast (que requer doses extremamente altas). 15 O objetivo de uma boa adequação das doses, segundo os usuários, é que gere uma “pausa” que o organismo reconheça como “não uso”, ao mesmo tempo que se mantêm concentrações mais altas que as suprafisiológicas para a manutenção dos ganhos (existe o conceito de que as doses fisiológicas de testosterona durante um cruise não poderão ser suficientes para manter os ganhos). 16 Também seria interessante ajustar a dieta, ou seja, como já não se está na fase de blast, reduzir o volume calórico e prestar atenção à redução do excesso de carboidratos e gorduras saturadas. 17 De maneira similar, os ajustes no treinamento, com sessões menos intensas, mais regenerativas, e variação dos estímulos. 18
4) Evitar a perda do custo-benefício (financeira; baixos ganhos; saúde)
Por incrível que pareça, quando se trata de drogas comparativas, são mais caras no mercado paralelo do que no mercado lícito. 19 Vende-se a facilidade de diferentes drogas que não se encontram no mercado lícito, assim como a não necessidade de receita, deixando-o à la carte e, sem dúvida, o usuário é o responsável por planejar o ciclo. 20 Assim, manter uma quantidade elevada de consumo de drogas pode resultar pesado para alguns orçamentos. 21 Como vimos no capítulo 4 (figuras 4 e 5), a manutenção de doses elevadas não será benéfica para o peso e a saúde num prazo maior que 10 - 12 semanas, e o aumento destas não gerará aumentos de peso mais significativos e aumentará o risco de efeitos adversos. 22
O tempo de cruise geralmente oscila entre 4 e 8 semanas, mais comumente entre 6 e 8 semanas, e alguns dizem que deveria ser pelo mesmo tempo que o blast. 23 Neste período, para não deixar o eixo hipotálamo-hipófise-gônadas sem estímulos, utilizam-se drogas como a HCG (gonadotrofina coriônica humana), o Citrato de Clomifeno e o Proviron. 24 Os dois primeiros se utilizam para melhorar os estímulos testiculares através da LH e reduzir a inibição hipotalâmica do estrogênio, e o último (Proviron) para aumentar a testosterona livre através da SHBG ligada à testosterona. 25
A seguir, um exemplo reportado como real, de um atleta, contido no livro de Dudu Haluch. 26
1) BLAST (ciclo para competição):
- 700 mg de Propionato de Testosterona/semana
- 450 mg de Trembolona/semana
- 400 mg de Masteron/semana
- 2,5 mg de Letrozol/em dias alternados
- 60 mg de Efedrina/1x ao dia
2) CRUISE (pós preparação competitiva):
- 400 mg de Cipionato de Testosterona/semana
- 50 mg de Masteron/em dias alternados
- 1 mg de Anastrozol/1x ao dia
- 20 mg de Tamoxifeno/1x ao dia
No mesmo livro, há um exemplo de “Blast and Cruise”, que segue abaixo: 27
1) BLAST (10 semanas)
- 800 mg de Cipionato de Testosterona/semana
- 600 mg de Decanoato de Nandrolona/semana
2) CRUISE (8 semanas)
- 300 mg de Cipionato de Testosterona/ 28
3) BLAST (Pré competição – 12 semanas)
- Todas as semanas (1-12)
- 500 mg de Acetato de Trembolona/semana
- 4 UI de GH/dia
- Semanas 1-6
- 800 mg de Cipionato de Testosterona/semana
- Semanas 7-12
- 400 mg de Cipionato de Testosterona/semana
- 500 mg de Masteron/semana
Como mencionado anteriormente sobre o CRUISE, uma das ideias era manter e/ou restaurar os níveis de saúde, utilizando testosterona em doses “mais baixas”, no entanto as doses consideradas como baixas são geralmente suprafisiológicas. 29 Alguns tentam utilizar o pensamento de testosterona semelhante a uma TRT, utilizando uma aplicação (geralmente enantato, propionato de cipionato, 200-300 mg) entre 2-4 semanas, mas isto pode não funcionar exatamente como uma TRT, como segue na figura 8.2:
Figura 8.2 – Comportamento dos níveis de testosterona depois da aplicação de 250 mg de enantato de testosterona entre 2-4 semanas. 30
Como se mostra na figura, cada aplicação, especialmente a cada 2 ou 3 semanas, tende a fazer com que as concentrações aumentem para níveis suprafisiológicos, mantendo assim os estímulos inibitórios relacionados com a produção de testosterona endógena. 31 Quando se aplicam em concentrações mais altas (suprafisiológicas), a DHT e o Estradiol (devido à característica da testosterona, androgênica e estrogênica) também aumentam, e pode ser que não reduzam os efeitos adversos do BLAST. 32 A cada quatro semanas, embora o pico tenha estado no limite fisiológico, o tempo entre aplicações faz com que os níveis de testosterona baixem para níveis subfisiológicos (aparição de sintomas relacionados com a baixa de testosterona). 33 Assim, como dose que seria mais apropriada, evitando concentrações acima e abaixo dos limites fisiológicos, Snyder e cols. cite_start propuseram o uso do Enantato de Testosterona em doses de 200 mg a cada duas semanas, ou 300 mg a cada três semanas. 34
Alguns pesquisadores investigaram os possíveis benefícios da hormona de crescimento humano recombinante (rhGH) nos desportistas, e declararam em suas conclusões que há uma sugestão de que a rhGH aumenta o rendimento, e além disso, se for “ciclada” em doses baixas não é tão perigosa como afirma a WADA (World Anti Doping Agency). 35 Entre os autores, Michael R. Graham realizou uma série de estudos utilizando rhGH em indivíduos após deixarem de usar EAA (chamado dependência/abstinência ao EAA), com o objetivo de reduzir os efeitos adversos e restaurar a saúde, a composição corporal, o desempenho e o bem-estar, e a seguir apresenta-se em formato descritivo:
-
Graham MR, et al. Physical effects of short-term recombinant human growth hormone administration in abstinent steroid dependency. Horm Res. 2008;69(6):343-54. 36
- Participantes: 48 usuários de EAA abstinentes, divididos em grupo controle (N=24) e grupo rhGH (N=24). 37
- Intervenção: rhGH por 6 dias na dose de 0,058 UI/kg/dia. 38
- Resultados: Aumento da força muscular, potência muscular, VO2 pico, nível de IGF-1, proteínas totais sanguíneas e massa magra. Redução do % de gordura e dos níveis de TSH e T4. 39
-
Graham MR, et al. Recombinant human growth hormone in abstinent androgenic-anabolic steroid use: psychological, endocrine and trophic factor effects. Curr Neurovasc Res. 2007 Feb;4(1):9-18. 40
- Participantes: 48 usuários de EAA abstinentes, divididos em grupo controle e grupo rhGH. 41
- Intervenção: rhGH por 6 dias na dose de 0,058 UI/kg/dia. 42
- Resultados: Redução dos níveis de ansiedade e depressão, do % de gordura, dos níveis de PCR (proteína C reativa), e dos níveis de TSH e T4. Aumento da massa magra, do IMC e dos níveis de IGF-1. 43
-
Graham MR, et al. Short-term recombinant human growth hormone administration improves respiratory function in abstinent anabolic-androgenic steroid users. Growth Horm IGF Res. 2007 Aug;17(4):328-35. 44
- Participantes: 48 usuários de EAA abstinentes, divididos em grupo controle e grupo rhGH. 45
- Intervenção: rhGH por 6 dias na dose de 0,058 UI/kg/dia. 46
- Resultados: Aumento do VEF1 (volume expiratório forçado no primeiro segundo), das pressões inspiratória e expiratória máximas e dos níveis de IGF-1. Redução do % de gordura, dos níveis de proteínas totais e de albumina. 47
-
Graham MR, et al. Evidence for a decrease in cardiovascular risk factors following recombinant growth hormone administration in abstinent anabolic-androgenic steroid users. Growth Horm IGF Res. 2007 Jun;17(3):201-9. 48
- Participantes: 48 usuários de EAA abstinentes, divididos em grupo controle e grupo rhGH. 49
- Intervenção: rhGH por 6 dias na dose de 0,058 UI/kg/dia. 50
- Resultados positivos: Aumento do IMC, da massa magra, do VO2 pico e dos níveis de IGF-1. Redução do sódio plasmático, dos níveis de homocisteína, PCR, TSH e T4. 51
- Resultados adversos: Aumento da frequência cardíaca de repouso e do duplo produto. Redução da velocidade e do pico da onda de pulso arterial, e da recuperação da PAS e PAD. 52
- Conclusão dos autores: O uso de rhGH por um curto período de tempo após a abstinência do EAA promove “a melhora da função endotelial e da inflamação, mas a longo prazo pode ser prejudicial para o sistema cardiovascular”. 53
Considerações finais:
O BLAST and CRUISE é um uso contínuo de testosterona, em doses suprafisiológicas, alternando entre doses altas e baixas, e as provas de eficácia e segurança são empíricas, especialmente a longo prazo. 54 No entanto, sabemos que quanto mais tempo se use e quanto mais alta seja a dose, maior será o risco potencial (ainda desconhecido) a longo prazo. 55 Outras drogas como a rhGH, como se assinala nos artigos e colaboradores de Graham, podem servir como um agente potencial para ser utilizado entre os BLAST, talvez como um substituto, minimizando os riscos potenciais do uso contínuo da testosterona. 56 No entanto, os estudos com rhGH foram de curta duração de uso, e a segurança e eficácia desta prática (a curto, médio e longo prazo) é ainda desconhecida e deve ser investigada mais a fundo em futuros estudos. 57
Referências
Behre HM et al. Pharmacology of testosterone preparations. In Testosterone: Action, Deficiency, Substitution, 405–444 (Eds Nieschlag E and Behre HM) UK: Cambridge University Press, 2004.
Haluch D. Hormônios no fisiculturismo (história, fisiologia e farmacologia). Editora Letras Contemporâneas: Florianópolis, Brasil, 2017. 58
Snyder PJ et al. Treatment of male hypogonadism with testosterone enanthate. J Clin Endocrinol Metab. https://www.google.com/search?q=1980;51:1335–1339. 59
Capítulo 9
- O mercado paralelo dos EAA –
Atualmente, como veremos em alguns dados mais adiante neste capítulo, quem “dá as cartas” em relação ao fornecimento de EAA e seu uso com fins estéticos é o mercado paralelo1111. Em inglês, seja em bases de dados ou em sites e livros de texto, costuma-se encontrar os termos “underground market” (mercado clandestino) e “black market” (mercado negro)2222. Muitas drogas são produzidas em laboratórios que funcionam ilegalmente (ou seja, não têm licença, não estão sujeitas à regulamentação e/ou inspeção dos órgãos de saúde), fabricando EAA que, em geral, não estão disponíveis para venda no mercado lícito (prescritas por médicos, da indústria farmacêutica, de distribuidores de medicamentos controlados, de farmácias), sendo vendidas na sua maioria a atletas e fisiculturistas profissionais e amadores3333.
Outro termo inglês muito frequente é o de “counterfeit” (falsificação), que em tempos passados (diríamos, algumas décadas) era sinônimo de clandestinidade4444. Mas isso já não é verdade hoje em dia; uma coisa é o EAA clandestino e outra é a falsificação5555. Os considerados clandestinos são uma cópia do original, como se fossem uma alternativa para o consumidor, para comprar um medicamento que seria adquirido em um mercado lícito6666. Estes, em geral, têm nomes diferentes dos medicamentos originais (da indústria farmacêutica) para não confundir e, ao buscar o reconhecimento no mercado paralelo como um produto de boa qualidade, geralmente têm a mesma dose e composição que os originais7777. A mesma premissa não se aplica aos medicamentos falsificados, cujo objetivo é o lucro, independentemente da qualidade do produto8888. Como observação, é muito difícil saber o que é clandestino no mercado paralelo e o que é falsificado9999.
O processo de fabricação de EAA utiliza matérias-primas de países com escassa regulamentação (fiscalização) do mercado, especialmente no que diz respeito à qualidade e aos processos de produção dos ingredientes10101010. Os traficantes entram nas fronteiras dos países com maior regulamentação (EUA, Europa) e entregam o material que será fabricado em unidades de venda (frascos, blísteres, ampolas, cápsulas), que costumam ser realizadas em pequenos laboratórios e com maquinaria caseira11111111. No entanto, devido à grande demanda e à rentabilidade do mercado, há denúncias de que empresas farmacêuticas são contratadas para produzir medicamentos em grande escala12121212.
A indústria farmacêutica e a medicina ocidental sempre apontam para algumas características principais das drogas que são utilizadas em seres humanos com fins terapêuticos, e entre elas está a segurança do produto13131313. O uso deve tratar as doenças e não causar mais danos, que poderiam ocorrer pela contaminação do produto por microrganismos, metais pesados, etc14141414. Assim, as drogas produzidas para uso humano só são produzidas sob garantia governamental e por empresas certificadas, que são altamente reguladas e fiscalizadas de forma rotineira15151515. As matérias-primas utilizadas provêm unicamente de fornecedores certificados, que também são inspecionados periodicamente16161616. O ambiente (local de produção) está sempre sob um estrito controle de contaminação (por exemplo, proteção pessoal, fluxo de ar positivo) e o material a ser produzido é necessariamente estéril17171717. O produto final (droga que se dirigirá ao consumidor) contém apenas o que se descreve no rótulo, qualitativa e quantitativamente, com uma margem mínima potencial de erro (próxima de zero)18181818.
Como vimos na história dos EAA, o aumento das leis de fiscalização do governo, como a Lei III sobre o controle de substâncias votada pelo Congresso dos Estados Unidos em 1990, tornou muito difícil para as empresas legais produzirem e comercializarem seus produtos originais19191919. Esta dificuldade contribuiu para o crescimento do mercado paralelo e, atualmente, estima-se que 50% das vendas de EAA nos Estados Unidos procedam de fontes clandestinas20202020.
No mercado paralelo observamos o contrário do que ocorre na indústria farmacêutica, ou seja, matérias-primas provenientes de fontes não certificadas, produzidas em um ambiente caseiro, sem esterilidade, com manipulação do produto por pessoal não capacitado, aumentando exponencialmente as possibilidades de irregularidades quantitativas e qualitativas, assim como de contaminação (metais pesados, microrganismos)21212121. Se pudéssemos comparar as drogas provenientes de um mercado paralelo com as produzidas a um alto custo e com alta tecnologia (indústria farmacêutica), ficaria muito claro que a maioria desses produtos não seria adequada para o consumo humano22222222. Mas devido à grande demanda e à rentabilidade, muitos consumidores (em busca de melhores preços, maior concentração, diversidade de medicamentos e comodidade na compra) estão neste mercado, e a maioria não tem consciência dos riscos para a saúde que um produto contaminado pode causar23232323.
Dificilmente haverá uma iniciativa (a partir de quem vende estes produtos) para realizar testes de avaliação qualitativa e quantitativa e de certificação dos produtos que são vendidos; isso ocorre (os testes), como veremos mais adiante, quando tais bens são apreendidos pela polícia ou por algum organismo regulador/fiscalização sanitária24242424.
William Llewelyn, autor do livro Anabolics, promoveu em 2007 uma análise de laboratório, em uma empresa autorizada e certificada, de 14 medicamentos adquiridos no mercado paralelo, fabricados, segundo o rótulo, por diferentes laboratórios clandestinos25252525. Nesta ocasião, foram realizados quatro testes: 1) contaminação por metais pesados (arsênico, chumbo, estanho)26262626; 2) avaliação quantitativa das doses (rótulos versus avaliadas no teste)27272727; 3) contaminantes esteroidais (componentes esteroidais distintos dos EAA, o que reflete a baixa qualidade do produto) 28282828; e 4) avaliação do veículo oleoso (se continha algum aromatizante, era uma indicação de que se tratava de óleo utilizado na cozinha, não de um produto farmacêutico)29292929.
Como resultado das avaliações realizadas, o autor assinalou que:
- 21% estava contaminado com metais pesados30303030.
- 64% tinha concentrações de EAA superiores ou inferiores a 20% das declaradas no rótulo31313131.
- 57% não passou no teste de pureza dos componentes esteroides32323232.
- 14% utilizou componentes (possivelmente óleo de cozinha) distintos dos veículos farmacêuticos oleosos33333333.
Llewelyn chegou à conclusão de que, em geral, os EAA de origem no mercado paralelo, segundo as análises realizadas, não seriam substitutos adequados dos produtos provenientes da indústria farmacêutica, devido à contaminação por metais pesados, alteração de concentração, matéria-prima de baixa qualidade e uso de veículos não farmacêuticos34343434.
Pesquisadores brasileiros (Neves D. B., 2013) da Universidade de Brasília e do Instituto de Criminalística da Polícia Federal publicaram um breve artigo de comunicação sobre a incidência da falsificação de EAA no Brasil35353535. No estudo, foram apresentados dados sobre a avaliação em laboratório dos EAA apreendidos pela Polícia Federal de https://www.google.com/search?q=2006 a 201136363636. Progressivamente, a apreensão de EAA aumentou, assim como a proporção de EAA apreendidos que foram analisados quimicamente37373737. Assim, em 2011 (último ano da apreensão), foram apreendidas 1.468 amostras, das quais se analisou 95% (1.396), e como resultado, 38,8% (570) estavam adulteradas38383838.
Quatro anos mais tarde, o mesmo autor do estudo anterior (Neves D. B., 2017) publicou um estudo similar sobre a análise dos medicamentos e suplementos apreendidos entre 2011 e 201639393939. Das 328 amostras de medicamentos apreendidas, o rótulo procedia de 17 países diferentes, com o Paraguai sendo a origem mais comum40404040. Como resultados, os autores verificaram uma taxa média global de 42% de falsificação41414141. As soluções oleosas (injetáveis) mostraram as taxas mais altas de falsificação (65,6%), com 65 delas não contendo nenhum EAA em sua composição42424242. O estudo também determinou que 28,78% dos comprimidos eram falsos 43434343, e as suspensões aquosas (injetáveis) apresentaram as taxas mais baixas de falsificação, com 12,0%44444444. Quando se somam os produtos falsificados com os “substandard” (produtos com alteração de dose), as taxas médias gerais de produtos inadequados aumentam para 53%45454545.
Em países europeus, os estudos publicados sobre a avaliação em laboratório de EAA apreendidos no mercado paralelo encontraram taxas bastante altas de adulteração (Tabela 9.1)46464646.
Tabela 9.1 – Taxa de falsificação de produtos (EAA) apreendidos após análise de laboratório provenientes do mercado paralelo.
País/Ano | Taxa de Falsificação | Autores |
---|---|---|
Alemanha (1997) | 40,0% | Musshoff F., 1997 |
Alemanha (2000) | 53,0% | Ritsch M., 2000 |
Alemanha (2008) | 48,0% | Thevis M., 2008 |
Bélgica (2012) | 35,7% | Coopman V., 2012 |
Itália (2012) | 30,0% | Pellegrini M., 2012 |
Alemanha (2014) | 50,0% | Krug O., 2014 |
Noruega (2015) | 67,0% | Hullstein I.R., 2015 |
Segundo Parkinson A.B. e cols. cite_start, 70,8% dos 500 usuários de EAA entrevistados na pesquisa obtiveram as drogas de traficantes na Internet, 24,2% de colegas ou traficantes no âmbito acadêmico, 18,8% por correio de países estrangeiros, 11,6% prescritos por médicos e 8,6% por meio de farmácias na Internet47474747. Em um estudo de Perry P.J. e cols. cite_start, que entrevistou 207 fisiculturistas que utilizam EAA, a fonte pela qual os usuários obtêm informação sobre os modos de utilização de EAA é, em ordem decrescente, através da Internet, outros usuários, revistas e, por último, os profissionais de saúde48484848.
Considerações finais:
Sempre é importante preocupar-se com o uso inadvertido das drogas, especialmente dos EAA do mercado paralelo, e os usuários têm obtido informação sobre elas de fontes pouco confiáveis, além da já relatada e frequente falta de acompanhamento sanitário49494949. As taxas de adulteração, seja apenas pela rotulagem ou por chegar a extremos de contaminação por metais pesados e microrganismos, são bastante altas, e não podem ser previstas nem garantidas apenas pela palavra dos que vendem ou pelos objetivos dos que compram para uso50505050.
Outro ponto de grande relevância para conhecer a composição inapropriada dos EAA provenientes de um mercado paralelo é que este fato incrementa a discussão sobre o que exatamente estamos vendo nos estudos científicos (especialmente os relatos de casos, estudos transversais ou de acompanhamento longitudinal dos usuários) que se referem aos efeitos adversos do uso de EAA51515151. Alguns autores (Kimergard A. e cols., 2014) já ressaltaram a relevância do tema, mas é interessante que a maioria dos desenhos de estudo (mencionados anteriormente) que foram publicados anteriormente nem sequer mencionam a fonte de aquisição de drogas dos usuários, o que, como vimos, poderia mascarar os resultados vistos nos estudos, dada a possibilidade de superdosagem e/ou contaminação tóxica52525252.
Referências
Coopman V, Cordonnier J. Counterfeit drugs and pharmaceutical preparations seized from the black market among bodybuilders. Ann Toxicol Anal. 2012;24:73-8053535353.
da Justa Neves DB, Marcheti RG, Caldas ED. Incidence of anabolic steroid counterfeiting in Brazil. Forensic Sci Int. 2013;228(1-3):e81-354545454.
Hullstein IR, Malerod-Fjeld H, Dehnes Y, Hemmersbach P. Black market products confiscated in Norway 2011-2014 compared to analytical findings in urine samples. Drug Test. Anal. 2015;7:1025-102955555555.
Kimergård A, Breindahl T, Hindersson P, McVeigh J. The composition of anabolic steroids from the illicit market is largely unknown: implications for clinical case reports. QJM. 2014;107(7):597-856565656.
Llewellyn W. Anabolics. 11th ed. Editor Molecular Nutrition, 201757575757.
Musshoff F, Daldrup T, Ritsch M. Anabolic steroids on the German black market. Arch Kriminol. 1997;199(5-6):152-858585858.
Neves DBDJ, Caldas ED. GC-MS quantitative analysis of black market pharmaceutical products containing anabolic androgenic steroids seized by the Brazilian Federal Police. Forensic Sci Int. 2017;275:272-28159595959.
Krug O, Thomas A, Walpurgis K, Piper T, Sigmund G, Schänzer W, Laussman T, Thevis M. Identification of black market products and potential doping agents in Germany 2010-2013, Eur. J. Clin. Pharmacol. 2014;70:1303-131160606060.
Parkinson AB, Evans NA. Anabolic Androgenic Steroids: A survey of 500 users. Med. Sci. Sports Exerc. https://www.google.com/search?q=2006;(38):644-65161616161.
Pellegrini M, Rotolo MC, Di Giovannadrea R, et. al. Sample toxicological analysis of anabolic androgenic steroid preparations from the black market. Ann Toxicol Anal. 2012;24:67-7262626262.
Perry PJ, Lund BC, Deninger MJ, Kutscher EC, Schneider J. Anabolic steroid use in weightlifters and bodybuilders: an internet survey of drug utilization. Clin J Sport Med. https://www.google.com/search?q=2005 Sep;15(5):326-3063636363.
Ritsch M, Musshoff F. Dangers and risks of black market anabolic steroid abuse in sports – gas chromatography-mass spectrometry analyses. Sportverletz Sportschaden. 2000;14(1):1-1164646464.
Thevis M, Schrader Y, Thomas A, Sigmund G, Geyer H, Sch nzer W. Analysis of confiscated black market drugs using chromatographic and mass spectrometric approaches. J Anal Toxicol. 2008;32(3):232-4065656565.
Capítulo 10
- Potenciais efeitos adversos do uso de EAA –
Falar dos efeitos adversos do uso de EAA é sempre bastante controverso, com muitos julgamentos e certezas feitos por leigos e profissionais, por vezes bastante viscerais nas discussões, sejam elas informais ou acadêmicas1. No entanto, devemos deixar de lado os sentimentos e convicções e guiar-nos sempre pelas boas práticas clínicas e pelas provas científicas para refutar as nossas “certezas”2. Veremos nos próximos capítulos os erros comuns da utilização de EAA, que podem precipitar efeitos adversos, mas que potencialmente poderiam ser evitados com relativa facilidade3. Também veremos a aplicação do raciocínio clínico baseado em provas, incluindo as provas da eficácia dos EAA para promover a melhora da composição corporal e da aptidão física, a extrapolação permitida das provas de estudos clínicos com um desenho e rigor metodológico adequados e sem provas de efeitos graves, as deficiências metodológicas e o desenho inadequado em muitos estudos em que se observaram efeitos adversos e, por último, a incapacidade de validade externa (extrapolação) dos estudos experimentais com diferentes modelos biológicos4.
O uso de um agente farmacológico, qualquer que seja, nunca estará 100% livre da possibilidade de um efeito adverso (inclusive grave e mortal)5. No entanto, devemos ser cautelosos ao interpretar os dados dos estudos observacionais e transversais, já que estes quase sempre têm importantes fatores de confusão (dieta inadequada, uso de múltiplos medicamentos associados, doses exageradas de EAA, tempo prolongado de uso, drogas potencialmente adulteradas se provêm de um mercado paralelo, etc.). O paracetamol, por exemplo, é frequentemente utilizado para reduzir a febre e dores musculares e é vendido sem receita6. Este agente farmacológico promove sobrecarga hepática e é considerado de hepatotoxicidade moderada-alta se ingerido em doses inadequadas7. Há uma grande diferença entre utilizar uma tablete de 500 mg sintomaticamente por 1-2 dias e tentar suicidar-se com 20 tabletes de uma só vez8. Esta droga por si só é responsável por mais de 50% dos casos de insuficiência hepática por overdose e por mais de 20% dos casos de necessidade de transplante de fígado9. A pergunta que fica é: por que não vemos campanhas como “cuidado com o paracetamol, isso pode matar” da mesma forma que vemos a fobia ao risco associada ao uso de EAA?10.
Outras drogas de uso "comum", como a Dipirona e o AAS, podem ter sido a única dose tomada pelo indivíduo que "tomou e morreu", já que estas também figuram nas estatísticas de mortes por drogas dos CDC americanos11. Em números absolutos, estas drogas "inofensivas" causam a cada ano mais danos graves à saúde e mortes do que os EAA comparativamente12. A revista The Lancet publicou um artigo de Nutt D. e cols. cite_start sobre a elaboração de uma escala para avaliar os danos causados pelo uso indevido de drogas13. Os autores observaram três fatores principais: danos físicos, capacidade de causar dependência e danos sociais14. Entre as 20 drogas listadas, os EAA têm menores taxas de dano físico, dependência e danos sociais do que muitas outras drogas ilícitas, especialmente quando comparados ao álcool e ao tabaco.
Em um estudo de revisão, os autores concluem que a capacidade dos EAA de gerar dependência é baixa e que os efeitos da interrupção do uso são leves15. Além disso, com base nos critérios de pontuação, os EAA se encontram em uma categoria de drogas de “dano relativamente baixo”16. O Projeto Diretrizes da Associação Médica Brasileira e do Conselho Federal de Medicina, em sua publicação sobre “Abuso e dependência de Anabolizantes”, apresentou a maior parte das conclusões baseadas em evidências encontradas como sendo de “Categoria D” (opinião sem avaliação crítica, baseada no consenso, estudos fisiológicos ou modelos animais)17. Em um workshop no Reino Unido, o álcool foi considerado a droga mais nociva de todas (72 pontos), à frente da heroína (55 pontos) e do crack/cocaína (54 pontos), sendo os EAA a décima quinta mais nociva das 20 avaliadas. Segundo o site dos CDC, nas estatísticas computadas entre os anos 2005-2009, o número de mortes absolutas induzidas pelo tabaco foi de 480.320 por ano, pelo álcool foi de 33.171, e todas as drogas ilícitas combinadas totalizaram 17.000 mortes18.
Pesquisadores da Universidade de São Paulo investigaram o consumo de drogas entre mais de 12.700 estudantes19. A prevalência do consumo de EAA em qualquer momento da vida foi de 3,8% (11º lugar entre 11 drogas), no último ano o consumo foi de 0,9% e no último mês, de 0,5%20. Na classificação geral, os EAA, como critério de uso nocivo, ocuparam o 11º lugar, atrás do álcool, tabaco, cocaína, maconha, inalantes, alucinógenos, ecstasy, tranquilizantes, opiáceos e anfetaminas21. Assim, dada a preocupação com a saúde da população jovem, ver políticas de “os anabolizantes matam” e não ver a mesma ênfase em “fumar e beber mata” é querer, inadvertidamente, não colocar a atenção na prevenção onde seria mais eficaz22. Recomenda-se que as políticas de saúde se orientem para as drogas com maior potencial de dano, incluindo o álcool e o tabaco, deixando as drogas de baixo dano como uma prioridade secundária23. Assim, alguns pesquisadores consideraram exagerado o alvoroço e a preocupação com os problemas médicos relacionados ao uso de EAA24.
É curioso o fato de que nunca se olha da mesma maneira quando ocorre um determinado efeito adverso para qualquer medicamento em jovens e quando ocorre exatamente o mesmo efeito adverso em um jovem que é usuário de EAA25. A causa é quase sempre atribuída a esta classe de drogas, pois se tornou uma "convenção social" de ser uma droga nociva26. Por exemplo, no caso de uma possível hepatotoxicidade induzida pelo uso de EAA, alguns autores questionam se não seria algo exagerado em artigos publicados por falta de conhecimento sobre o tema27. Na avaliação comparativa entre um grupo de fisiculturistas sem o uso de EAA, com o uso de EAA, estudantes e pacientes com hepatite, os autores viram que nos grupos que treinaram houve um aumento das transaminasas hepáticas (TGO, TGP) e da CK (creatina quinase), com a GGT (gama-glutamiltranspeptidase) dentro dos valores normais. Pelo contrário, nos pacientes com hepatite houve um aumento de TGO, TGP, GGT e bilirrubinas, mas com níveis normais de CK28. Assim, concluem que possivelmente se exagerou a noção de hepatotoxicidade dos EAA, já que o treinamento por si só pode elevar as transaminasas, e por esta razão marcadores como CK e GGT seriam a opção mais apropriada clinicamente para sua avaliação29.
Pertusi R. e cols. cite_start realizaram uma pesquisa com 84 médicos para avaliar a capacidade de diferenciar uma hepatotoxicidade resultante do uso de EAA e as alterações enzimáticas hepáticas resultantes do treinamento de força30. Como resultados, 63% dos médicos responderam “dano hepático” como diagnóstico primário (mesmo com GGT dentro da normalidade e elevação de CK por dano muscular), e 56% nem sequer mencionaram “dano muscular” como possível diagnóstico. Eles concluem que existe a crença de uma associação direta entre o uso de EAA e o dano hepático e que muitos relatos de hepatotoxicidade foram superestimados31.
Três estudos prévios de Dickerman R. D. e cols. avaliaram a função cardíaca comparativa entre usuários e não usuários de EAA32. Como resultados, os autores afirmam que o uso per se de EAA não foi capaz de proporcionar alterações clinicamente significativas na função cardíaca33. Também, Sader M. A. e outros (https://www.google.com/search?q=2001) observaram que o uso de EAA per se não se associava com anomalias significativas da estrutura e da função arterial34. Dois estudos randomizados e controlados por placebo avaliaram a influência da administração de EAA na morfologia e função cardíaca de jovens saudáveis35. Chung T. e cols. cite_start não observaram diferenças entre os EAA, nem alterações morfológicas ou hemodinâmicas no período36. O estudo de Hartgens F. e cols. cite_start também não observou diferenças estatisticamente significativas na morfologia cardíaca e na função sistólica e diastólica37.
Muitas alterações bioquímicas são consideradas "danos", no entanto, alguns pesquisadores confirmam que as possíveis alterações da pressão sanguínea, do perfil lipídico e das enzimas hepáticas são transitórias e, após um período de cessação de uso, voltam à normalidade38. No entanto, se por acaso um jovem tem um aneurisma cerebral que se rompeu quando estava na academia, possivelmente será considerado uma fatalidade, mas se for usuário de EAA, a fatalidade se converte, sem dúvida, na causa. Além disso, a qualidade das provas para a inferência de causalidade é de menor qualidade do que as provas de eficácia para melhorar a composição corporal sem efeitos adversos importantes39. Os desenhos de ensaio mais frequentes sobre danos potenciais são os relatos e séries de casos, estudos transversais e de caso-controle, todos com alto risco de viés40.
No entanto, embora os EAA não pareçam ser fármacos com grande capacidade de causar danos, isso não significa que não possam ocorrer efeitos adversos41. Qualquer droga pode causar um evento adverso, de leve a fatal42. Segundo Kersey R. D. (2012), no posicionamento da National Athletic Trainer’s Association, podem-se listar uma série de efeitos adversos como possivelmente atribuíveis ao uso inapropriado de EAA:
- Cardiovasculares: disfunção cardíaca, redução da fração de ejeção, alteração do ventrículo esquerdo43.
- Sistema Nervoso: alterações de comportamento, dependência, progressão para outras formas de dependência44.
- Hematológico: aumento do colesterol total e LDL, redução do HDL45.
- Hepático: hepatite colestática, icterícia, peliosis hepática, adenomas, carcinomas.
- Imunológico: imunossupressão, redução da maturação de linfócitos, redução da atividade das células Natural Killer, infecção sistêmica (por compartilhar agulhas)46.
- Dermatológico: acne, seborreia, estrias, hipertricose, hirsutismo, rosácea, foliculite, queloide, furunculose47.
- Endócrino: Masculino: supressão do eixo hipotálamo-hipófise-gonadal, atrofia testicular, disfunção sexual, infertilidade, ginecomastia, calvície, alteração da libido, hipertrofia prostática, câncer48. Feminino: virilização, hirsutismo, engrossamento da voz, calvície, hipertrofia do clitóris, redução dos seios, disfunção menstrual, alterações da libido49.
- Musculoesquelético: fechamento prematuro da epífise de crescimento, tendinopatias50.
- Renal: litíase renal, necrose tubular, proteinuria, glomeruloesclerose segmentar focal, câncer de células renais, tumor de Wilms51.
- Oral/facial: hipertrofia das gengivas, aumento da disfunção temporomandibular52.
Perry P. J. (2005), em uma pesquisa com 207 usuários de EAA, observou que os relatos de uso ao longo da vida, em ordem decrescente, mostravam: 35% de acne, 10% de retenção, 8% de atrofia testicular, 7% de ginecomastia, entre outros. Outra pesquisa, de Parkinson A. B. (2006), com 500 usuários, observou a presença de efeitos adversos como atrofia testicular (63,6%) e acne (63,4%)53. Graham M.R. (2008) apresentou em seu estudo de revisão diferentes efeitos fisiológicos e psicológicos mais frequentes e comunicados pelos usuários54.
Como as características dos EAA variam entre si, seria racional esperar que os possíveis efeitos adversos do abuso também fossem igualmente diferentes, segundo o padrão de uso e quem seja o usuário. Assim, os EAA que sofrem maior aromatização (estrogênio) têm mais probabilidade de produzir efeitos adversos de retenção de água e ginecomastia55. Por outro lado, os EAA que sofrem a ação da enzima 5-alfa redutase podem ter efeitos androgênicos como queda de cabelo e acne56. E, por último, os EAA 17-alfa-alquilados podem proporcionar maior hepatotoxicidade57. No estudo de Goldman A. et al., 2017, os autores reconhecem que não existem estudos controlados randomizados que avaliem os efeitos cardiovasculares dos EAA, e a informação sobre o dano cardiovascular se limita a relatos e séries de casos.
Hoffman J. R. e Ratamess N. A. (2006) destacam como pontos chave que: 1) durante muitos anos a comunidade médica descreveu uma ausência de eficácia associada a efeitos adversos graves; 2) os estudos de relatos de casos continuam a vincular o uso de EAA com infarto do miocárdio, suicídio e câncer, mas as provas que apoiam uma relação causa-efeito são deficientes; e 3) pode haver outros fatores contribuintes (dieta, predisposição genética, etc.) com um papel importante na potencialização dos efeitos adversos. Vorona E. & Nieschlag E. (2012) destacam que: 1) os efeitos adversos dependem da dose, sexo, peso, duração e combinação com outras drogas; 2) os estudos controlados são escassos, tornando difícil estabelecer uma relação causal; 3) a maioria dos efeitos dos EAA são reversíveis.
Considerações finais:
A discussão dos efeitos exclusivamente devidos aos EAA, sem confusões e vieses, é quase sempre um terreno pantanoso58. Muitos usuários não têm um padrão de dieta saudável, utilizam doses de EAA para cavalos além de múltiplos medicamentos, não fazem acompanhamento médico, e utilizam medicamentos do mercado paralelo potencialmente contaminados. Com todos estes fatores incontrolados, é imprudente afirmar uma causalidade específica derivada dos EAA59. As provas com boa exatidão na predição das causas são deficientes, no entanto, não se pode excluir que os efeitos adversos graves possam, de fato, ocorrer devido ao uso abusivo de EAA60.
Referências
[Múltiplas referências citadas no texto original de 1234 a 1266]
Capítulo 11
- Erros mais comuns do uso de EAA -
Como já foi dito anteriormente neste livro, não é possível utilizar EAA de maneira que se garanta 100% de ausência de possíveis efeitos adversos. No entanto, alguns erros de uso são facilmente identificáveis, como o uso de medicamentos do mercado paralelo, a superdosagem, o uso por tempo prolongado, a falta de acompanhamento sanitário e a polifarmácia associada aos EAA em uso. Infelizmente, existe a crença de que, continuamente, quanto maior a quantidade e o tempo de uso, melhores serão os resultados na melhora da estética corporal e do rendimento desportivo. Vimos no capítulo 4 que o uso de EAA tende a ser mais eficaz em doses moderadamente supraterapêuticas, e que o aumento contínuo das doses tende a um estancamento dos aumentos de peso e massa muscular. Além disso, há uma redução no padrão de ganhos, que tendem a ser menores à medida que o tempo do ciclo se estende para além de 8-10 semanas. De certa forma, a ciência de boa qualidade corrobora que o aumento do tempo e da dose pode ser errôneo, como demonstram os estudos com melhores desenhos metodológicos que administraram EAA em jovens saudáveis por um curto período de tempo (4-12 semanas) e com doses moderadas, observando a ausência ou menor volume e intensidade de efeitos adversos.
Em uma pesquisa realizada por meio de um questionário na Internet e publicada em 2006, traçou-se um mapa das respostas dos primeiros 500 usuários de EAA a 30 perguntas. O primeiro ponto a ser destacado é que 70,8% dos usuários adquiriram a droga de traficantes através da Internet. As aquisições através de colegas da academia, pedidos por correio do estrangeiro e compras em farmácias online representaram 24,2%, 18,8% e 8,6%, respetivamente. Apenas 11,6% dos usuários tinham os EAA em uso prescritos por um médico. Assim, por si só, o risco de efeitos adversos pela compra de medicamentos falsificados em doses sugeridas por profissionais não sanitários tende a aumentar consideravelmente.
Também neste estudo, as doses mapeadas oscilaram entre menos de 500 mg/semana e mais de 2000 mg/semana. Para chamar a atenção, apenas 4,6% dos inquiridos utilizava menos de 500 mg/semana, 35,8% utilizava 500-1000 mg/semana, 33,2% 1000-1500 mg/semana, 13,8% 1500-2000 mg/semana e 12,6% mais de 2000 mg/semana. Segundo Evans N. A. et al. (1997), com o tempo as doses utilizadas foram aumentando, já que na década de 1990 a maioria dos usuários se mantinha em doses inferiores a 500 mg/semana. Parkinson A.B. e Evans N.A. também traçaram na mesma pesquisa a duração dos ciclos, assim como o número de meses de uso de EAA por ano. Assim, os ciclos de EAA tinham uma duração entre 4 e 20 semanas (a maioria deles com mais de 12 semanas), 6,2% utilizou EAA por menos de 3 meses no ano, 48,8% de 3 a 6 meses, 45% durante 6 meses e 6% durante 52 semanas no ano.
Quanto às doses utilizadas, Eric J. et al. (2010) também realizaram uma pesquisa em 38 sites e obtiveram respostas de 518 usuários de EAA. Neste estudo, a dose semanal média nas mulheres foi de 151,3 mg (± 104,0), sendo a dose dos homens de 1188,2 (± 1077,1) e significativamente mais alta (p = 0,002) que a das mulheres.
Em um estudo de revisão de Graham M.R. et al. cite_start, publicado na revista científica Sports Medicine, foram apresentados os regimes de uso típicos de EAA por parte de principiantes e atletas experientes. Observe que há uma grande diferença de dose entre eles, além da polifarmácia associada (tabelas 11.1 e 11.2).
Tabela 11.1 – Ciclo de EAA típico (número de doses) de usuário iniciante. 1
Semana | Testosterona (mg) | Nandrolona (mg) | Metandrostenolona (mg) |
---|---|---|---|
1 | 250 | 200 | |
2 | 250 | 200 | |
3 | 250 | 200 | |
4 | 500 | 400 | 10 |
5 | 500 | 400 | 10 |
6 | 500 | 400 | 10 |
7 | 250 | 200 | |
8 | 250 | 200 |
Tabela 11.2 – Ciclo de EAA (número de doses) do campeão britânico atual. 2
IM: intramuscular (parenteral); VO: via oral; SC: subcutâneo; GH: hormona do crescimento
Semana | Testosterona IM (mg) | Boldenona IM (mg) | Trembolona IM (mg) | Metenolona VO (mg) | Oximetolona VO (mg) | GH SC (UI) | Insulina SC (UI) |
---|---|---|---|---|---|---|---|
1 | 1000 | 400 | 4 | ||||
2 | 1000 | 400 | 4 | ||||
3 | 1000 | 400 | 4 | ||||
4 | 1000 | 400 | 4 | ||||
5 | 1500 | 600 | 150 | 50 | 4 | 10 | |
6 | 1500 | 600 | 150 | 50 | 4 | 10 | |
7 | 2000 | 800 | 150 | 25 | 100 | 8 | 20 |
8 | 2000 | 800 | 150 | 25 | 100 | 8 | 20 |
9 | 1500 | 600 | 300 | 50 | 150 | 8 | 20 |
10 | 1500 | 600 | 300 | 50 | 150 | 8 | 20 |
11 | 1000 | 400 | 300 | 50 | 150 | 12 | 30 |
12 | 1000 | 400 | 300 | 50 | 150 | 12 | 30 |
Poderíamos citar numerosos exemplos do uso de doses exageradas, muito maiores que as moderadamente supraterapêuticas sugeridas pela prática ou por estudos científicos com desenho metodológico adequado. No entanto, o conceito de que quanto mais alta a dose, maior o potencial de efeito adverso, neste momento do livro, já deveria estar bastante claro. Assim, passaremos a outro ponto de ênfase que contribui para os erros no uso de EAA, que é a polifarmácia associada aos ciclos.
Evans N.A., em 1997, na pesquisa realizada com 100 usuários de EAA, encontrou que, associado ao uso, 12% tinham uso concomitante de GH, 2% de insulina e 2% de hormona tiroideia. O mesmo autor, em associação com outros pesquisadores em 2006, realizou outra pesquisa, agora com 500 usuários, e observou um aumento da polifarmácia associada ao uso de EAA, com 25% usando GH, 25% insulina e 45% hormona tiroideia. Assim, o autor assinala que: “Algumas destas drogas auxiliares são potencialmente mais daninhas que os EAA. O uso não supervisionado de insulina, diuréticos, estimulantes e tiroxina pode precipitar mais emergências”.
Ip E. J. et al. (2012) em um estudo de uma série de casos de 41 usuários de insulina observou que 56,8% dos usuários informaram episódios de hipoglicemia, e 2,9% de hipoglicemia associada ao estado de inconsciência. Em geral, a insulina, os diuréticos e os estimulantes (efedrina, anfetamina, hormonas tiroideias), se utilizados em doses erradas, podem gerar graves efeitos secundários (traumatismos ou quedas devidas à hipoglicemia, que podem levar a um coma hipoglicémico; arritmias cardíacas devidas a distúrbios hidroelectrolíticos) e até mortais.
No estudo mencionado, os autores também traçaram um mapa da grande variação das quantidades de drogas que são utilizadas como acessórios do ciclo dos EAA: 1) GH 2-32 UI/dia; Insulina: 2-60 UI/dia; Cafeína: 50-800 mg/dia; Efedrina: 25-250 mg/dia; T3/T4: 100-300 mcg/dia; Clenbuterol: 20-200 mg/dia. Cabe assinalar que algumas destas doses (por exemplo, a insulina, a GH) poderiam ser muito elevadas mesmo quando utilizadas com fins terapêuticos. No entanto, também foram traçados outros medicamentos inseridos no período do ciclo de EAA, como o Citrato de Clomifeno, o Anastrozol ou o Letrozol, o Tamoxifeno e a HCG.
Assim, a partir da observação, os autores posicionam que: “Os efeitos adversos do uso de EAA não impedem que os usuários utilizem doses elevadas. Em vez de reduzir as doses de EAA, uma prática comum é a administração conjunta de outros medicamentos para aliviar ou prevenir os efeitos adversos induzidos pelos EAA”. Em outro estudo de pesquisa, também se observou o uso concomitante de múltiplas drogas associadas ao ciclo de EAA (Citrato de Clomifeno, Anastrozol, Clenbuterol, T3, GH, Insulina, Tamoxifeno, HCG, Metformina e Finasterida). A literatura científica informa que os recursos ergogénicos (não EAA) são frequentemente utilizados em grandes quantidades (número de substâncias) e associados aos EAA, e os valores médios para os homens no Estudo de Ip E. J. et al. (2010) foram 8,9 ± 4,5, e para as mulheres 7,7 ± 3,9 substâncias associadas.
Considerações Finais:
Os principais erros do uso inadvertido de EAA são: o uso prolongado (frequentemente contínuo), em doses extremas (muito acima das “moderadamente suprafisiológicas”), com drogas de mercado paralelo (potencialmente contaminantes), o uso da polifarmácia associada e em doses altas. Muitos destes erros (e, por conseguinte, os possíveis efeitos adversos) poderiam ser evitados ou reduzidos se houvesse uma boa orientação do usuário de EAA, seja na forma de informação de qualidade em meios de grande circulação ou dada por profissionais da saúde. Por último, é muito importante que esses fatores sejam tidos em conta e examinados devidamente nos estudos em que se utilize EAA, a fim de que não haja viés nas conclusões relativas aos efeitos adversos que derivam única e exclusivamente dos EAA.
Referências
[Múltiplas referências citadas no texto original de 1312 a 1324]
Capítulo 12
- Indicações clássicas/médicas dos EAA –
Como já visto neste livro, no capítulo sobre a história dos EAA, a partir da década de 1930, com especial ênfase no pesquisador Charles Daniel Kochakian, foram propostos muitos usos potenciais dos EAA com fins terapêuticos, com base no fundamento das propriedades de retenção de nitrogênio muscular proporcionadas pela administração de testosterona. Além das propriedades de melhora da síntese de proteínas musculares, os EAA apresentam uma atividade ainda mais benéfica em situações de doença, que é sua ação como fármaco anticatabólico. Assim, muitas doenças que ocorrem com a redução ou deficiência de proteínas (seja diretamente pela redução da ingestão ou da síntese muscular, ou indiretamente pela redução da produção endógena de hormônios anabólicos), e com o aumento do catabolismo, são potencialmente melhoradas com a ação dos EAA.
Segundo Kochakian C. D. (1976), a abordagem padrão inicial para o tratamento de doenças deveria se basear na terapia específica associada à adequação nutricional, e ao adicionar os EAA, estes efeitos benéficos se somariam, em particular no que diz respeito à restauração do metabolismo das proteínas, assim como à redução da deficiência. Algumas outras propriedades terapêuticas enumeradas no Handbook of Experimental Pharmacology – Anabolic Steroids que podem ser promovidas pelos EAA são:
- Aumento da atividade osteoblástica e aumento da densidade mineral óssea;
- Aumento da eritropoiese (aumento da produção das células da linhagem vermelha do sangue) utilizada para tratamento de casos de anemia refratária;
- Aumento da fibrinólise (aumento da decomposição de fibrina, atuando como fator antitrombose);
- Ação como um hipolipemiante (redução dos níveis e melhora do perfil dos lipídios sanguíneos);
- Ação positiva como hipoglicemiante, melhorando a sensibilidade à insulina e a melhora do metabolismo da glicose;
- Ação promovendo melhora de diversos processos psíquicos, utilizadas em tratamento de depressão e algumas psicoses selecionadas;
- Outros: melhora do humor, aumento da concentração, aumento da atividade psicomotora, incremento de energia, aumento da capacidade de trabalho físico, aumento do apetite e aumento do bem-estar geral.
Historicamente, considerando os usos terapêuticos, o uso dos EAA tornou-se muito popular em vários países, não só em casos de doenças conhecidas, mas também no tratamento de queixas não específicas (vagas ou mal definidas), assim como da fadiga (cansaço) física e mental. Na publicação de Kochakian (1976), foram compilados numerosos estudos controlados e não controlados com benefícios no tratamento destas doenças:
- cirrose hepática e outras hepatopatias;
- insuficiência renal aguda;
- uremia crônica;
- doenças cardíacas;
- doenças vasculares (incluindo as vasculopatias reumáticas e ateroscleróticas);
- doenças gastrointestinais (gastrite e úlceras gástricas e duodenais, gastrectomia, enterocolite, pancreatite);
- distrofias musculares;
- tuberculose pulmonar;
- retinopatia diabética;
- baixo peso, desnutrição e caquexia, resultado de diferentes doenças;
- pós-operatório de cirurgias grandes e pequenas (gástricas, ortopédicas, cardíacas, pulmonares);
- melhora funcional em pacientes geriátricos;
- pacientes em quimioterapia para o câncer;
- luta contra os efeitos dos agentes citotóxicos.
O médico americano William Taylor compilou, em uma publicação de 2002, uma série de indicações terapêuticas racionais dos EAA, com o objetivo de melhorar o potencial anabólico quando afetado por diferentes doenças. Muitos deles, considerando que estamos falando de mais de 15 anos atrás, ainda não tinham todas as provas que foram vistas em ensaios clínicos publicados nas bases de dados científicas. No entanto, hoje em dia, muitas das razões propostas naquela época pelo médico foram confirmadas a posteriori em estudos clínicos e deveriam ser devidamente consideradas como um grande potencial adjuvante terapêutico.
Potencial ação dos EAA como adjuvante terapêutico em doenças (William Taylor):
- Sarcopenia e fragilidade
- Osteoporose induzida por corticosteroides
- Osteoporose pós-menopausa e terapia de reposição hormonal em mulheres
- Osteoporose e Andropausa masculina
- Doenças Autoimunes
- Esclerose Lateral Amiotrófica
- Fadiga crônica
- Esclerose Múltipla
- Artrite Reumatoide
- Síndrome de Sjogren
- Lúpus Eritematoso Sistêmico
- Esclerose sistêmica/múltipla
- AIDS e infecção por HIV
- Lesão térmica/Queimados
- Câncer
- Doenças cardiovasculares e reabilitação cardíaca
- Doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC)
- Acidente Vascular Encefálico
- Diabetes Mellitus
- Doença renal crônica
- Distrofias musculares e miopatias
- Lesão medular
- Doença de Alzheimer e déficit cognitivo
- Osteoartrite
- Imobilização e mudanças na gravidade clínica
- Terapia Nutricional
- Doenças dermatológicas e cura de feridas
Considerações finais:
Na medicina de hoje, muitas poderiam ser as indicações do uso de EAA de forma terapêutica, especialmente em doenças que promovem um aumento do catabolismo em suas diferentes esferas. No entanto, devido à história, especialmente a associação com escândalos de doping e como algo “proibido e danoso”, os próprios médicos atualmente têm medo de utilizar esta classe de agentes farmacológicos em seu arsenal terapêutico. As aplicações terapêuticas, realizadas de maneira detalhada, estão fora do escopo deste livro, mas serão abordadas em trabalhos posteriores, devido à importância do tema e ao seu potencial para modificar a qualidade de vida e a funcionalidade, mudando potencialmente o prognóstico de diferentes doenças.
Referências:
Kochakian CD. Anabolic-Androgenic Steroids – Handbook of Experimental Pharmacology, Springer Ed. New York, 1976.
Krüskemper HL. Anabolic Steroids, Academic Press Ed., New York and London, 1968.
Taylor WN. Anabolic Therapy in Modern Medicine, McFarland & Company, 2002.
Capítulo 13
- Medicina Clínica, baseada em evidência e os EAA -
a) Hierarquia científica
Quando entramos no estudo mais acadêmico deste controverso tema que é o uso de EAA, seja com fins terapêuticos ou estéticos e desportivos, é necessário que vejamos o tema da perspetiva de uma avaliação adequada e um juízo crítico das provas em questão. Assim, o objetivo deste capítulo, incluído propositadamente neste livro, é dar ao leitor, seja leigo ou profissional, alguma base de conhecimento para ser crítico ao ler um estudo científico, reduzindo a possibilidade de um viés na interpretação das conclusões dos autores, e também para poder questionar e pensar abertamente sobre o que foi observado e relatado, não aceitando nenhuma publicação científica como uma verdade inquestionável. Portanto, é essencial que abordemos a qualidade da evidência científica numa escala hierárquica, ou seja, quais são os melhores desenhos de estudo, incluindo vantagens e desvantagens, para o esclarecimento de uma questão particular em relação ao uso dos EAA (por exemplo, efeitos musculares, efeitos cardiovasculares, etc.). Segundo Luna-Filho B.: “O desenho de uma investigação é realizado na tentativa de responder adequadamente a uma pergunta minimizando os vícios que podem influenciar nas conclusões dos pesquisadores.”1. Na Tabela 13.1, que será examinada mais detalhadamente a seguir, resume-se a hierarquia das provas segundo os desenhos do estudo2.
Tabela 13.1 – Escala hierárquica da força da evidência científica dos desenhos de estudo. 3
FORÇA DA EVIDÊNCIA | DESENHO DO ESTUDO | ALOCAÇÃO DA AMOSTRA |
---|---|---|
MAIOR | Ensaio Clínico Aleatório | Sorteio do Investigador (SI) |
Coorte (Prospectivo) | Autodeterminação do sujeito (AS) | |
Coorte (Retrospectivo) | Autodeterminação do sujeito (AS) | |
Transversal | Conveniência do investigador (CI) | |
MENOR | Caso-controle | Conveniência do investigador (CI) |
- Ensaio Clínico:
O único desenho de pesquisa que pode evitar os fatores de confusão é o ensaio clínico que distribui aleatoriamente os sujeitos por sorteio, sendo, portanto, o desenho de estudo com maior força de evidência científica, especialmente para estabelecer a causalidade4. Neste tipo de estudo, o investigador atua no controle, na recolha de dados, no seguimento e na intervenção5. Também respeita a evolução natural do processo dinâmico entre a saúde e a doença, pois assegura que a exposição precede a aparição do resultado6. Neste tipo de estudo, calculam-se com maior precisão as medidas de risco ou de associação7. No entanto, embora seja o melhor desenho para responder sobre a causalidade, por vezes não é viável devido ao alto custo, questões éticas, e à distância da prática clínica real. - Coorte (Prospectivo):
A segunda melhor evidência da causalidade são os estudos de observação longitudinal (também chamados de coorte), que promovem um seguimento ao longo do tempo da exposição e não exposição a um determinado fator de risco, para verificar a ocorrência ou não de um determinado resultado8. Uma premissa muito importante é a certificação de que o resultado não está realmente presente antes da exposição9. As vantagens são que são bons para definir a incidência e a história natural da doença, e podem sugerir uma causalidade. As desvantagens são o custo, a duração e a dificuldade de realizar quando o resultado esperado é raro10. - Coorte (Retrospectivo):
Este estudo é semelhante ao coorte prospectivo, com a diferença de que todos os eventos já ocorreram e estão no passado. Geralmente utilizam bases de dados11. As vantagens são a rapidez, o baixo custo e a facilidade de estudar doenças com longo período de evolução. As desvantagens são a falta de controle sobre as medições, o viés de memória e a ausência de registro de fatores de confusão nos prontuários. - Transversais:
Este tipo de estudo é o que chamamos de secção transversal no tempo, ou seja, vê todos os fatores num só momento12. É amplamente utilizado para determinar a prevalência13. As vantagens são a simplicidade e o baixo custo operacional14. No entanto, este tipo de desenho não pode prever a causalidade, pois não há garantia de que a exposição preceda o resultado15. - Casos-controles:
Neste desenho de estudo, parte-se do resultado e, olhando para trás, vê-se quem esteve ou não exposto ao fator de risco investigado16. A função mais importante deste tipo de estudo é a formulação de novas hipóteses17. As vantagens são a facilidade de abordar doenças raras e o baixo custo18. No entanto, no contexto clínico, este desenho de investigação é o que tem menos força de evidência científica, estando sujeito a múltiplos vieses. - Relatos de casos/Séries de casos:
Trata-se de relatórios descritivos de um determinado resultado19. Servem principalmente para doenças emergentes20. No entanto, na maioria dos casos, não são estudos que confiram uma causalidade adequada devido a muitos fatores que podem ter contribuído para o resultado observado21. - Estudos em modelos animais:
Na ciência, a validade externa (a capacidade de os resultados de um estudo serem extrapolados para uma população além da amostra avaliada) não pode ser realizada diretamente a partir de investigação de laboratório, in vitro, animal e de cadáveres, por muito boa que seja a qualidade das provas. No caso dos EAA, muitos estudos utilizam como referência estudos em modelos não humanos, o que é um erro científico crasso22. Para a tomada de decisões clínicas, este tipo de estudo é um dos piores, porque os efeitos observados neste modelo não significam necessariamente que ocorram da mesma maneira nos humanos23.
b) Prova de conceito e princípio da complacência:
- Prova de conceito: A evidência científica gera um “conceito”, que guiará individualmente a decisão clínica, mas não cria necessariamente uma regra rígida que se aplique fielmente a todas as situações24. Quando nos deparamos com provas de boa qualidade, observamos o conceito gerado e guardamo-lo, porque influenciará mais tarde o pensamento científico25. Compreender este princípio evita dois erros muito comuns: pensar que a conclusão do estudo cria uma regra a ser reproduzida sistematicamente, e querer copiar o método de trabalho científico na prática clínica. A Medicina Baseada em Evidência (MBE) não é uma medicina copiada de um artigo, é uma decisão individualizada guiada pelo conceito provado na evidência científica26. Na tabela 13.2 apresentam-se vários estudos que demonstram a eficácia da testosterona para aumentar a força e a massa muscular27.
Tabela 13.2 – Efeitos da reposição de testosterona em homens hipogonádicos. 28
Autor/Ano | N | Duração (m) | Dose de Testosterona | Massa Magra (kg) | Força Muscular |
---|---|---|---|---|---|
Bhasin, 1997 | 19 | 10 | 100 mg/sem | + 3,3 | + 22% |
Katznelson, 1996 | 51 | 18 | 200 mg/2 sem | + 2,8 | |
Snyder, 2000 | 108 | 36 | 5 mg/dia (patch) | + 1,9 | + 10% |
Wang, 2000 | 227 | 6 | 50-100 mg/dia (gel) | + 1,7 | + 13% |
Brodsky, 1996 | 8 | 12 | 3 mg/kg/sem | + 6,1 | |
Wang, 1996 | 23 | 6 | 2,5-5 mg/dia (sublingual) | + 1,7 |
Na tabela 13.2 vimos exemplos de “prova de conceito”, ou seja, que mediante estudos de boa qualidade metodológica, o uso da testosterona foi eficaz para promover o aumento da massa e da força muscular29.
- Princípio da complacência: Este princípio apoia o uso de provas científicas indiretas, de grande qualidade metodológica, mas em que a população da amostra é diferente (embora similar)30. Isto significa que sempre se questionará a validade externa do estudo, com a pergunta frequente de se “o conceito observado no estudo pode aplicar-se ao meu paciente”31. Um paciente nunca é igual a outro e nunca é exatamente igual à média da amostra estudada32. Estima-se que cerca de 40% das provas atuais de comportamentos de saúde provêm de provas indiretas33. Observa-se que um efeito demonstrado como resultado de uma droga é homogéneo em diferentes tipos de pacientes34. Assim, existe uma grande tendência para que o fenómeno ou benefício se reproduza noutros tipos de população, exceto quando existe uma grande razão (lógica ou biológica) para que isto não aconteça35. Na Figura 13.1, ilustra-se a relação entre validade interna, externa e a extrapolação por este princípio36.
Figura 13.1 – Validade interna, externa, e extrapolação pelo princípio da complacência. 37
c) Proibido vs. controlado – adequado acompanhamento médico
Existe uma confusão de conceitos sobre a prescrição e o uso de EAA. É necessário esclarecer alguns pontos:
- O comércio de EAA que não seja realizado por farmácias e/ou distribuidores de medicamentos está proibido38.
- Quando um desportista participa em competições controladas por entidades desportivas com política antidoping, o uso de EAA é considerado ilícito39.
- A prescrição de EAA não está proibida para nenhum propósito, mas os Conselhos (Federal e Regional) consideram que a prescrição para fins não terapêuticos não é ética40.
Existe uma controvérsia sobre o acompanhamento médico de usuários de EAA41. Muitos acreditam que se deve desencorajar o uso e não fazer acompanhamento médico42. Outros opinam que o acompanhamento médico é uma oportunidade para fornecer informação e reduzir o uso indevido. O acompanhamento com exames laboratoriais pode demonstrar objetivamente os possíveis efeitos indesejáveis43. Exames recomendados incluem:
- Perfil hematológico: para avaliar a produção de glóbulos vermelhos e o coagulograma.
- Perfil glicémico: pois muitos usuários seguem dietas hipercalóricas44.
- Perfil lipídico: pois muitos EAA podem alterar os níveis de HDL45.
- Função hepática: especialmente com EAA orais46.
- Função renal: pois a excreção da maioria dos EAA é renal47.
- Eletrólitos: especialmente com o uso de diuréticos48.
- Marcadores de inflamação: como a homocisteína e a PCR49.
- Perfil hormonal: testosterona, SHBG, LH, FSH, estradiol, etc..
Exames morfológicos e funcionais também podem ser considerados:
- Cardiológicos: Ecocardiograma, teste ergométrico, MAPA/HOLTER para avaliar a adaptação cardíaca ao treino e ao uso de EAA.
- Outros exames de imagem: Ecografia do abdómen, rins e trato urinário; ecografia da próstata em usuários mais velhos; ecografia da tiroide se houver alterações clínicas; e ecografia testicular se houver queixas de redução de volume ou infertilidade.
d) Risco e causalidade dos EAA
O modelo de estudo ideal para avaliar CAUSA > CONSEQUÊNCIA seria um ensaio aleatório, controlado com placebo e de doses múltiplas com seguimento a longo prazo50. Este modelo de estudo ideal não existe na literatura científica atual51. A Figura 13.2 mostra como seria um modelo ideal para estudar o uso de EAA52. Portanto, o verdadeiro cálculo do “risco” é prejudicado53. A melhor ideia que temos no momento sobre os “riscos” associados ao uso de EAA seria dizer que é “desconhecida”54.
Figura 13.2 – Considerações sobre o modelo ideal de estudo do uso de EAA. 55
Para poder raciocinar sobre a causalidade e o uso de EAA, é válido examinar os critérios de causalidade propostos por Sir Austin Bradford Hill em 196556:
- Força de associação: Quanto mais forte a associação, maior a possibilidade de ser causa57.
- Consistência: Achados consistentes em vários estudos reforçam a hipótese58.
- Especificidade: Quando uma causa é específica de um efeito particular59.
- Temporalidade: Uma causa deve preceder o efeito60.
- Gradiente biológico: Uma curva dose-resposta reforça a possibilidade causal61.
- Plausibilidade: O efeito observado é plausível com os conhecimentos atuais62.
- Coerência: A associação não entra em conflito com os conhecimentos atuais63.
- Evidência experimental: O poder dos experimentos para avaliar a causalidade64.
- Analogia: Se uma droga causa um efeito, drogas similares podem promover os mesmos efeitos.
Seria muito interessante ter estudos com usuários de EAA durante um período prolongado, nos quais poderíamos aplicar os conceitos anteriores sobre a causalidade65. No entanto, a maioria dos estudos apresenta numerosos fatores de confusão66. No caso de relatos de casos e séries de casos, é importante fazer certas perguntas para pensar melhor numa hipótese67.
Considerações finais:
Reitera-se a importância de um conhecimento mínimo de MBE, para serem aplicados no âmbito da utilização de EAA. Temos que “ausência de evidência, não é evidência de ausência”68. Ou seja, se não há ainda um volume adequado de estudos de boa qualidade para inferir a causalidade, não há garantia de que não ocorram eventos adversos, nem se pode advogar com certeza espartana pela inexorabilidade do evento destes efeitos não desejados69. Cabe, pois, ao leitor o senso comum e o impulso para compreender mais profundamente estes conceitos, com o objetivo de “separar o joio do trigo” ao entrar na discussão de um tema tão controverso70.
Referências
[Múltiplas referências citadas no texto original de 1559 a 1603]
Capítulo 14
- Posições das entidades sanitárias sobre a utilização de EAA -
Como vimos no capítulo da história dos EAA, a partir da progressiva difusão dos usos não terapêuticos, em população sã, com fins estéticos e de rendimento desportivo, ocorreu também uma progressiva luta contra o uso por parte das entidades desportivas e de saúde. Assim, ao longo deste capítulo, veremos algumas posições de entidades médicas e desportivas e o seu grau de evidência científica. Como já foi explicado noutro capítulo sobre a hierarquia das provas científicas, caberá ao leitor aplicar os conceitos da medicina baseada em evidência no momento do juízo crítico das posições apresentadas.
1) Posição do uso de andrógenos e de hormona de crescimento humano. (Hoffman JR, Kraemer WJ, Bhasin S, et al. Position Stand on Androgen and Human Growth Hormone Use. J Strength Cond Res. 2009;23(5):S1-S59).
Esta foi uma posição que não se baseou numa revisão sistemática da literatura científica, com a subsequente avaliação e juízo crítico dos estudos encontrados1. Assim, é uma posição que se baseou (leia-se “referenciada”) em artigos científicos, mas não se sabe se os artigos assinalados traduzem uma avaliação geral da totalidade e da qualidade das provas científicas2. Aqui ficam alguns extratos que se referem ao uso de andrógenos (tema de interesse neste livro):
- A administração de andrógenos nos homens aumenta a massa corporal (peso), a massa muscular e a força voluntária de maneira dependente da dose3.
- O limite de concentração para o efeito de performance continua a ser desconhecido4.
- A administração combinada de andrógenos e o treino de resistência nos homens está associada a um maior aumento da massa magra, do volume corporal e da máxima força voluntária do que quando se compara com cada intervenção separadamente5.
- A terapia com testosterona (TRT) está aprovada para o tratamento do hipogonadismo em homens adolescentes e adultos6.
- No entanto, foram estudadas as aplicações dos andrógenos e dos moduladores seletivos dos recetores androgénicos (SARM) para as limitações funcionais do envelhecimento e algumas doenças crónicas7.
- A magnitude e a frequência dos efeitos adversos entre os usuários de andrógenos ainda não foram estudadas sistematicamente8.
- Os possíveis efeitos adversos incluem: supressão do eixo HHG; alterações de humor e de comportamento; aumento do risco de doenças cardiovasculares; disfunção hepática com andrógenos orais; resistência à insulina; intolerância à glucose; acne; ginecomastia; e abstinência de interrupção.
- Além disso, a polifarmácia de muitos consumidores de andrógenos (drogas acessórias e psicoativas) pode gerar por si mesma graves efeitos adversos9.
- Os efeitos adversos da administração de andrógenos nas mulheres são semelhantes aos observados nos homens10.
- Além disso, as mulheres que usam andrógenos podem experimentar efeitos virilizantes, como o aumento do clitóris, o engrossamento da voz, o hirsutismo e as alterações nos hábitos corporais11. Estas alterações podem não ser reversíveis com a cessação do uso12.
- Em crianças pré-púberes e peri-púberes, o uso de andrógenos pode levar à virilização e ao fecho prematuro da epífise do crescimento ósseo, o que resulta numa baixa estatura13.
- Desde 1990, o uso de andrógenos com fins não terapêuticos é ilegal nos Estados Unidos14.
- Os andrógenos estão classificados como drogas de classe III15.
- Levar qualquer substância de classe III nos Estados Unidos é punível com fiança, tempo de prisão ou ambos16.
- A prescrição de andrógenos para o aumento do rendimento desportivo também é punível17.
- Deve ser feito um esforço contínuo para educar os atletas, os treinadores, os pais, os médicos e o público em geral sobre o uso e o abuso de andrógenos18.
- Os programas educativos devem focar-se nos riscos médicos potenciais deste uso de recursos ergogénicos, otimizando os programas de treino e as estratégias nutricionais para aumentar as adaptações fisiológicas e o rendimento19.
- Além disso, educar os treinadores na seleção de objetivos e expectativas realistas para os seus atletas ajudará a reduzir a pressão de procurar recursos ergogénicos para ajudar e potencialmente identificar os usuários destes recursos20.
- A NSCA (National Strength and Conditioning Association) apoia e promove o patrocínio específico adicional de programas educativos eficazes, a documentação dos efeitos adversos agudos e crónicos do uso de andrógenos, estratégias para otimizar o rendimento desportivo através do treino e da nutrição, estratégias para interromper o uso e estratégias para detetar o abuso.
2) Posição da Associação Nacional de Treinadores Desportivos sobre EAA. (Kersey RD, Elliot Dl, Goldberg L, et al. National Athletic Trainer’s Association Position Statement: Anabolic-Androgenic Steroids. Journal of Athletic Training. 2012;47(5):567-588).
Esta foi uma posição melhor preparada que a apresentada no ponto 1, acima, porque avaliou criticamente os estudos assinalados como referência científica que deram base a cada recomendação, feita (abaixo) em graus (A, B e C)21. No entanto, tal como a posição anterior, não apresentava uma busca sistemática da literatura científica, pelo que se desconhece se o que se apresenta como recomendação reflete realmente as conclusões que seriam coerentes com todas as provas publicadas até agora nas bases de dados científicas.
Categorias de Evidência
- A – Recomendação baseada em provas consistentes, orientada para o paciente e de boa qualidade22.
- B – Recomendação baseada em provas, inconsistente, orientada para o paciente ou de qualidade limitada23.
- C – Recomendação baseada no consenso, na prática habitual, na opinião, na doença orientada para a evidência24.
a) Ciência Básica:
- Os profissionais de saúde e os educadores devem saber que os EAA são substâncias sintéticas relacionadas com a hormona masculina testosterona25. (Evidência A)
- Os EUA classificam muitos EAA como drogas controladas de classe III26. (Evidência A)
- A indústria farmacêutica e os laboratórios clandestinos podem desenvolver diversos EAA para maximizar os efeitos anabólicos, minimizar os efeitos androgénicos, melhorar a farmacocinética, aumentar a afinidade com o recetor e, em alguns casos, evitar a sua deteção27. (Evidência A)
- Os profissionais de saúde e os educadores devem saber que os mecanismos de ação dos EAA são complexos e variáveis28. (Evidência C)
- Os EAA parecem promover a síntese de proteínas através do aumento da transcrição, enquanto também atuam como antagonistas dos glucocorticoides, reduzindo o catabolismo29. (Evidência C)
- Os EAA induzem várias ações psicotrópicas potencialmente ergogénicas que alteram a neuroquímica do cérebro, podem estimular GH e IGF-1, assim como promover a baixa da miostatina30. (Evidência C)
b) Uso terapêutico de EAA e abuso não terapêutico:
- Os profissionais de saúde devem reconhecer as possíveis indicações dos EAA, que incluem: a terapia para o hipogonadismo, algumas anemias raras, o anticatabolismo para síndromes de perda, e a manutenção da saúde óssea31. (Evidência C)
- Embora se sugira que os EAA podem atuar como “antienvelhecimento”, as provas são questionáveis32. (Evidência C)
- O abuso de EAA tem como objetivo melhorar o rendimento, o desenvolvimento muscular e a imagem corporal33. (Evidência C)
- Os homens abusam mais dos EAA que as mulheres34. (Evidência C)
- Aqueles que utilizam os EAA por razões não terapêuticas, em geral não participam em desportos estruturados35. (Evidência C)
- O uso não médico dos EAA começa na adolescência36. (Evidência C)
- Os usuários de EAA conseguem-nos de diversas fontes, incluindo “designer steroids”, de uso veterinário e do mercado paralelo37. (Evidência B)
- As falsificações de EAA são comuns e impulsionam a preocupação por problemas de qualidade: impurezas, contaminantes, etiquetas inadequadas38. (Evidência B)
- As doses utilizadas no abuso são muito mais altas que as terapias de reposição39. (Evidência B)
- Os usuários frequentemente fazem “stacking” com múltiplos EAA40. (Evidência B)
- O abuso de EAA ocorre geralmente em ciclos repetidos de 6 a 12 semanas41. (Evidência B)
c) Eficácia dos EAA:
- Existem restrições quanto às provas de alta qualidade para determinar a eficiência e os efeitos adversos dos EAA42. (Evidência C)
- As questões éticas não permitem a investigação de doses extremas43. (Evidência C)
- A eficácia dos EAA como agentes anabólicos sugere uma relação dose-dependente para o aumento da massa magra44. (Evidência A)
- Estas substâncias podem atuar geralmente como recursos ergogénicos quando se utilizam medidas de força e potência relacionadas com o rendimento desportivo45. (Evidência A)
d) Abuso de EAA e efeitos na saúde:
- Doses suprafisiológicas de EAA podem estar ocasionalmente associadas a síndromes maníacos e hipomaníacos46. (Evidência B)
- Os episódios de depressão maior podem estar associados com a cessação do uso47. (Evidência B)
- Os usuários de EAA podem desenvolver um síndrome de adição48. (Evidência B)
- Os efeitos cardiovasculares dos EAA continuam a não estar claros49. As melhores evidências indicam que as manifestações incluem a cardiomiopatia e a possibilidade de doença aterosclerótica. (Evidência B)
- Embora pouco frequentes, as afeções hepáticas como a icterícia colestática podem ocorrer com o abuso de EAA oral 17-alfa-alquilado50. (Evidência A)
- O abuso dos EAA inibe o eixo HHG 51, afeta a função tiroideia e a tolerância à glicose52. (Evidência B)
- Afeta o sistema reprodutivo masculino e feminino com múltiplos efeitos adversos, muitos dos quais permanentes nas mulheres. (Evidência B)
- Em esqueletos imaturos, pode proporcionar um fecho epifisário prematuro53. Outros efeitos podem incluir tendinopatias54. (Evidência C)
- Pode existir um possível efeito imunossupressor e risco de infeções. (Evidência B)
- O abuso pode levar a diversas afeções dermatológicas, renais e orais. (Evidência C)
e) Prevenção e abuso de EAA:
- Não está claro se os programas de teste de drogas detêm o abuso de maneira significativa55. (Evidência C)
- Programas de educação bem desenhados podem reduzir eficazmente o abuso em adolescentes56. (Evidência C)
f) Identificação do abuso de EAA e intervenção:
- É vital manter um diálogo aberto, honesto e baseado em provas com todas as partes interessadas57. (Evidência C)
3) Projeto Diretrizes – Associação Médica Brasileira: “Abuso e Dependência de Anabolizantes”.
Esta diretriz foi elaborada segundo a estratégia PICO, com busca na base de dados MEDLINE58. As recomendações foram graduadas em A, B, C e D. No entanto, não foi apresentado o diagrama de fluxo da seleção de artigos59.
- a) Existem indicações clínicas para a prescrição de EAA? Recomendação: “O uso clínico de anabolizantes está indicado no hipogonadismo, cancros e osteoporose.” (Evidência Categoria D).
- b) Quais são os tipos de usuários de EAA? Recomendação: “O uso ilegal dá-se entre atletas em busca de bom rendimento e em não atletas preocupados com a estética, todos vulneráveis a graves consequências.” (Evidência Categoria D).
- c) Quais são os danos de utilizar EAA não prescritos? Recomendação: “O uso indiscriminado de EAA provoca graves complicações como a supressão da espermatogénese, a ginecomastia, a virilização e a mortalidade precoce, principalmente por causas cardiovasculares.” (Evidência Categoria D).
- d) Qual é a prevalência da dependência? Recomendação: “Entre 1% e 3% dos homens jovens dos países ocidentais utilizaram EAA em algum momento da sua vida.” (Evidência Categoria D).
- e) Quais são os sinais e sintomas em situações de intoxicação/abuso? Recomendação: “Perante o abuso de EAA, podem ocorrer eventos cardiovasculares, mas devem investigar-se outras complicações.” (Evidência Categoria D).
- f) Pode ocorrer dependência de EAA? Recomendação: “A dependência de EAA tem um curso semelhante ao de outras drogas, (…) e o seu tratamento é sintomático.” (Evidência Categoria D).
- g) Quais são as complicações mais graves? Recomendação: “As principais complicações são os transtornos de humor, os atos violentos e o uso de outras drogas, que requerem tratamento imediato.” (Evidência Categoria B).
- h) Como tratar a dependência de EAA? Recomendação: “Há poucos estudos sobre o tratamento (…), mas deve focar-se no alívio dos sintomas de abstinência e complicações.” (Evidência Categoria D).
Em 2013, o Conselho Federal de Medicina emitiu um parecer sobre a prescrição de hormonas para o aumento da massa muscular em atletas60. Embora o parecer afirme “consultar diversos trabalhos e conteúdos científicos”, não apresenta nenhuma referência científica61. Conclui que não existe evidência científica para o seu uso e que a sua prescrição e administração não são eticamente aceites.
Considerações Finais:
Ao longo desta obra, observa-se que os EAA são um método eficaz para aumentar a massa muscular e o rendimento desportivo62. Isto também é corroborado pelas categorias de melhor evidência científica nas posições apresentadas63. Realizaram-se vários estudos com jovens saudáveis, publicados em grandes bases de dados científicas, com boa qualidade metodológica, que demonstram a eficácia e a relativa segurança a curto prazo, num ambiente controlado, do uso de EAA64. A avaliação crítica da literatura científica, como a realizada no Projeto Diretrizes da AMB, assinala um baixo grau de evidência em vários aspetos, a maioria com provas de categoria D65. No entanto, só porque os estudos relatam efeitos adversos de baixa qualidade, não devemos dizer que não pode haver efeitos adversos do uso crónico de EAA, de leves a severos66. O que deve ser desencorajado é certamente o uso de drogas do mercado paralelo, em grandes quantidades, com polifarmácia associada, sem qualquer tipo de seguimento clínico e de laboratório, que são fatores que costumam estar presentes em muitos estudos publicados, o que promove o consequente viés na interpretação das conclusões dos verdadeiros efeitos específicos (exclusivos) do uso crónico dos EAA.